domingo, 20 de fevereiro de 2022

ARTIGO - Nossa cultura do medo e as eleições (Padre Carlos)

 

Nossa cultura do medo e as eleições

 


 

Não é preciso ser filósofo, psicanalista ou historiador para saber que o “Medo” sempre teve um papel importante na história da humanidade. 

Ao contrário do que se pensa o medo sempre desempenhou um papel fundamental no inconsciente coletivo e diante disso tem sua importância no controle das nossas emoções. Ele sempre foi essencial para a sobrevivência do homem e da evolução da humanidade, pois levou-nos em momentos decisivos a evitar desafios que eram insuperáveis ou mesmo a fugir deles com a certeza e intenção da preservação da nossa espécie.

Mesmo assim, não podemos esquecer que o medo pede proteção, cria dependência, reforça o isolamento, afasta do “outro”, do “diferente”, gera tribalismo e violência, numa palavra afeta a nossa saúde mental, fazendo libertar núcleos psicóticos controlados ou adormecidos.

Foi sempre assim: quantos crimes e horrores se sustentaram no medo paranoico do inexistente como: comunismo, fascismo ou capitalismo, quantas vezes reciprocamente instrumentalizadas para horrores por Estados Totalitários. O que isto demonstra é que quem sabe manipular o medo, quem não tem escrúpulos em fazê-lo, quem acha que vale a pena arriscar, pode condicionar e até dominar os outros.

Diante disso, tenho chegado à conclusão que o medo pode ter sido o elemento determinante na ascensão do extremismo de direita aqui no Brasil, como se demonstrou ao longo da eleição há quatro anos. Em concreto, estou preocupado com a proliferação das condições que este fenômeno se propagou, condicionando e, manipulando nosso consciente ou inconsciente explorando assim o nosso medo, com finalidades condenáveis ou ao menos não saudáveis.

Quando em 2002 o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em sua primeira entrevista depois de confirmada a sua eleição, disse que o Brasil está mudando como país e, "mais importante, a esperança venceu o medo e hoje eu posso dizer para vocês que o Brasil mudou sem medo de ser feliz", ele buscava desconstruir todo o medo que as elites e o mercado financeiro construíram ao longo da campanha.

Os perigos, reais, que podemos ver no bolsonarismo e no lavajatismo tem muito haver com a defesa do estado democrático e para isto, precisamos resistir à propaganda paranoica do medo. Não podemos aceitar uma imprensa que busca a cada dia, injetar pânico atrás de pânico, como se fosse um partido político. 

Hoje entendo as palavras do presidente há vinte anos: “Quero agradecer a alguns companheiros que sem vocês eu não teria sido o "Lulinha paz e amor" dessa campanha".

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