sexta-feira, 25 de outubro de 2019

ARTIGO - A República brasileira (Padre Carlos)




A República brasileira


Quando estudamos filosofia política, descobrimos que a República diz respeito a um sistema social e econômico que assegura a todos os mesmos direitos, mas a brasileira usa privilégio para políticos, Juízes e membros do Ministério Público que fere o sistema de igualdade, rompendo as bases republicanas. Só com auxílio-alimentação, auxílio pré-escola e auxílio-transporte dos servidores do alto escalão dos três poderes o governo gasta R$ 3,8 bilhões anuais, deixando impunes os “nobres da República”.
Para corrigir esta deformação bastaria aprovar as reformas da Constituição cortando estes privilégios, fazendo assim, a verdadeira reforma administrativa, em vez de tirar conquistas trabalhistas adquiridas ao longo dos anos. Mas isso não bastaria para fazer uma República, porque o regime brasileiro apresenta outros privilégios incompatíveis com o espírito e a prática republicana.
Se a República é o regime dos direitos iguais, é preciso quebrar o foro privilegiado à vida, que assegura a alguns o direito de manter-se vivo por comprar os serviços de saúde, enquanto outros morrem por falta do dinheiro necessário.
O Brasil não será republicano enquanto a reforma da previdência não fizer as verdadeiras equações em relação a expectativa de vida do trabalhador assalariado. Se prevalecer a atual indecência do “foro privilegiado na saúde”, que permite a um brasileiro com renda igual ou superior a dez salários mínimos ter a chance de viver sete a oito anos mais do que aquele com renda igual ou inferior a dois salários mínimos.
É preciso acabar também com os privilegiados que restringe o acesso à educação de qualidade apenas para quem pode pagar por uma boa escola privada ou para os poucos que conseguem entrar em uma das instituições de ensino públicas de qualidade, como as federais.
Especialmente no mundo contemporâneo, a República exige que seja ofertada a mesma qualidade de ensino a todos, desde o nascimento e ao longo de toda a vida, guardadas as diferenças pelo talento, pela vocação, pela persistência e dedicação aos estudos de cada um, não pela renda da família ou a cidade onde vive.
Além de ser indecente socialmente, o governo Bolsonaro busca aprofundar a desigualdade no acesso à educação, isto é uma estupidez econômica, porque impede a República de beneficiar-se do mais promissor de seus recursos: Só neste ano, o Ministério da Educação realizou cortes que somam 17,7% de sua previsão orçamentária inicial. A verba foi para R$ 98,1 bilhões. A redução atingiu também bolsas de doutorado no exterior, por exemplo. A notícia sobre o PBP gerou críticas e apreensão.
Não podemos negar, que o cérebro educado é o resultado de nossas potencialidades e a esperança de um desenvolvimento e independência tecnológica com pleno desenvolvimento das potencialidades de cada brasileiro.
O foro jurídico dos políticos deve se estender apenas nas questões no que diz respeito ao exercício do mandato, mas é preciso entender que a eliminação dos outros privilégios através da renda do direito de viver e no direito de desenvolver o potencial intelectual de cada brasileiro, é conditio sine qua non para se chegar a uma verdadeira República.

        
    Estamos cansados com o discurso deste governo que vai moralizar a República e cortar gastos. Portanto, quaisquer medidas que visem cortar gastos sem mexer na caixa preta da máquina pública dos três poderes não podem ser consideradas medidas razoáveis, eficientes ou justas. 


Padre Carlos

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