“Partiu
um daqueles homens a quem a morte não devia alcança.”
Hoje
completa um ano que a esquerda brasileira, o Partido Comunista do Brasil, e o
povo brasileiro perderam um dos seus mais consequentes e abnegados lutadores.
Por isto, peço licença aos camaradas do PCdoB, para prestar esta homenagem ao
velho líder comunista. Acredito que a maior homenagem que poderíamos fazer a
Haroldo Lima, é prosseguir a luta que ele vinha travando contra o
fascismo até os últimos dias de vida, sempre com confiança no futuro, pelos
interesses e direitos dos trabalhadores, por uma sociedade de liberdade e
democracia. Mas além desta perda, colhemos ao longo destes anos várias
perdas.
Decorridos tantos anos do fim da ditadura,
observa-se que a geração da utopia está partindo, como disse Emiliano com toda
sua genialidade e carinho para perda de outro companheiro, faço destas palavras
para toda uma geração que está partindo: “Partiu um daqueles homens a quem a
morte não devia alcançar. Um homem bom. Um revolucionário.” Assim ao completar
um ano da partida do companheiro Haroldo Lima e a morte de Zanetti no início
deste mês, me chamaram a atenção para este doloroso fato: a geração que fez a
diferença está partindo. Minha dor está em constatar que além da perda a certeza
que esta nova moçada não está sendo capaz de produzir novas narrativas
utópicas. Somos todos prisioneiros do presente e das suas dinâmicas.
A música do compositor cearense poderia
servir, perfeitamente, como o nosso pano de fundo para analisar o percurso da
geração que lutou contra o regime militar e numa viagem no tempo, fazer esta
travessia do passado para o presente.
Como resgatar a nossas lembranças como
seria uma abordagem junguiana da nossa memória coletiva e histórica,
através do retrato de uma geração da qual fizeram parte muitos dos líderes
estudantil e operário, de uma juventude forjada no movimento político.
A geração da utopia era constituída por
estudantes de uma elite e da classe média que se encontravam nas metrópoles,
muitos dos quais vivendo em residências estudantil e apesar da militância não
traduzir na verdade um rompimento de classe lutavam por democracia e todas as
bandeiras que levaram ao fim do regime. Eram jovens promissores que pretendia
através da profissão que assumiria fazer a diferença, mesmo fazendo parte da
elite local. No entanto, parte desta geração tinha ambições de natureza sociopolítica
completamente diferente da sua classe e foi este universo coletivo, que
incorporado aos novos movimentos operário, passaram a fazer parte de uma nova
narrativa para o país. Assim, fizeram dos seus sonhos uma utopia política.
Estes jovens, já tinham mergulhado em lutas que não eram a via democráticas e
aprenderam da forma mais cruel e dolorosa que a democracia era a via
transformadora.
A
construção de uma esquerda, o movimento sindical e popular, a luta pelas
diretas e o fim da ditadura, tiveram o papel de carregar, este lastro utópico,
no sentido de um país mais justo e livre para todos os brasileiros.
Decorridos
tantos anos do fim do regime militar, observa-se que essa mesma geração da
utopia está deixando a arena depois de combater o bom combate e os novos
quadros da esquerda, não estão sendo capaz de produzir novas narrativas
utópicas. Dando, sim, lugar a uma geração sem compromisso com seu passado,
perdendo, deste modo, um referencial de luta e protesto, uma motivação para o
enfrentamento com os regimes.
Diante
disto, podemos considerar que a maior tragédia da geração atual é receber uma
realidade presente sem espaço para utopias, porque as necessidades materiais
imediatas passaram a determinar as nossas ações presentes.
Em suma, o discurso presente, marcado por uma visão sustentada por um tom
utópico, é descrito como sendo irrealista e fora da realidade concreta. Ou
seja, deixou de se alimentar uma possibilidade de futuro utópico porque somos
todos prisioneiros do presente e das suas dinâmicas. Concluindo, as utopias que
nortearam nossas ações são lembranças destes jovens que se despedem do
picadeiro da vida e esperam que tenhamos força para dar continuidade as suas
lutas.
Padre
Carlos
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