Os nossos oponentes não são nossos inimigos
A crise
econômica no Brasil tem se aprofundado, os problemas sociais não diminuíram, as
dificuldades orçamentais aumentam a cada dia e o povo assiste a tudo isto e não
sabe a quem recorrer. Estamos num dos momentos em que um país vira a página ou
coloca em risco todo o pacto federativo.
É natural
que, mais tarde ou mais cedo, estas autoridades venham pedir novos sacrifícios
da sociedade. Mas, para que possamos aceitar, é necessário que eles tenham
sentidos, sejam justos e equitativamente repartidos entre os setores que compõe
a sociedade civil. E seja explicado por que são necessários e que efeitos
podemos espera que produzam.
Um dos mais
graves erros de Bolsonaro e Paulo Guedes foi o de confundir a febre orçamental
com a doença da economia e terem receitado terapias que pouco baixaram a febre
e não mexeram minimamente nas raízes da doença. Mas a solução não pode ser a da
desistência de combater a doença e a febre.
Por isto,
acredito que um pacto social não pode ser encarado como o resultado concreto de
um acórdão específico, mas a vontade de todas as forças políticas que
representam a sociedade em geral. E para que isto aconteça de fato, elas
precisam assumir compromissos e celebrar isto de forma que o que está no papel
será cumprido pelas partes. Assim, não acredito que exista empresários ou
trabalhadores que não queira recolocar o país no caminho do desenvolvimento.
Tenho uma visão otimista. Por uma razão
fundamental: quem tinha 25 anos quando através do colégio eleitoral, derrotamos
a ditadura, não poderia conceber que passados estes trinta e poucos anos
pudéssemos chegar aonde chegamos. O que era a mortalidade infantil, a
incapacidade de saber ler e escrever, a pobreza generalizada ... A minha visão
é sempre completada com um olhar para de onde viemos, para onde estamos indo e
como precisamos avançar. Sim, para o salto que se deu! Eu pertenço a uma das
últimas gerações do antes da democratização, as outras já estão partindo, e
isso dá uma perspectiva grande e um redobrado otimismo
Num artigo publicado, no Washington
Post, em Dezembro de 2018, Bill Clinton referiu-se, nos
seguintes termos, a George Bush, falecido poucos dias antes, e que tinha
derrotado nas eleições de 1992: “Tendo em conta aquilo que a política aparenta
hoje ser, na América e à volta do mundo, é fácil suspirar e dizer que G. H. W.
Bush pertencia a uma era que acabou e que nunca regressará – em que os nossos
oponentes não são nossos inimigos, em que estamos abertos a idéias diferentes
para mudar aquilo que pensamos e que os fatos importam e que a nossa dedicação
ao futuro dos nossos filhos nos obrigam formar compromissos honestos,
duradouros e a um progresso de garantias partilhadas de direitos e deveres,
para que possamos construir o pacto nacional. Sei que muitos diriam: que
absurdo. É dever dos políticos trazem essa América de volta”.
Se substituirmos América por Brasil, tenho a
convicção profunda de que essas palavras podem também aplicar, na íntegra, ao
momento em que vive o país.
Da esquerda à direita, dos empresários ao mundo da cultura, do cidadão
comum aos mais altos responsáveis dos poderes da nossa República, podemos
afirmar que o Brasil precisa passar por um pacto. E quando falo estas coisas,
não me refiro ao processo eleitoral que mais parecem com um plebiscito e termina
deixando mais dividido ainda o nosso país. Como disse Rousseau, o verdadeiro pacto
social consistente reside no fato dos cidadãos sendo ao mesmo tempo súditos e
soberanos, obedecem às leis que eles mesmos estabeleceram entre si. O Brasil precisa se encontrar com suas fases de súditos e soberanos,
para se encontrar na história.
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