segunda-feira, 26 de outubro de 2020

ARTIGO - A América Latina volta a ser de esquerda (Padre Carlos)

 


A América Latina volta a ser de esquerda




 

Entre tantas incertezas vividas nos últimos meses, criadas pela pandemia do covid-19 e a crise econômica, a América Latina, parece despertar de um longo pesadelo e fica cada vez mais evidente que a onda conservadora esta dissipando e o continente não está mais dando uma guinada à direita.

O que podemos afirmar, é que na região, movimentos de esquerda, marcaram a última década, que começou com o que ficou conhecido como "maré rosa", com a eleição de partidos progressistas em quase todo o subcontinente.


Anos depois, a tendência se inverteu: candidatos mais à direita ascenderam ao poder em países como Argentina, Chile, Colômbia, Peru e Brasil. Já na Bolívia foi dado um golpe e na Venezuela, buscou dividir o exercito e criaram uma pressão para que o governo legitimamente eleito renunciasse.

Com a eleição do político de esquerda Andrés Manuel López Obrador no México, em julho de 2018, as forças de esquerda começaram a se levantar contra as reformas liberais e as perdas de direitos. Desta forma, a região começava a dar uma nova guinada a esquerda no continente.

A região se despede de 2020 sem um rumo político único e com uma instabilidade crescente, envolvida em manifestações populares, contrárias aos projetos econômicos liberais e as perdas de direitos trabalhistas.

As eleições que aconteceram em 2019 e 2020 na região têm revelado a ressaca conservadora e a grande decepção dos povos latino-americanos com os projetos que a direita vem executando e assim, o que se constata é uma grande decepção do eleitorado com os partidos tradicionalista. O humor anti-governo marcou as eleições mais recentes  na Argentina, por exemplo, em vez de reelegerem o conservador Mauricio Macri, preferiram conduzir o peronismo ao poder — optaram pela chapa que reunia Alberto Fernández e a ex-presidente Cristina Kirchner como vice.

         Na Bolívia, um ano após o golpe contra Evo Morales, os bolivianos voltaram às urnas no dia 18 e elegeram Luis Arce, do Movimento ao Socialismo, em primeiro turno, Já no Chile, presidido pelo conservador Sebastián Piñera, o povo foi às ruas e aprovaram a criação de uma Convenção Constitucional, composta totalmente por membros eleitos para redação da nova Carta Magna, contra uma minoria que defendia uma Comissão Mista Constitucional.

Essa ideia de que bastaria colocar a direita no poder na América Latina e os problemas estruturais estariam resolvidos não funciona mais. Um fator fundamental para o aumento do mal-estar social na América Latina estaria além das promessas que as reformais liberais traria uma onda de desenvolvimento, a desaceleração (ou em alguns casos estagnação) econômica em boa parte dos países a partir de 2014, com o fim do ciclo de boom das commodities que marcou os anos 2000, foi fundamental. A primeira reação a ela, em diversos países, foi à troca de governos de esquerda por outros de direita — o que, na maioria dos casos, não se traduziu em recuperação da atividade.


À questão econômica se soma uma série de problemas ainda não resolvidos na América Latina, como a desigualdade, a violência e a corrupção, que contribuem para aumentar a insatisfação popular em relação aos políticos que estão no poder e às elites políticas de forma geral.

A realidade se choca com a expectativa de milhões de latino-americanos que viram desaparecer seu sonho de consolidar sua ascensão à classe média, um sonho que hoje parece distante para muitos.  São as mesmas expectativas que levaram um candidato de esquerda como López Obrador a assumirem em 2018 o comando de uma das maiores democracias da região: o México.

         O grande desafio da esquerda na América Latina hoje é encontrar um modelo de desenvolvimento que contemple, além do crescimento econômico, o bem-estar social.

 

 


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