segunda-feira, 18 de maio de 2020

ARTIGO - Um missionário jesuíta (Padre Carlos)




Um missionário jesuíta 




Uma das qualidades do Papa que vem incomodando alguns conservadores em Roma e fora dela, é a popularidade cada vez maior que ele e seu pontificado vem conquistando. Eu diria que proporcionalmente o Papa Francisco é tão popular fora da Igreja como dentro dela, o que é um grande elogio ao seu papel, que é também esse: falar para o mundo e não apenas governar os católicos. Ser uma voz que anuncia, que testemunha, de forma profética, e o Papa Francisco é muito eficaz nisso.

Ele é um excelente comunicador com as palavras e gestos, assim como João Paulo II também era. Todos nos lembramos de como conseguia arrastar multidões onde quer que fosse. Quando o Papa Francisco sai nas ruas vazias de Roma, tomada pelo covid 19, não se trata de um espetáculo midiático para trazer mais pessoas à Igreja, como um partido político ou um clube de futebol, que promove campanhas de angariação de sócios ou filiados, mas sobretudo de ser fiel àquilo que se tem de anunciar, de dar testemunho, de alertar, de ser cristão.
Essa qualidade mais pastoral corresponde à tradição jesuítica: educação, identidade e sentimento de pertencimento em uma história, de caráter pedagógica e de maior proximidade com as populações, vem encantando o mundo e trazendo em seu espírito as sementes de mudança que a comunidade de fé vem ousando sonhar desde o início da modernidade.
Quando Francisco chamou pra sí os princípios da Companhia de Jesus, ele resgata toda a sua formação intelectual e espiritual, no modo de encarar a sua missão apostólica, embora alguns achassem que, como arcebispo de Buenos Aires, já não desse sinais desta origem. Para mim, este comportamento é natural se tratando de um membro da Companhia. Uma vez jesuíta, sempre jesuíta, assim não me surpreendeu que, já depois de Papa, Francisco tenha reivindicado essa identidade inaciana. Na verdade, todos somos condicionados pela nossa formação de base, na qual desenvolvemos a linguagem e a mística para olhar o mundo, além disto, temos que somar a personalidade própria e a história pessoal de cada um.

Não podemos esquecer, que Francisco vem enfrentando algumas forças ocultas que tentam ressuscitar a cristandade em sua versão mais perversa. Assim como Inácio de Loiola teve um papel fundamental na consolidação da contra reforma e de abrir as portas da Igreja para o mundo novo, seu pontificado tem a responsabilidade histórica de não deixar que a Igreja esqueça que ela é sacramento da misericórdia de Deus no mundo, em todos os tempos e para a humanidade inteira. Portanto, cada cristão está sendo chamado a ser testemunha da misericórdia, e isto acontece no caminho da santidade. Pensemos em quantos santos se tornaram misericordiosos porque deixaram que seus corações se enchessem de misericórdia divina. Neste florescer de tantas formas de caridade é possível enxergar os reflexos da face misericordiosa de Cristo neste pontificado.


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