terça-feira, 10 de setembro de 2019

ARTIGO - O preço da democracia. (Padre Carlos)




O preço da democracia.


            Concluído o processo eleitoral, interno no Partido dos Trabalhadores restaram duas realidades: de um lado, a vitória com sua glória e, de outro lado, não uma derrota, mais um gesto heroico de um grupo que buscou na oxigenação do partido, demostrar que a realidade não é cinza, mas, colorida e o partido vai além do preto e do branco para democracia interna. Só perde uma eleição quem não tem coragem de se apresentar como um soldado do partido e Noeci Salgado demostrou toda coragem do mundo para disputar esta eleição, mesmo sabendo que a correlações de forças eram desfavoráveis para ele e seu grupo.  É sempre assim, após os embates, não importa a natureza deles. No entanto, o ser humano há que entender que isto é parte da vida e que deve aceitar pacificamente o resultado, qualquer que seja ele. A vida é luta constante, com altos e baixos, com avanços e recuos, com alegria e tristeza.
   
         Quando paramos para pensar, terminamos transcendendo algumas certezas que consagramos como certa. Conversando com um amigo sobre o resultado do PED e da forma de democracia interna que existe no partido, ele olhou para mim e respondeu: “Quando vocês defenderam o financiamento público de campanha, afirmaram que a decisão de criar um instrumento público de financiamento de campanha seria um marco histórico para a democracia brasileira, uma bandeira histórica do PT e a espinha dorsal de qualquer proposta séria de reforma política. Não podemos esquecer que é a medida essencial para diminuirmos a influência do poder econômico nas eleições. Será que estamos superando o atual quadro de assimetrias existentes nas disputas eleitorais e democratizando o acesso dos nossos filiados à representação partidária. Para que haja democracia no Brasil o discurso é este e para que haja democracia dentro do PT, qual o mecanismo?” Confesso a vocês que naquela hora fiquei calado.
            O processo democrático do partido não pode ser interrompido, temos o dever de avançar e propor toda e qualquer forma que proporcione cada vez mais a democracia interna.

            Voltando a questão do PED, queremos parabenizar a chapa “Renovar o PT. Resgatar nossos sonhos!”, formada por Isaac Bonfim e apoiada pelos deputados Zé Raimundo e Waldenor Pereira, tinha como foco a renovação do partido e aprofundamento do diálogo com a juventude. Esperamos que a nova direção possa garantir a unidade e integrar todas as correntes, seus militante e lideranças no projeto político do partido.
            O que dá alegria é a realização dos desejos, o que produz a tristeza é a sua não realização. Militamos num partido democrático, onde o que prevalece é a decisão da maioria. Diante disto, a minoria vai ajudar ao conjunto colocar em prática este projeto. Alegria para a maioria, responsabilidade e mãos estendidas para a minoria. Mas, isto não significa o fim. A vida permanece, a luta continua, os desejos se multiplicam, as mudanças acontecem, as tristezas se mudam em alegrias e as alegrias em tristezas.
          Se levarmos em conta que nossa sociedade não tem uma cultura democrática, e que desde a proclamação da República, poucos foram os períodos de real democracia na vida republicana brasileira, não estranharia que o período mais longo é o atual, no qual a Constituição Cidadã completou agora 30 anos de vigência. Porém, este período já havia começado a ser ameaçado, com a figura de uma democracia corroída pelo poder econômico e os meios de comunicação.
  
          Ao estadista irlandês John Philpot Curran (1750 – 1817) é atribuída a frase: “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. De certo, não há liberdade em nenhum tipo de ditadura, mas tão só na democracia, quando esta é uma democracia de verdade. Em caso contrário, a consequência inevitável é a servidão. Felizmente o partido esta atento e deve permanecer vigilante. Porém, devemos buscar mecanismos para cada vez mais tornar a democracia interna um objetivo a seguir. Sim, como filiados e militantes temos que, estar atento para não permitir um futuro deste partido se torne uma frente sem identidade.

Padre Carlos


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