quarta-feira, 30 de outubro de 2019

ARTIGO - A esquerda latino-americana (Padre Carlos)





A esquerda latino-americana



Estamos presenciando um crescimento da esquerda em toda a América Latina, poderia dizer que esta guinada ou onda rosa como alguns analistas políticos passaram a chamar este fenómeno, tem um componente de revolta e decepção com as políticas neoliberais que foram aplicadas nestes países. Não podemos negar que entre o fim da década de 1990 e o início dos anos 2000, vivemos fenômeno parecido quando foram eleitos muitos chefes de Estado ligados a partidos reformistas, mas, o que chama atenção dos cientistas políticas é a dificuldade deste fenómeno transpor as cordilheiras e chegarem em terras brasileiras.
Assim, constatamos um crescimento destes partidos em toda a costa do pacífico que se estende do México a terra do fogo. A guinada à direita que se deu alguns anos atrás em países como Argentina, Colômbia, Peru e o Chile, não teve o mesmo peso nem trouxe o elemento novo que a eleição brasileira apresentou e se os ventos de mudança que hora atravessa o continente Latino Americano, não consegue atravessar os Andes, pode ser em razão deste fator que relacionamos e que se trata do fortalecimento de uma direita conservadora mais lusitana que espanhola. Embora os ventos de mudança não tenham chegado em terras brasileiras, na proporção que tem varrido o continente, o efeito Bolsonaro, que muitos analistas esperavam que aconteceria em muitos país do Cone Sul, devido a importância e influência do Brasil sobre estes países, não aconteceram.

Os acontecimentos no Chile, revelam um profundo descontentamento com as políticas neoliberais como um todo. As manifestações chilenas me parecem muito mais bem direcionadas e críticas ao modelo neoliberal, que as nossas em 2013. Outro fator importante nestes últimos dias, fora a volta da esquerda na Argentina e no Uruguai, Daniel Martínez disputará a manutenção da centro-esquerda que está no poder desde 2005. 

 Não podemos esquecer, que os conservadores conseguiram derrubar a partir de 2015, os principais redutos de esquerda latino-americana incluindo Brasil, Argentina e Chile. A esquerda foi declarada morta várias vezes pela imprensa burguesa e pelas elites americanas. Mas a vitória do esquerdista Andrés López Obrador no México, em julho de 2018, mostrava que os ventos políticos na América Latina nem sempre sopram na mesma direção. Assim, quando saíram os resultados das eleições mexicanas, entendi naquele momento que o sonho não tinha acabado e fui percebendo através da movimentação destas forças, que a esquerda estava voltando e passamos de derrotados no Brasil a vencedores nas disputas de votos na Argentina e no Uruguai. Tenho certeza que os resultados políticos e eleitorais, não reflete os editorialistas dos grandes jornais brasileiros que até então estavam em estado de êxtase. O tom geral é o de que teria acabado a onda de esquerda que toma conta do continente desde a eleição de Hugo Chávez, em 1998, e que teve suas marcas definidoras com a ascensão de Nestor Kirchner, em 2001, de Lula em 2002, de Tabaré Vasquez, em 2004, e de Evo Morales, em 2005. Essa pretensa onda já mereceu, em páginas impressas e falas radiofônicas e televisivas, os nomes de volta do populismo, nacionalismo superado, estatismo tosco e outros qualificativos de igual tom que agora vemos o povo pedindo a volta. Tenho certeza que a chegada de Lula ao cenário político dará um novo alento as nossas lutas e ao projeto político da esquerda.

Padre Carlos

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terça-feira, 29 de outubro de 2019

ARTIGO - O Bairro Pituba (Padre Carlos)





O Bairro Pituba


Quando a velha Fazenda Pituba, foi adquirida no início do século passado pelo baiano Manoel Dias da Silva e pelo seu cunhado mineiro, Joventino Pereira da Silva, já havia na localidade uma colônia de pescadores e uma comunidade que poderíamos hoje identificar como remanescentes de quilombos, esta área passou a ser na época disputada a partir da primeira metade do século passado por uma  população de renda média que  passaram a construir casas de veraneio. Com a expansão imobiliária, cada vez mais avançando no litoral e a criação de uma avenida que cortava toda a facha litorânea até o aeroporto, substituindo assim a antiga estrada de Ipiranga,que até então, era o único acesso ao bairro de Itapoã. Foram acontecimentos como estes, que proporcionaram esta estância de veraneio da classe média e alta a se tornar um bairro da grande Salvador. Em 1969 o então prefeito Antonio Carlos Magalhães (ACM), determinou a demolição de cerca de 300 casas acabando assim com o Bico de Ferro e como não havia interesse dos poderes públicos em documentar a história daquela comunidade, jamais saberemos a história daquela colónia. No local onde era o Bico de Ferro, hoje se encontra o Jardim dos Namorados.  
Desta forma, a Pituba foi o primeiro loteamento planejado em Salvador. Com isto, em 1919, o novo balneário dos soteropolitano, foi criada com régua e compasso a partir da experiência de Belo Horizonte, a primeira capital planejada do Brasil. Inicialmente a Pituba funcionou como um bairro de veraneio, onde a classe média e alta passava com a família o verão. No pós-guerra, passou a se torna um local de segundas residências, como são hoje muitas cidades do litoral de São Paulo e Santa Catarina.
Mas o antigo local de veraneio, com enormes casas da elite baiana, passou a se desenvolver rapidamente a partir da década de 1960 e foi justamente neste ano que eu nasci em uma dessas residências. Não que fizesse parte desta elite, nascia ali o filho do caseiro. Éramos vizinhos dos Meireles, dos Ferreiras e Machados, brincávamos e não havia naquela época distinção de classe. A transformação de balneário para um bairro de classe média, se dá em menos de uma década. Entre o final da década de cinquenta e o início o início dos anos sessenta, passamos a presenciar a instalação de restaurantes e bares, o Clube Português, o Colégio Militar e o Colégio das Irmãs Mercedária para educar as filhas destes moradores a Igreja Nossa Senhora da Luz e todo um ambiente boêmio que o bairro proporcionava. Quando vieram os centros comerciais, lojas de rua, agências bancárias, tivemos que nos mudar. O nome do sócio baiano da antiga fazenda batizou uma das três maiores avenidas do bairro (junto com a ACM e Paulo VI), a Manoel Dias da Silva. E o mineiro Joventino Silva que tive oportunidade quando era menino de conhecer, deu nome ao Parque da Cidade, na Av. ACM.
Assim nasceu a Pituba, como um balneário e bairro que encantou toda uma geração com os carnavais do Clube português e a Festa de Largo. Saudade daqueles tempos!

Padre Carlos


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segunda-feira, 28 de outubro de 2019

ARTIGO - Por que o PT é a bola da vez? (Padre Carlos)




Por que o PT é a bola da vez?


Temos a tradição de minimizar a verdadeira importância que os partidos exercem sobre o eleitor brasileiro. Podemos afirmar, que para quase 50% dos eleitores do país as escolhas políticas não são feitas apenas de forma personalista em torno dos candidatos nem por interesses pessoais. O que guia o brasileiro que vai às urnas é em grande parte a relação dele com os partidos políticos. Ou com pelo menos uma das siglas, o Partido dos Trabalhadores (PT), que gera sentimentos de amor e ódio na população.
Em tempos de polarização política na disputa pela Prefeitura de Vitória da Conquista, entre apoiadores do atual prefeito , Herzem Gusmão (MDB), e do deputado estadual José Raimundo e o ex-prefeito Guilherme Menezes (PT), quem vai acabar se beneficiando disso, pelo menos em nossa cidade, será os candidatos a vereador pelos partidos de ambos.
Na cabeça dos eleitores, conquistense a divisão entre petistas e antipetistas é uma força poderosa, que pode moldar o resultado da eleição, independentemente da (popularidade do atual prefeito) e do ex-prefeito Guilherme Menezes ser candidato ou não.
Entre 25% e 30% da população não vai votar no PT de jeito nenhum, estes votos da direita são velhos conhecidos dos nossos analistas. Mas também sabemos que entre 20% e 25% dos eleitores têm uma probabilidade extrema de votar em qualquer candidato e sabemos que tudo vai depender do PT conseguir trazer o senário nacional para que se torne o pano de fundo desta eleição. Para entender o caminho da política eleitoral conquistense desde a redemocratização, é particularmente importante entender como a emergência do PT moldou as atitudes políticas e o comportamento dos eleitores nestes últimos trinta anos e destes, vinte no governo.
Não podemos negar que o PT sempre apresentou um chapa para proporcional com candidatos forte de densidade eleitoral e dependendo da forma como o partido irá motivar estes quadros, poderemos sair com uma bancada fortalecida.
A direita não tem partido e engana-se que pensa que Bolsonaro terá influencia nesta eleição em nossa cidade. O que conta mesmo, é como as elites se agruparão e como a máquina pública será usada. Desta forma, em outros país, o partidarismo costuma funcionar como uma lente positiva ao olhar qualquer coisa que o partido faça. As pessoas só veem seu partido de forma positiva e os outros partidos de forma negativa. No caso do Brasil, entretanto, a divisão se dá em torno de um único partido: Há o grupo que só vê tudo dê certo e o que vê tudo de errado no PT.
Outro fator que irá ajudar bastante o PT, é sem dúvida a nova regra, ela determina que não mais existirão coligações partidárias para eleições proporcionais, que são aquelas utilizadas para a escolha de  vereadores, isto prejudica muito os pequenos partidos, obrigando estes candidatos a procurarem partidos com capacidade de obterem nas urnas o quociente eleitoral, diminuindo assim as chances dos pequenos partidos terem representação.  As coligações passam a existir apenas para as eleições majoritárias (prefeitos, governadores e presidente).
É difícil dizer o que leva uma pessoa a se tornar petista ou antipetista. O mesmo vale para o partidarismo em outros países, e é difícil saber por que uma pessoa vira republicana ou democrata nos EUA. Sabemos que Vitória da Conquista sempre teve a vocação de ser uma cidade vanguarda politicamente. Porém, e difícil compreender o que leva este comportamento. Como diz o poeta Sergio Natureza: “As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões
Os corações pegam fogo e depois não há nada que os apague
se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são
O alimento, o veneno e o pão, o vinho seco, a recordação
Dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver”
Ontem foi o aniversário de Lula e muita gente acredita que exista um lulismo como postura psicológica. Muita gente gosta de Lula, pode admirar ele, e pode haver quem gosta dele sem ser petista. Nem todo lulista é petista, mas quem é petista sempre vai gostar de Lula. A postura psicológica mais profunda é o petismo e isto se expressa profundamente em nossa cidade é a ligação ao partido e ao que ele representa, não à pessoa. O PT não vai desaparecer quando Lula desaparecer. É uma ligação mais longa e duradoura do que a relação com Lula.
            Seja qual for o resultado da eleição, veremos uma parcela grande desta cidade esperando e lutando pela volta da estrela vermelha.

Padre Carlos

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domingo, 27 de outubro de 2019

ARTIGO - Cada cidade tem o parlamento que merece (Padre Carlos)




Cada cidade tem o parlamento que merece


Como professor de filosofia, meu papel é buscar a essência das coisas e a essência da política está no garantir o bem-estar da população em geral, sem priorizar interesses individuais e eleitoreiro. A política não é um meio para se dar bem, é a arte de bem servir o povo, mas só cumpre esse papel quem possui a vontade de ajudar ao próximo.
Nos últimos dias presenciamos os vereadores da nossa cidade, com raras exceções fazendo discursos em favor de um projeto do executivo.  Vitória da Conquista poderá contrair empréstimos no valor de R$ 60 milhões, embora alguns vereadores já pensam em estender esta dívida para R$ 100 milhões, pensando no seu eleitorado e nas suas bases políticas. Os projetos de lei que autorizam a operação já foram encaminhados para apreciação da Câmara Municipal de Vereadores.
          
  Infelizmente, é nestas horas que constatamos a qualidades dos nossos representantes. Não bastam votos amizades e uma estrutura de campanha é preciso acima de tudo ter compromisso com a cidade e enxergar Vitória da Conquista, daqui a uma ou mais década. Quando este projeto chegou naquela casa, constatamos que alguns parlamentares não corresponde as estas aptidões e quando falo me refiro no campo da situação e na oposição. Um vereador não pode só pensar como líder comunitário, sua responsabilidade transcende   sua comunidade, um parlamentar tem que pensar o município como um todo, as consequências de seus atos podam beneficiar mas, pode também prejudicar toda a cidade.
 O fato é que nesta sexta-feira, 25 ao fazer uso da tribuna na Câmara Municipal, o vereador Coriolano Morais, não só fez uma série de cobranças ao Executivo Municipal, como lembrou para alguns membros daquela casa, como fazer política e acima de tudo, como fazer oposição. Confesso aos senhores que naquele momento, me sentir representado naquele parlamento.   Uma verdadeira aula como se faz oposição e demostrando de forma clara que o papel de fiscalização que compete aquela bancada, não está sendo efetivamente exercido por alguns membros daquela bancada salvo algumas exceções.
            Diante disto, não podemos negar que um dos principais papeis no jogo político e democrático deve ser exercido pela oposição naquela casa. Ela é o que costumamos chamar de contraponto do poder. A alternativa de projeto de governo que aí está. É justamente neste ponto que gostaria de chamar atenção do leitor, na perspectiva de que a democracia é o contraditório, realmente é ruim para a democracia e para a cidade ter uma oposição fraca e desorganizada como constatamos em Vitória da Conquista. Somos minorias ou maioria? Quantos parlamentares realmente fazem parte deste bloco.  Mas sem uma liderança capaz de fazer este trabalho fica difícil contar com estes votos.  Assim, a nossa oposição,  continuará batendo cabeça nesta casa, e amargando as derrotas devido a cooptação do governo sobre este parlamento.
                        Como chefe do Poder Executivo, cabe ao prefeito administrar os serviços públicos locais e decidir onde serão aplicados os recursos financeiros. O prefeito é quem pode prometer a execução de novas obras e dizer onde e como o dinheiro do município será aplicado. Além disso, seu papel também é o de sancionar ou vetar novas leis, analisadas ou criadas pela Câmara municipal. Aprovar um empréstimo sem que tenha certeza de uma avaliação por profissionais competentes e isento do poder executivo, não seria prudente.
                 
O medo de não se reeleger, pode inviabilizar o próximo governo, não permitindo que o município busque recurso para investimentos, uma vez que as receitas do Poder Executivo estarão comprometidas com a folha de pagamento dos servidores e com as demais despesas da administração. Desta forma, se a aprovação deste referido empréstimo estiver condicionada a obras em determinada base eleitoral, este mandato estará comprometendo as finanças do municípios, O papel do parlamento neste momento de crise que o país e o município atravessa, deveria ser buscar o equilíbrio das nossas receitas e das nossas despesas. Só assim Vitória da conquista poderá se orgulhar do seu parlamento.

            Padre Carlos


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sábado, 26 de outubro de 2019

ARTIGO - A Revolução de Francisco (Padre Carlos)





A Revolução de Francisco


Por mais estranha que a palavra possa parecer à primeira vista, a "eclesiologia" está, na verdade, no centro da vida de todas as comunidades cristãs. As respostas que as questões eclesiológicas obtêm nas igrejas influenciam a vida cotidiana dos fiéis e definem o rumo da busca pela unidade cristã.
Eu não tinha mais esperança, achava que era uma retórica que o Espirito Santo mandava em determinado tempo um Francisco para restaurar a sua Igreja. E confesso aos senhores que eu estava desapontado quando entreguei aquela cata a Dom. Geraldo.  A Igreja dos pobres estava sumindo, muitos como eu estavam decepcionados: trabalharam, deram o melhor de si, deram os melhores anos da sua vida, deram toda a sua juventude, mas, por mil motivos, a CEBs, a Igreja dos pobres estava sendo trocada por outro projeto de Igreja. Nessa hora, a decepção caiu sobre aquela Igreja que compactou com as catacumbas. Naquele momento, estava de braços caídos: “Nossos ossos estão secos, nossa esperança está morta; estamos perdidos” ” (Ezequiel 37, 11).
Em síntese: para lá do famoso cogito cartesiano - "penso, logo existo" -, é preciso construir o mundo, assentando num outro princípio: "Sou amado, logo existo", escreve Francisco. Quando a revolução de Francisco foi anunciada entendi que se tratava de uma primavera na Igreja e tive certeza quando ele proclamou que ninguém devia ter vergonha da ternura, sendo a missão da Igreja levar adiante o projeto de humanização que Jesus quer: "Vejo com clareza que do que a Igreja precisa é de capacidade para curar feridas. Devemos encarregar-nos das pessoas, acompanhando-as como o bom samaritano, que lava e limpa as feridas e consola", "caminhar com as pessoas na noite, saber dialogar e como dizia Dom Celso: descer à sua noite e obscuridade sem nos perdermos".
É uma verdadeira ressurreição para a Igreja. Nós somos o resultado disso. Caímos numa grande prostração, numa falta de fé. Foi aí que o Senhor veio e nos deu esta grande graça: O Papa Francisco. O Senhor ressuscitou sua Igreja: física, psicológica e espiritualmente. Ele ressuscitou nosso espírito, nossa vocação em defesa dos mais pobres, nossa missão e o nosso compromisso.
Por isso, quando proclamou o Ano da Misericórdia entendi a mudança de paradigma que estava se dando. O Deus justo dos antigos papados está dando lugar ao Deus Misericordioso.  Ele tinha consciência que as reformas estavam em macha. Por tanto, aquele ano não podia ser "um parêntesis de misericórdia na vida da Igreja, já que ela constitui a sua própria existência, que manifesta e torna tangível a verdade profunda do Evangelho. Tudo se revela na misericórdia; tudo se sintetiza e resolve no amor misericordioso do Pai".  Amém!

Padre Carlos




sexta-feira, 25 de outubro de 2019

ARTIGO - A República brasileira (Padre Carlos)




A República brasileira


Quando estudamos filosofia política, descobrimos que a República diz respeito a um sistema social e econômico que assegura a todos os mesmos direitos, mas a brasileira usa privilégio para políticos, Juízes e membros do Ministério Público que fere o sistema de igualdade, rompendo as bases republicanas. Só com auxílio-alimentação, auxílio pré-escola e auxílio-transporte dos servidores do alto escalão dos três poderes o governo gasta R$ 3,8 bilhões anuais, deixando impunes os “nobres da República”.
Para corrigir esta deformação bastaria aprovar as reformas da Constituição cortando estes privilégios, fazendo assim, a verdadeira reforma administrativa, em vez de tirar conquistas trabalhistas adquiridas ao longo dos anos. Mas isso não bastaria para fazer uma República, porque o regime brasileiro apresenta outros privilégios incompatíveis com o espírito e a prática republicana.
Se a República é o regime dos direitos iguais, é preciso quebrar o foro privilegiado à vida, que assegura a alguns o direito de manter-se vivo por comprar os serviços de saúde, enquanto outros morrem por falta do dinheiro necessário.
O Brasil não será republicano enquanto a reforma da previdência não fizer as verdadeiras equações em relação a expectativa de vida do trabalhador assalariado. Se prevalecer a atual indecência do “foro privilegiado na saúde”, que permite a um brasileiro com renda igual ou superior a dez salários mínimos ter a chance de viver sete a oito anos mais do que aquele com renda igual ou inferior a dois salários mínimos.
É preciso acabar também com os privilegiados que restringe o acesso à educação de qualidade apenas para quem pode pagar por uma boa escola privada ou para os poucos que conseguem entrar em uma das instituições de ensino públicas de qualidade, como as federais.
Especialmente no mundo contemporâneo, a República exige que seja ofertada a mesma qualidade de ensino a todos, desde o nascimento e ao longo de toda a vida, guardadas as diferenças pelo talento, pela vocação, pela persistência e dedicação aos estudos de cada um, não pela renda da família ou a cidade onde vive.
Além de ser indecente socialmente, o governo Bolsonaro busca aprofundar a desigualdade no acesso à educação, isto é uma estupidez econômica, porque impede a República de beneficiar-se do mais promissor de seus recursos: Só neste ano, o Ministério da Educação realizou cortes que somam 17,7% de sua previsão orçamentária inicial. A verba foi para R$ 98,1 bilhões. A redução atingiu também bolsas de doutorado no exterior, por exemplo. A notícia sobre o PBP gerou críticas e apreensão.
Não podemos negar, que o cérebro educado é o resultado de nossas potencialidades e a esperança de um desenvolvimento e independência tecnológica com pleno desenvolvimento das potencialidades de cada brasileiro.
O foro jurídico dos políticos deve se estender apenas nas questões no que diz respeito ao exercício do mandato, mas é preciso entender que a eliminação dos outros privilégios através da renda do direito de viver e no direito de desenvolver o potencial intelectual de cada brasileiro, é conditio sine qua non para se chegar a uma verdadeira República.

        
    Estamos cansados com o discurso deste governo que vai moralizar a República e cortar gastos. Portanto, quaisquer medidas que visem cortar gastos sem mexer na caixa preta da máquina pública dos três poderes não podem ser consideradas medidas razoáveis, eficientes ou justas. 


Padre Carlos

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

ARTIGO - Rosa Weber e Drummond (Padre Carlos)




Rosa Weber e Drummond



Desde o seu batismo de fogo em 1928, com a publicação do célebre "No Meio do Caminho", na Revista de Antropofagia, Drummond ficou conhecido como "o poeta da pedra". Ao invés de se sentir ofendido com tal apelido, de origem pejorativa, acaba assumindo-o, transformando-o em um dos símbolos de seu fazer literário. Apesar de nossa heroína encontrar como o poeta muitas pedras no caminho foi Rosa do Povo que hoje me encantou e para mim é a melhor obra de Carlos Drummond de Andrade e pensando no poema e no poeta a nossa Rosa do Povo, não era só do povo pobre e encarcerado, mas, era também a Rosa da Constituição.
Houve uma grande expectativa em relação ao voto da ministra 
Rosa Weber, que abriu a sessão desta quinta-feira (24/10), seu voto foi de fundamental importância para o direito e todos aqueles que acreditam ainda no nosso sistema de justiça. Foi justamente este voto de coragem e dever cívico, que fez a classe política e jurista voltar a sonhar com a legalidade e a volta do Estado de Direito. Apesar de ter votado a favor da prisão em segunda instância, meses atrás, no julgamento de um habeas corpus, a opinião dela sobre o tema foi que o cumprimento da pena por um réu só deve se dar após o fim de todos os recursos serem julgados.
         Acredito que essa ação que o Supremo está julgado seria a ação mais fácil de defender se não houvesse interesses políticos. O que se pede aos Senhores Ministros é que cumpra o texto da constituição, que seja fiel ao juramento que fez a esta Corte. Como disse o advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro (Kakay), “Falo aqui em respeito a vossas excelências, que o Supremo pode muito, mas não pode tudo, porque nenhum poder pode tudo no Estado democrático de direito” ...“Vivemos um tempo em que cumprir a Constituição passou a ser um ato revolucionário.” O que se pede é tão pouco diante do que já foi feito com esta comunidade que vive nas masmorras medievais. É absolutamente simples o que se pede aos senhores, embora com enorme repercussão. O que pedimos é uma análise de um texto que é inequívoco. não se pode admitir que cada juiz tenha a interpretação que quiser de cláusulas pétreas “absolutamente claras”. “Ou então estaremos colocando em risco o Estado democrático de direito, que talvez seja a maior função desta casa.
A rosa do povo, a Rosa Weber, em vez de ser cultivada, foi ela com sua coragem que terminou cultivando os nossos sonhos e utopias, ela deixa com seu voto mais do que uma semente, deixou raízes e troncos na história do direito, pétalas e espinhos deste triste momento que passa o povo brasileiros.

Padre Carlos

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

ARTIGO - Dilma não foi pragmática (Padre Carlos)



Dilma não foi pragmática



Quando se torna um político com a responsabilidade de gerir as coisas pública, se toma decisões contrárias à própria vontade, como também é levado a se omitir devido as necessidades contextuais. Para quem não sabe, isto é pragmatismo! Ele pode ser traduzido como: sustentabilidade, objetividade, realismo, praticidade e conciliação. O Brasil, não é só um país de dimensões continentais, mais também, um país heterogêneo e de uma complexidade que obriga o homem público a entender a origem deste povo. Por isto, antes se se tornar um político, todo homem público deveria saber que antes de tudo é necessária a prática da adequação, da adaptação ao indesejável, ou seja, ter a capacidade de não se deixar ser empurrado a se equilibrar em cima do muro, no fio da navalha, na corda bamba. Isto é pragmatismo.
Não basta ser um técnico competente, um super ministro com um padrinho que possa pavimentar sua caminhada ao poder, se não tiver capacidade de ser conciliador e pragmático, combinação esta que todo político deveria ter. Esta é a grande combinação para manter a governabilidade, não é desenvolvimento econômico e preservação dos recursos naturais e sim uma adequação de interesses em prol da essência do projeto de governo e dos objetivos a serem alcançados. Como a esquerda poderia governar se seus quadros nunca passaram de cento e cinquenta parlamentares e como conseguiríamos todos os avanços no campo social se não tivéssemos feito alianças com os partidos de centro?
Só assim, entenderemos o contexto, quando Eduardo Cunha decidiu abrir o processo de impeachment de Dilma Vana Rousseff, após os petistas quebrarem um acordo para livrá-lo do conselho de ética da Câmara quando era presidente da Casa. Este artigo tem a pretensão de avaliar: e se o PT tivesse votado nele naquela comissão de ética, será que Dilma teria terminado seu mandato? Além disso, tudo que vem acontecendo, não é em decorrências daqueles votos? Será que valeu apena perder o pré-sal, a nossa aposentadoria a Petrobras, provavelmente a estabilidade do emprego no setor público e tantas perdas e privatizações. Eduardo Cunha vale tudo isto? Gataria que os puritanos e analista de botequim me respondesse!
Um presidente tem que ser pragmático e Dilma não era, talvez este fosse o seu grande erro. Ainda como Ministra, foi considerada grossa, rude, intransigente no trato com os colaboradores e depois com o Congresso.  Uma mulher não precisa falar grosso, alto e cravar o olho no outro para ser entendida, não podemos justificar seu temperamento alegando tal atitude ao enfrentamento do monopólio dos homens.


A reação das elites, como se viu em 2015 e 2016, foi de ódio e irresponsabilidade devido a decepção da derrota eleitoral. Desta forma, se criou uma campanha midiática com o objetivo de tirar a esquerda de qualquer jeito do governo. Assim, vieram as ondas criadas por esta frente de centro e de direita, que levando milhões à rua em todo o território nacional, compactuavam com o setor financeiro e as elites para implantar um projeto neoliberal e acabar com as conquistas sociais. O vigor e a generalização das manifestações alteraram o comportamento dos atores políticos que sempre deram sustentação ao governo do PT, por falta de quem negociasse naquele momento e não encontrando motivos para continuar com aquele projeto, viram naqueles eventos uma oportunidade de tomar o poder. Gradativamente, o Parlamento foi se tornando mais sensível a proposta do PSDB e de Aécio Neves, que era afastar o PT para que na próxima eleição não tivesse adversário que colocasse em risco sua eleição.
          Por outro lado, se formava uma frente do Ministério Público e do Judiciário criando as condições para legitimar o golpe contra a nossa soberania. Esta frente além de contar o STF, também era incorporado pela operação Lava Jato, que tinha como objetivo, criar uma conjuntura para responsabilizar o PT por toda a corrupção e criminalizar o partido.  
Foram estes conjuntos de forças que fizeram  com que se operasse a reviravolta definitiva: as mobilizações de rua definiram o que as elites já tinham negociado, que o caminho era o impeachment da presidente reeleita e, simultaneamente, por não ser pragmática e por inabilidade política, Dilma Rousseff acabou entrando numa espiral de isolamento da qual não mais conseguiria sair.


Padre Carlos

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

ARTIGO - Como será o Lula que sairá da prisão? (Padre Carlos)





Como será o Lula que sairá da prisão?



Por sentirmos que está próximo a libertação do ex-presidente Lula, resolvemos voltar ao assunto sobre este grande personagem da política brasileira. Sabemos que o cenário é cada vez mais favorável à soltura de Lula. Não dá para prever quando ele sairá; pode ser em dias ou semanas. Mas, seja quando for, e como for, ele irá imediatamente para as ruas falar a seguidores em comício; quer sair da prisão como entrou, no braço de populares. 
Como militante político há mais de quarenta e cinco anos e professor de filosofia, posso afirmar que Lula há muito tempo deixou de ser homem e se tornou uma narrativa ou como costumamos chamar no campo filosófico, um mito. Do grego mythos (“conto”), um mito remete para um relato de feitos maravilhosos cujos protagonistas são personagens sobrenaturais extraordinários (heróis).
Diz-se que os mitos fazem parte do sistema de crença de uma cultura, que os considera como histórias verdadeiras. Têm a função de proporcionar um apoio narrativo às histórias centrais de uma comunidade.
Sendo assim, Lula se tornou um mito, não pertence mais este plano e seus feitos transcenderam fronteiras e podemos dizer que já entrou para história. Ao constatar, que esta afirmação é um consenso que vai da direita à esquerda, temos assim que ter clareza sobre o que está em jogo, em disputa, é o significado desta narrativa, o que ela representa.
 A direita brasileira trabalha tentando provar que Lula é o maior corrupto da história do Brasil. Já a esquerda, declara que este homem é a principal liderança popular que este país já teve?
Esta é a verdadeira luta que vem se travando no cenário brasileiro. A disputa está aí. Se não existisse a rede de computadores se não houvesse uma imprensa alternativa, poderíamos dizer que a batalha já estaria perdida. Sabemos que não pode haver duas narrativas para a mesma história. Ou é uma coisa ou é a outra. Cada um que escolha seu lado.
Quando o  antropólogo Claude Lévi-Strauss afirma que todo o mito deve obedecer a três atributos: tratar de uma questão existencial, ser constituído por contrários irreconciliáveis e proporcionar a reconciliação desses polos para acabar com a angústia, ele termina explicando para a gente porque  todo gesto de Lula tem dimensão simbólica, Lula pega o microfone e o país paralisa em frente à TV. Os admiradores choram. Os jornalistas a serviço da mídia hegemônica silenciam. Ninguém fica indiferente as suas palavras e a personalidade que incorpora.
Ele tem consciência do seu papel na história, diferente dos seus algozes, sabe perfeitamente que está sendo observado, conhece muito bem o tamanho que tem e explora com extrema habilidade sua capacidade de fabricar símbolos.
As horas em que Lula esteve no sindicato dos metalúrgicos, sob os olhares do mundo, foi fundamental para construção da narrativa de seu próprio martírio, ele sabia que o seu destino, já estava selado. Todos os brasileiros já sabiam que Lula seria preso e que dependeria do seu povo a sua libertação.
Penso mesmo que Lula fez mais que resistir, já que a resistência seria irresponsável. Lula pautou a própria prisão, saiu da posição de simples condenado pela Justiça para se tornar o dono da narrativa. Lula foi sujeito do próprio encarceramento, deu um nó nas forças do golpe neoliberal.
Lula sabe que já viveu muito, sabe que não lhe sobra muito tempo de vida. O que resta agora é a consolidação da biografia, o retorno às origens, seu renascimento como ícone da esquerda brasileira.

Padre Carlos

domingo, 20 de outubro de 2019

ARTIGO - 7º CONGRESSO DO PT (Padre Carlos)





7º CONGRESSO DO PT




Estamos atravessando uma das ´piores quadras da nossa história. A degeneração política e o medíocre desempenho econômico, a persistência da pobreza e da desigualdade, a desagregação social, a violência generalizada, o desencanto dos jovens com a política e a tolerância com a corrupção são as marcas do governo que se instalou no Palácio do Planalto.
            Para lutarmos contra esta onda de ultradireita que se abate sobre o nosso país e em muitos lugares do planeta, será necessário neste Congresso buscar novos rumos e utopias e ter a coragem de fazer uma busca no mais profundo da nossa existência para resgatar toda aquela vitalidade, sonhos e utopias que embalaram os nossos objetivos e as nossas certezas.
Desta forma, deveríamos aproveitar a oportunidade que o 7º CONGRESSO nos proporciona e fazer alguns questionamentos: Será que estamos conectados com o futuro, estamos renovando nossos quadros? Demos nestes quase quarenta anos, oportunidade para as novas lideranças que surgiram nos quadros do partido? Será que perdemos verdadeiramente, o vigor transformador da juventude? Tenho muitas vezes a sensação que enquanto a realidade se transformava, mantínhamos no nosso interior, as ideias do passado.
Não entendemos que devemos passar o bastão, hoje dentro do partido deveríamos priorizar as discursões entre presente e futuro, esta pauta é mais importante que entre capitalistas e trabalhadores; já que nossos objetivos estão voltados para os pobres e excluídos diante do avanço do neoliberalismo.
Temos que lutar para que o partido defenda bandeiras dos trabalhadores sem defender os corporativismos de determinados setores. Defender direitos dos servidores estatais, sem abrir mão da luta pela qualidade dos serviços públicos; ignoramos que estatal tem que ser verdadeiramente sinônimo de público e de qualidade, se não for assim, é melhor que fique com a iniciativa privada.
O partido tem que governar buscando coesão social e rumo histórico. Nossa proposta de um mundo melhor para as futuras gerações, não pode penalizar esta geração; temos que criar consumidores e cidadãos. Entendemos que a justiça social vem da aplicação correta e responsável dos resultados de economia eficiente; priorizando todos, principalmente os mais excluídos da sociedade.
Nossos teóricos não podem ficar acomodados em ideias simplistas, temos que reinventar a roda e fazer a economia voltar a crescer e ser justo com quem gera a riqueza deste país. Projetos de governo que colocamos todas as nossas esperanças não podem ser trocados por slogans nem os intelectuais do partido podem ser trocados por marqueteiros.
A nossa narrativa tem que ser o resultado de todo um trabalho e luta das gerações que nos antecederam e acreditaram que a gente daria seguimento as suas lutas e esperanças. Somos herdeiros de uma ética que defende a vida e programas que inclui os famintos, não trocamos princípios por poder.

Padre Carlos

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...