Já faz algum tempo que venho pensando sobre minha caminhada como militante e a crise das utopias que se abateu nos últimos trinta anos sobre estas gerações. Assim, venho me perguntando para entender, qual a verdadeira função do sonho no inconsciente do jovem e qual a importância que estas utopias interferem e terminam exercendo em nossas vidas?
O sonho deu lugar a primazia do indivíduo sobre o coletivo, do desperdício sobre o comedimento, do desejo carnal sobre o do espírito, do ter sobre o ser, do insulto sobre o respeito, enfim, o eu sobre todos, tornou-se a regra central da vida, pela qual as pessoas hoje se guiam.
Não posso aceitar que este fenômeno carregue em suas presas tudo que lutei e sonhei um dia. Me entristece ao ver a liberdade, a vontade, o desejo, o prazer, tudo em nível individual, são os deuses comilões que estão no altar das mentes a serem incessantemente servidos.
A ignorância oprime a sabedoria, a força supera o direito, a feiura enterra a beleza, a violência alavanca o terror, o demônio vence a deus. Por todos os lados ouvem-se gritos dos que ordenam e lamentos dos que obedecem, por todos os lugares as maldades eclodem satisfazendo os injustos, por todos os momentos os honestos e inocentes se apequenam pelo medo, cumplicidade do silêncio ou impotência de reagirem.
A cada instante o estado de direito é ameaçado, as conquistas do passado são apagadas, o presente é esquecido, o futuro é descartado. A saga de um povo é esquecida, a vida é jogada, o amanhã é incerto. O descompromisso é permanente, o trabalho é temporário, o resultado é indiferente. A riqueza é exaltada, a pobreza é condenada. O rico é bajulado, o pobre é espezinhado. O projeto de morte é enaltecido e o velho militante é desprezado. O pensamento democrático é violado, a crença que fazemos parte de um todo é desrespeitada, a fé é questionada, a amizade é ultrajada e o amor é traído.
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