terça-feira, 29 de dezembro de 2020

ARTIGO - O Jesus da filosofia a teologia (Padre Carlos)

 

 

O Jesus da filosofia a teologia



 

Uma das  Frases emblemáticas do início do século XX,  que  mais animaram o debate teológico, foi sem dúvida nenhuma: “Jesus anunciou a vinda do Reino de Deus, mas o que veio foi a Igreja”. “Seja como for, não há figura histórica mais estudada (outro dia o especialista em cristianismo primitivo, que é agnóstico, Antônio Piñero lembrava que continua sendo publicadas anualmente centenas de livros sobre este assunto)”.


O que há neste Homem, nascido há mais de dois mil anos, para arrastar multidões e ser uma referência determinante para a Humanidade? Segundo o ateu Ernst Bloch, Jesus agiu como um Homem "puro e simplesmente bom, algo que ainda não tinha acontecido", e Umberto Eco, que se dizia agnóstico, escreveu que, se fosse um viajante proveniente de galáxias longínquas, ao encontrar-se frente a uma Humanidade que soube propor o modelo de Cristo, com o amor universal, o perdão dos inimigos, a vida oferecida em holocausto pela salvação dos outros, "consideraria esta espécie miserável e infame, que cometeu tantos horrores, redimida pelo simples fato de ter conseguido desejar e crer que tudo isto é a Verdade".

O filosofo português Eduardo Lourenço, recentemente falecido, disse: "Não há nada superior a Jesus." Até Nietzsche reconheceu, no seu O Anticristo, que no fundo só houve um cristão, mas esse morreu na cruz, e acrescentou: "Só uma vida como a daquele que morreu na cruz é cristã.”.

Foi morto como subversivo, como um ativista político. Todos os seres humanos têm a igualdade e dignidade como forma inviolável, porque o cristianismo levou este conceito de cidadão do infinito, não só para o ocidente, mas como conceito universal: já não há judeu, nem grego, nem Homem, nem mulher, nem branco, nem negro, nem adulto, nem criança, nem livre, nem escravo, nem religioso, nem ateu. Rebelde e livre, Jesus não prestou culto nem a César nem ao Dinheiro, e o Deus a quem chamou de Pai com ternura, terminou escandalizando o antigo mundo (também pode ser tratado por Mãe, devido sua face amorosa) pelo fato de não quer sacrifícios, mas misericórdia, e não se adora nem em Jerusalém nem em Guerizim, mas em espírito e verdade. A sua Boa Nova é o Reino de Deus, um Reino de irmãos e companheiros.


A história das revoluções que têm Jesus na sua base está ainda para ser escrita. A maior revolução feita por Cristo e seus seguidores, foi à nova ideia de Deus. As elites do seu tempo queria um Deus-Poder que justificasse o seu poderio de mando e subordinação. Mas o Deus de Jesus não se confunde com o Poder da dominação, Ele é omnipotente, não no sentido de dominar, mas como Força infinita de criar e promover. Por isso, Ele não veio em poder e glória, mas humilde, revelou-se num rosto de criança, que chora que ri que se pode tocar. Um Deus que não está longe, mas próximo dos homens e das mulheres, dos jovens e das crianças, um Deus bom, amigo, amável e misericordioso para todos.

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