domingo, 19 de abril de 2020

ARTIGO - A falta é de utopia ou esperança? (Padre Carlos)




A falta é de utopia ou esperança? 



Já faz algum tempo que venho pensando sobre minha caminhada como militante e a crise das utopias que se abateu nos últimos trinta anos sobre estas gerações. Assim, venho me perguntando para entender, qual a verdadeira função do sonho no inconsciente do jovem e qual a importância que estas utopias interferem e terminam exercendo em nossas vidas? 

Somos motivados e movidos por eles e, assim, caminhamos de acordo com o que pensamos ser necessário para realizá-los. Pois, por exemplo, foi com o sonho de tornar este país em uma grande nação que nós dedicamos os melhores anos da nossa juventude.  A militância se tornava cada vez mais prazerosa à medida em que trazíamos na memória um projeto de um mundo melhor para nossos filhos.  Mesmo aqueles de nós que hoje admitem não ter sonhado tanto assim, são de alguma forma, em alguma luta no movimento social, conduzidos por desejos internos que influenciaram suas escolhas. E é sobre esse ponto que quero falar hoje. 
O sonho deu lugar a primazia do indivíduo sobre o coletivo, do desperdício sobre o comedimento, do desejo carnal sobre o do espírito, do ter sobre o ser, do insulto sobre o respeito, enfim, o eu sobre todos, tornou-se a regra central da vida, pela qual as pessoas hoje se guiam. 
Não posso aceitar que este fenômeno carregue em suas presas tudo que lutei e sonhei um dia. Me entristece ao ver a liberdade, a vontade, o desejo, o prazer, tudo em nível individual, são os deuses comilões que estão no altar das mentes a serem incessantemente servidos. 
A ignorância oprime a sabedoria, a força supera o direito, a feiura enterra a beleza, a violência alavanca o terror, o demônio vence a deus. Por todos os lados ouvem-se gritos dos que ordenam e lamentos dos que obedecem, por todos os lugares as maldades eclodem satisfazendo os injustos, por todos os momentos os honestos e inocentes se apequenam pelo medo, cumplicidade do silêncio ou impotência de reagirem. 
A cada instante o estado de direito é ameaçado, as conquistas do passado são apagadas, o presente é esquecido, o futuro é descartado. A saga de um povo é esquecida, a vida é jogada, o amanhã é incerto. O descompromisso é permanente, o trabalho é temporário, o resultado é indiferente. A riqueza é exaltada, a pobreza é condenada. O rico é bajulado, o pobre é espezinhado. O projeto de morte é enaltecido e o velho militante é desprezado. O pensamento democrático é violado, a crença que fazemos parte de um todo é desrespeitada, a fé é questionada, a amizade é ultrajada e o amor é traído. 


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