quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

ARTIGO - Nosso Deus não tem máscara (Padre Carlos)

 


  Nosso Deus não tem máscara

 


Outro dia uma jovem me parou na rua: "Padre Carlos não se lembra de mim? O senhor até me batizou..." E eu: "Puxa um pouquinho a máscara", e ela puxou. "Como você cresceu!"


Se alguém falasse há algum tempo atrás, que um dia haveríamos todos de andar de máscara, eu não acreditaria! Eu sei que havia e ainda há muita gente mascarada, mas estas máscaras são outras... Agora, foi imposto o uso da máscara para todos, por causa da gente e dos outros: para que todos fiquem protegidos, ao mesmo tempo não ficamos protegidos, porque ficamos sem a presença dos outros. Como faz falta está cara a cara, falar cara a cara, tocarmo-nos, sorrir, rir, está com os sentidos todos alerta na presença viva dos outros. Passámos a vida toda dizendo para nossos filhos: "Dá um beijo no vovô, um beijo na vovó, um beijo na titia...”.

Agora, de repente, é tudo ao contrário, como se os outros fossem inimigos, pois até viramos as costas... Apertávamos as mãos, porque apertar as mãos é um gesto de encontro da paz: as mãos livres de armas vão ao encontro do outro, sem medo. Antes desta pandemia, abraçávamos o irmão nas celebrações ou no dia-a-dia com alegria pelo reencontro ou chorando pelo luto ou antecipando a saudade pela despedida. Agora, não pode haver mais proximidade, o tal protocolo manda que mantemos certa distância, uns dos outros. Mas o que eu espero mesmo, no fundo do meu coração é que seja só a distância física, espero que a outra - a espiritual, a afetiva - se mantenha próxima e aprofunde cada vez mais.

Foi preciso uma pandemia para tornar a afirmação de Sartre inválida: "O inferno são os outros." No entanto descobrimos que na verdade é o contrário: a falta dos outros na minha vida é que é o inferno, a solidão é um inferno neste confinamento.

        


Não é só, mas também, pela ausência ou pela perda das quase 200 mil mortes que passamos a tomar consciência do valor das coisas e das pessoas na nossa vida. Vocês não sabem a falta que fazem na minha rotina! Só quando alguém morre é que percebemos a importância e o valor dessa pessoa na nossa existência e a falta que nos faz o Natal, o Réveillon que diziam que já estaríamos no novo normal! Mas essa falta também pode e deve ser uma oportunidade para iniciar com um ano melhor, mais verdadeiro, mais autêntico, mais íntimo, mais solidário. Afinal, buscamos na correria própria destas festas, das compras e esquecemos o verdadeiro e essencial!

E o que é o essencial? Talvez já tivéssemos esquecido, mas o Natal é, antes de qualquer coisa, a celebração deste acontecimento determinante da história: o nascimento de Jesus.

Que o espírito do Natal e do Ano Novo, ilumine a humanidade, mas que não esqueçamos que o amor é o verbo divino.



 


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