A
América Latina volta a ser de esquerda
Entre
tantas incertezas vividas nos últimos meses, criadas pela pandemia do covid-19 e
a crise econômica, a América Latina, parece despertar de um longo pesadelo e
fica cada vez mais evidente que a onda conservadora esta dissipando e o
continente não está mais dando uma guinada à direita.
O que podemos afirmar, é que na região, movimentos de
esquerda, marcaram a última década, que começou com o que ficou conhecido como
"maré rosa", com a eleição de partidos progressistas em quase todo o
subcontinente.
Com a eleição do político de esquerda Andrés Manuel
López Obrador no México, em julho de 2018, as forças de esquerda começaram a se
levantar contra as reformas liberais e as perdas de direitos. Desta forma, a
região começava a dar uma nova guinada a esquerda no continente.
A região se despede de 2020 sem um rumo político único
e com uma instabilidade crescente, envolvida em manifestações populares, contrárias
aos projetos econômicos liberais e as perdas de direitos trabalhistas.
As
eleições que aconteceram em 2019 e 2020 na região têm revelado a ressaca conservadora
e a grande decepção dos povos latino-americanos com os projetos que a direita
vem executando e assim, o que se constata é uma grande decepção do eleitorado
com os partidos tradicionalista. O humor anti-governo marcou as eleições mais
recentes na Argentina, por exemplo, em
vez de reelegerem o conservador Mauricio Macri, preferiram conduzir o peronismo
ao poder — optaram pela chapa que reunia Alberto Fernández e a ex-presidente
Cristina Kirchner como vice.
Na Bolívia, um
ano após o golpe contra Evo Morales, os bolivianos voltaram às urnas no dia 18
e elegeram Luis Arce, do Movimento ao Socialismo, em primeiro turno, Já
no Chile, presidido pelo conservador Sebastián Piñera, o povo foi às ruas e aprovaram
a criação de uma Convenção Constitucional, composta totalmente por membros
eleitos para redação da nova Carta Magna, contra uma minoria que defendia uma
Comissão Mista Constitucional.
Essa ideia de que bastaria colocar a direita no poder na América Latina
e os problemas estruturais estariam resolvidos não funciona mais. Um fator fundamental para o aumento do mal-estar social na América
Latina estaria além das promessas que as reformais liberais traria uma onda de
desenvolvimento, a desaceleração (ou em
alguns casos estagnação) econômica em boa parte dos países a partir
de 2014, com o fim do ciclo de boom das commodities que marcou os anos 2000,
foi fundamental. A primeira reação a ela, em
diversos países, foi à troca de governos de esquerda por outros de direita — o que,
na maioria dos casos, não se traduziu em recuperação da atividade.
A realidade se choca com a expectativa de milhões de
latino-americanos que viram desaparecer seu sonho de consolidar sua ascensão à
classe média, um sonho que hoje parece distante para muitos. São as mesmas expectativas que levaram um
candidato de esquerda como López Obrador a assumirem em 2018 o comando de uma
das maiores democracias da região: o México.
O
grande desafio da esquerda na América Latina hoje é encontrar um modelo de
desenvolvimento que contemple, além do crescimento econômico, o bem-estar
social.
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