quinta-feira, 12 de outubro de 2023

ARTIGO - Amaralina: Entre Fazendas e Resistência (Padre Carlos)

 

A noite emprestou as estrelas
Bordadas de prata
E as águas de Amaralina
Eram gotas de luar

 


Amaralina, um nome que ecoa através dos tempos, traz consigo as memórias de uma terra moldada por proprietários poderosos, especialmente José Álvares do Amaral. No entanto, o que hoje conhecemos como Amaralina não era mais do que uma extensa fazenda, estendendo-se desde o Rio Vermelho até a boca do Rio, uma vasta propriedade que pertenceu a um único homem, um descendente do Conde da Castanheira, o visconde do Rio Vermelho, batizado como Manuel Inácio da Cunha Menezes.


Foi nos registros do inventário e na partilha dos bens do visconde do Rio Vermelho que os diversos bairros e divisões da área começaram a tomar forma, incluindo a Pituba, adquirida no início do século por Joventino Silva e seu cunhado Manuel Dias da Silva. No entanto, nosso foco permanece em Amaralina, onde, em tempos idos, existia uma vibrante colônia de pescadores.

A vida em Amaralina era intricadamente ligada à pesca, especialmente a pesca de xaréu. As águas próximas à costa eram abundantes nessas criaturas majestosas, sustentando comunidades inteiras com seu precioso recurso. O local que agora é ocupado pelo Quartel de Amaralina foi uma vez o lar desses pescadores destemidos. Mas Amaralina não era apenas um cenário idílico de pesca e fazendas; era também um lugar de resistência.

Durante os anos sombrios da ditadura, o Quartel de Amaralina foi transformado em prisão para aqueles que se opunham ao regime. Presos políticos foram detidos ali, enfrentando a dura realidade da repressão. No entanto, mesmo nas sombras da opressão, a comunidade de Amaralina permaneceu resiliente.

A casa que abrigava a sede da colônia foi demolida mas a capela que era parte integrante da vida dos pescadores foi conservada e se localiza na entrada do quartel, durante muitos anos foi para aqueles pescadores  um santuário de esperança.

As décadas passaram, e Amaralina evoluiu. As fazendas deram lugar a bairros, as terras foram divididas e vendidas, mas a essência de Amaralina permanece. Hoje, enquanto caminhamos pelas ruas movimentadas deste bairro, devemos lembrar-nos das histórias entrelaçadas de fazendeiros poderosos, pescadores destemidos e ativistas corajosos. Amaralina, cujo nome é uma homenagem aos seus antigos proprietários, é também um testemunho da resiliência humana, uma narrativa viva de luta e esperança que perdura através dos séculos.

 


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