sábado, 26 de dezembro de 2020

ARTIGO - Consumo e a falta de fé escondem o Presépio (Padre Carlos)

 

Consumo e a falta de fé escondem o Presépio

 


Uma das coisas que chamou minha atenção nos últimos dias foi à constatação que nossa sociedade de consumo, sabe bem celebrar o Natal e tem uma capacidade de retirar ou esconder tudo aquilo que possa prejudicar ou tirar o brilho da “festa” por isto, escondem o Presépio. Como um Deus nascido na extrema pobreza na periferia de Belém pode incomodar tanto as pessoas? Acredito que é uma forma de esquecer que somos responsável por tudo isto, que preferimos a árvore de Natal e as luzes da praça Tancredo Neves ou da Olívia Flores, que agora iluminam nossas ruas, praças e edifícios, não escapando desta camuflagem, nem o Cristo de Mario Cravo.


Substituímos o Menino Jesus por outros símbolos para não ofender os nãos crentes ou os fiéis evangélicos. Ou seja: para afastar nossa religião do espaço público, abrimos alas aos valores do capitalismo, que alguns dizem combater, e acabamos nos deixando dominar pelo poder da publicidade e do consumismo. Substituímos o discurso da pobreza e da simplicidade que exala do Presépio, pelas luzes, pelas bolas e pelos presentes. O Papai Noel promove essas narrativas, as quais são bem mais alienantes do que a fé cristã.

É neste contexto, e talvez por causa dele, que o Papa Francisco  publicou uma carta apostólica em que explica a riqueza simbólica do Presépio. Fez para "apoiar a tradição bonita das nossas famílias prepararem o Presépio, nos dias que antecedem o Natal, e também o costume de armarem nos hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças...".

Encontramos a génese do Presépio no Evangelho de S. Lucas, relembra o Papa. Tendo Maria completado o tempo da gravidez, "teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria" (2,7). O Presépio recebe o nome da palavra latina "praesepium", que significa manjedoura.

O Papa recorda que o primeiro Presépio foi encenado com figurantes vivos, no ano de 1223, por S. Francisco, numa gruta perto da cidade italiana de Greccio. Além de explicar os elementos do Presépio, o Papa dá uma devida atenção à mensagem de pobreza que ele transmite. "Desde a sua origem franciscana, o Presépio é um convite a "sentir", a "tocar" a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento".


Promover o Presépio, hoje, mesmo em espaços públicos, contribui para lembrarmos de outros valores que estão silenciados, ofuscados pelo brilho das luzes e pelos apelos ao consumo. "Do Presépio, com meiga força, Jesus proclama o apelo à partilha com os últimos, como estrada para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém seja excluído e marginalizado", afirma o Papa.

 

Padre Carlos

 

 

 

 

 

 

 

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