A cultura do outro, precisa ser vista como
fonte de riqueza e não como subtração.
Quando Bira Mota pediu que falasse o que
penso das religiões de matriz africana, não me dei conta que este assunto era mais vasto que uma
pobre e pequena explicação sobre tolerância religiosa ou respeito pela cultura
do outro. Ela transcende o nosso ser e a nossa forma de ver o outro e o mundo
que queremos.
Para
falar deste tema, será necessário chamar a atenção da subalternidade que a
cultura católica no nosso continente tentou impor as outras culturas e diante
disso, entendo que seria necessário colocar no papel algumas questões.
O dialogo inter-religioso tem chamado à
atenção da igreja nos últimos anos e sempre
que se fala em religião/religiões me vem à mente as palavras do teólogo Hans
Küng: “Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões”. Não haverá
paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões. Como
disse Dom Zanoni: “O mundo em que
vivemos é eminentemente plural, diverso, rico de experiências e povos, plural
nos âmbitos sociocultural, eclesial e religioso”. Por isto, precisamos combater
este tipo de visão hierarquizada que muitas vezes vem acompanhada de uma
relação xenófoba e preconceituosa. Esta voz no seio da igreja tem permitido a
criação de um vaso comunicante entre as religiões de matriz africana e a
América católica do colonizador.
O fato novo, é que agora é a autoridade da
Igreja que não aceita mais a política do ser menos contra estes irmãos e para
que isto aconteça, é fundamental que estas relações sejam desierarquizadas para
que possa descristalizar estas crosta que se formaram ao longo da nossa
história e que ainda está muito presente no imaginário desta sociedade e de um
cristianismo concervador católico e protestante.
O objetivo do teólogo é chamar a atenção da
igreja para que deixe de existir uma falsa concepção de maior e menor ou de
digno e não digno. Para vencer estes preconceitos, será necessário ir ao
encontro destas culturas de forma desarmada e com a mente aberto no sentido de
acolher e conhecer e vivenciar o sagrado que está também no outro, mesmo
sabendo que se trata de culturas heterogenias. Só assim, poderemos nos
enriquecer com as diferenças e estas, não podem ser vistas como subtração, mas
como potencialização das culturas.
Estamos agindo de forma semelhante aos intelectuais
e teólogos do século passado, achamos que somos avançados porque somos
tolerantes com as outras culturas. Alguns se acham progressistas por ir além e
respeitar estas manifestações culturais, mas jamais admitiram mesclar e
vivenciar ou compartilhar com o irmão para sentir e entender o sagrado dele. Como
disse o Pequeno Príncipe: “As pessoas que se conhecem, levam um pouco das
pessoas que ficam”. A cultura do outro, precisa ser vista como fonte de riqueza
e não como subtração.
Eu vejo o encontro de Dom Timóteo com Menininha do
Gantois como uma referencia para este simbolismo de ir além da tolerância e do respeito
para comungar com o irmão e vivenciar com ele a sua fé.
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