segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Populismo e Justiça: Uma Análise Profunda

 


A justiça e o risco do populismo

 


A ascensão do populismo tem sido uma das grandes preocupações do debate político contemporâneo. Muito se discute sobre as causas socioeconômicas e culturais que alimentam esse fenômeno. No entanto, há uma dimensão pouco explorada e que merece atenção: a relação entre justiça e populismo.

Recentemente, tive a oportunidade de acompanhar um caso judicial que me fez refletir profundamente sobre essa conexão. Tratava-se de um processo contra um ex-dirigente político que havia cometido irregularidades graves durante seu mandato. A comoção popular em torno desse julgamento foi imensa devido a forma como as grandes corporações midiática trabalharam estas questões. Milhares de pessoas se mobilizaram para pressionar o Judiciário a condená-lo exemplarmente.

O que mais me chamou atenção, porém, não foi o anseio por justiça. Foi o ódio visceral contra o réu e o desejo exacerbado de vingança que vi estampado nos rostos da multidão. Não havia ali um apelo à imparcialidade ou ao devido processo legal. Havia uma sede primal de punição a qualquer custo.

Nesse contexto, até mesmo juízes probos e técnicos podem se ver tentados a saciar a ira popular com uma sentença draconiana. Mesmo agindo estritamente dentro da lei, um magistrado pode acabar legitimando, ainda que inadvertidamente, anseios populistas e mesmo autoritários.

É preciso ter claro que o papel da Justiça não é punir para vingar, mas punir para restaurar a ordem democrática ferida pelo crime. Seus ritos e garantias não existem para proteger criminosos, e sim para proteger a sociedade do arbítrio e da sede irrefreada de vingança.

Caso contrário, corre-se o risco de a Justiça se converter em um instrumento de manipulação das massas, reforçando pulsos autoritários em nome de uma pseudojustiça popular. Por isso, é fundamental preservar a independência judicial e resistir a qualquer pressão externa, por mais tentadora que possa parecer.

A Justiça não pode ser populista. Sua missão é ser cega, imparcial e tecnicamente irrepreensível. Só assim poderá cumprir seu papel de defender verdadeiramente os valores democráticos e o Estado de Direito.


Padre Carlos

 


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