O
clericalismo e a Igreja
Se
olharmos nossa caminha nestas cinco décadas de Concílio, poderemos constatar
que o cenário da Igreja permanece problemático. A
figura do mundo também é perturbadora. A Igreja parece ter-se fechado na
hierarquia, o mundo, na modernidade. Ao fazer estes questionamentos, faço
também uma homenagem a um grande teólogo que tive oportunidade de ser seu
aluno, ao mestre: Pe. Alberto Antoniazzi.
Para
iniciar uma abordagem eclesiológica, é necessário entender como o Mestre pensou
a sua Igreja. Jesus queria a Igreja enquanto povo de Deus, não uma Igreja
instituição de poder e clerical, com duas classes: de um lado, a hierarquia, o
clero, que ensina e que manda em nome de Deus, e, do outro, os leigos, os que
obedecem. Veja-se o significado da palavra leigo no linguajar comum: sou um
"leigo", com o sentido de incompetente, ignorante. Ou a expressão
referida aos padres, quando lhes é retirado o ministério: "foi reduzido ao
estado laical", com o sentido implícito de ter perdido o privilégio de
clérigo. Na Igreja, segundo Jesus, há ou deveria haver uma igualdade radical e,
consequentemente, nela deve reinar a fraternidade, a igualdade e a liberdade.
Evidentemente, uma vez que há muitos cristãos e católicos, terá de haver alguma
organização, algo institucional, mas a instituição tem de estar ao serviço da
Igreja povo de Deus, e não, sacralizar-se, dando a si mesmos atributos divinos.
Aliás, Jesus disse: "Eu vim não para ser servido, mas para servir."
Na Igreja, há serviços, ministérios.
O
que aconteceu e acontece é que a hierarquia, padres e bispos, sacralizaram-se,
atribuindo-se a si mesmos privilégios sacros ao serviço dos quais estaria o
próprio celibato. Eles trazem Cristo a terra na Eucaristia, só eles perdoam os
pecados, e formam uma espécie de casta à parte, como diz a própria palavra
clero, são ministros, mas ministros sagrados... O padre é alter
Christus (outro Cristo). Isso foi de tal modo interiorizado no
inconsciente dos católicos que existe constantemente o perigo de enveredarmos para
o clericalismo, como diz o padre Stéphane Joulain, psicoterapeuta:
"Considerar que, porque se foi ordenado, se tem direito a uma forma de
reverência é um erro, de que alguns não hesitam em abusar... A cultura de um
país, a sua história, desempenha um papel nisso: nos Estados Unidos, mas também
na África, os leigos encontram-se numa grande submissão aos padres. Alguns
fiéis, citados no relatório judicial da Pensilvânia, contam que, quando um
padre os visitava, era como se o próprio Deus entrasse em casa...”.
Não
podemos negar que o estado clerical adquire uma relevância de primeira ordem e
apresenta-se, cada dia mais, como o verdadeiro ponto fraco da Igreja Católica.
Diante de tais fatos, podemos afirmar que a Igreja se encontra em uma das piores
crises da sua história. Olhando para todos estes problemas que estamos enfrentando
alguns teólogos levantam a tese de refunda-la, indo ao encontro do Evangelho.
Na linha da carta de Francisco, apelando à corresponsabilidade de todo o povo
de Deus, penso que se deveria convocar um sínodo, com a representação dos
bispos de todo o mundo, mas também da Cúria, dos padres, dos religiosos e das
religiosas e dos leigos, eles e elas, proporcionalmente ao seu número, sob a
presidência do Papa.
Padre Carlos
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