domingo, 6 de março de 2022

ARTIGO - A cultura do outro, precisa ser vista como fonte de riqueza e não como subtração. (Padre Carlos)

 


A cultura do outro, precisa ser vista como fonte de riqueza e não como subtração.

 

 


 

Quando Bira Mota pediu que falasse o que penso das religiões de matriz africana, não me dei conta que este assunto era mais vasto que uma pobre e pequena explicação sobre tolerância religiosa ou respeito pela cultura do outro. Ela transcende o nosso ser e a nossa forma de ver o outro e o mundo que queremos.

Para falar deste tema, será necessário chamar a atenção da subalternidade que a cultura católica no nosso continente tentou impor as outras culturas e diante disso, entendo que seria necessário colocar no papel algumas questões.

O dialogo inter-religioso tem chamado à atenção da igreja nos últimos anos e sempre que se fala em religião/religiões me vem à mente as palavras do teólogo Hans Küng: “Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões”. Não haverá paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões. Como disse Dom Zanoni: “O mundo em que vivemos é eminentemente plural, diverso, rico de experiências e povos, plural nos âmbitos sociocultural, eclesial e religioso”. Por isto, precisamos combater este tipo de visão hierarquizada que muitas vezes vem acompanhada de uma relação xenófoba e preconceituosa. Esta voz no seio da igreja tem permitido a criação de um vaso comunicante entre as religiões de matriz africana e a América católica do colonizador.

O fato novo, é que agora é a autoridade da Igreja que não aceita mais a política do ser menos contra estes irmãos e para que isto aconteça, é fundamental que estas relações sejam desierarquizadas para que possa descristalizar estas crosta que se formaram ao longo da nossa história e que ainda está muito presente no imaginário desta sociedade e de um cristianismo concervador católico e protestante.

O objetivo do teólogo é chamar a atenção da igreja para que deixe de existir uma falsa concepção de maior e menor ou de digno e não digno. Para vencer estes preconceitos, será necessário ir ao encontro destas culturas de forma desarmada e com a mente aberto no sentido de acolher e conhecer e vivenciar o sagrado que está também no outro, mesmo sabendo que se trata de culturas heterogenias. Só assim, poderemos nos enriquecer com as diferenças e estas, não podem ser vistas como subtração, mas como potencialização das culturas.

Estamos agindo de forma semelhante aos intelectuais e teólogos do século passado, achamos que somos avançados porque somos tolerantes com as outras culturas. Alguns se acham progressistas por ir além e respeitar estas manifestações culturais, mas jamais admitiram mesclar e vivenciar ou compartilhar com o irmão para sentir e entender o sagrado dele. Como disse o Pequeno Príncipe: “As pessoas que se conhecem, levam um pouco das pessoas que ficam”. A cultura do outro, precisa ser vista como fonte de riqueza e não como subtração.

Eu vejo o encontro de Dom Timóteo com Menininha do Gantois como uma referencia para este simbolismo de ir além da tolerância e do respeito para comungar com o irmão e vivenciar com ele a sua fé.

 


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