Uma
Reflexão sobre uma Geração Engajada
Sou de uma geração em que as ideias e as
palavras tinham um peso significativo. Para muitos de nós, elas eram mais do
que meros conceitos abstratos, eram a base para tomarmos decisões, traçarmos
nosso caminho e enfrentarmos os riscos e consequências que vinham junto com
essas escolhas.
Não estou me referindo apenas às duras
consequências impostas pela repressão da ditadura fascista que governou nosso
país, mas também aos caminhos que cada um de nós decidiu trilhar
posteriormente, cientes dos desfechos e limitações que essas opções poderiam
acarretar.
As palavras dos companheiros do partido que
almejavam mudar o mundo, as ideias de líderes políticos nacionais e
estrangeiros que buscavam essa mesma mudança, todas elas tinham um significado
prático para aqueles que as ouviam. Acreditávamos nelas, meditávamos sobre seus
ensinamentos e procurávamos agir de acordo com o que aprendíamos.
Qualquer manifestação de um novo
pensamento, seja político, social, filosófico ou moral, exigia dos
intelectuais, pertencentes a partidos clandestinos ou correntes independentes,
uma postura pública engajada. Era necessário "dar testemunho", ou
seja, agir de acordo com os ideais que defendíamos.
Todas as ideias novas, todas as palavras de
ordem, independentemente de serem expressas de forma aberta, escondida ou
clandestina, demandavam uma atitude intelectualmente crítica e uma
predisposição para a ação. Aqueles que acolhiam ou rejeitavam essas ideias
sentiam-se envolvidos por elas, acreditando que, com razão ou sem ela, poderiam
contribuir para mudar o destino da humanidade.
No entanto, os tempos mudaram e a forma
como as ideias e as palavras são recebidas e interpretadas também se
transformou. Hoje em dia, parece que vivemos em uma era de polarização, onde
não há espaço para a reflexão profunda e o diálogo construtivo. As ideias e as
palavras são frequentemente distorcidas, manipuladas e usadas como armas para
fortalecer uma determinada agenda política.
Apesar disso, acredito que ainda há
esperança. Ainda existem pessoas dispostas a ouvir, refletir e agir de acordo
com o que acreditam ser justo e transformador. O desafio é encontrar maneiras
de resgatar o valor das ideias e das palavras, de cultivar um ambiente propício
para o debate saudável e a busca por soluções coletivas.
Sou grato por ter vivido em uma época em
que as ideias e as palavras eram levadas a sério. Podemos aprender com essa
experiência e buscar resgatar a importância do pensamento crítico, da reflexão
profunda e da ação consciente. Afinal, é por meio das ideias e das palavras que
construímos o mundo ao nosso redor e moldamos o futuro que desejamos para nós e
para as gerações que virão.
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