sexta-feira, 20 de agosto de 2021

ARTIGO - A Geração 68 e Dom. Timóteo (Padre Carlos)

 

“Uma coisa é certa: o homem não morre de todo, onde assistiu e amou.”

 

 


Memorial é resgatar a memória é lembrar um determinado dia é fazer com que nós não esqueçamos jamais desta data. Assim, quando tomei conhecimento da homenagem prestada a Dom. Timóteo, pelas entidades: Coordenadoria de Serviço Ecumênico, Geração 68 e Tortura Nunca, que celebraram a passagem dos 53 anos do episódio quando Presidente do Diretório Central da UFBA foi abrigado, juntamente com outros 30 estudantes, pelo recém eleito Abade Dom Timóteo no Mosteiro de São Bento, em setembro de 1968, após uma passeata contra a Ditadura Militar.


Quando avaliamos a trajetória deste monge, passamos a entender que DEUS permite que pessoas especiais entrem em nossas vidas não simplesmente por acaso, mas por amor a nós. ELE sabia que naqueles jovens naquele momento precisava de acolhimento, não de oração, mas de anjos.

Seu abaciado coincidiu com a fase mais aguda da história do Brasil, quando o país se viu mergulhado numa ditadura que utilizou instrumentos discricionários para impor-se por vinte e um anos, de 1964 a 1985. Em um cenário de repressão e medo, a sociedade civil enfrentou severas restrições em sua liberdade de expressão e submergiu a toda sorte de arbítrio, com prisões, torturas e mortes, além do cerceamento de suas representações democráticas. Foi sob o manto sombrio do autoritarismo que figuras de proa como Dom Timóteo exerceram papel essencial, tanto na denúncia dos crimes praticados pelo regime de opressão, quanto no fortalecimento dos grupos de resistência que confrontaram a situação adversa. Ao utilizar seu espaço de poder e seu ministério para intervir no cotidiano dos acontecimentos, ele escreveu uma página muito particular que influenciou não apenas a luta política, mas também a vida cultural e religiosa da capital baiana. Foi um líder espiritual que se distinguiu ainda pela abertura ao ecumenismo e ao diálogo com sacerdotes de religiões afrodescendentes e judaicas, entre outros aspectos que sedimentaram o pioneirismo e a importância de uma teologia que podemos vivenciar hoje.


Todos nós somos frutos de vivências e partilhas. Assim, minha trajetória de vida tem muito haver com aqueles anos que pude como funcionário daquela casa conviver com este Pai espiritual. Ele continua inspirado não apenas a mim, mas a tantos outros através da sua obra e de seu exemplo, na tarefa de lutar por um país democrático, tolerante aos que professam crenças diferentes, e imbuídos na obstinação pela busca da fraternidade e da justiça.

 

 

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