A esquerda latino-americana
Estamos presenciando um
crescimento da esquerda em toda a América Latina, poderia dizer que esta
guinada ou onda rosa como alguns analistas políticos passaram a chamar este
fenómeno, tem um componente de revolta e decepção com as políticas neoliberais
que foram aplicadas nestes países. Não podemos negar que entre o fim da década
de 1990 e o início dos anos 2000, vivemos fenômeno parecido quando foram
eleitos muitos chefes de Estado ligados a partidos reformistas, mas, o que
chama atenção dos cientistas políticas é a dificuldade deste fenómeno transpor
as cordilheiras e chegarem em terras brasileiras.
Assim, constatamos um
crescimento destes partidos em toda a costa do pacífico que se estende do México
a terra do fogo. A guinada à direita que se deu alguns anos atrás em países
como Argentina, Colômbia, Peru e o Chile, não teve o mesmo peso nem trouxe o
elemento novo que a eleição brasileira apresentou e se os ventos de mudança que
hora atravessa o continente Latino Americano, não consegue atravessar os Andes,
pode ser em razão deste fator que relacionamos e que se trata do fortalecimento
de uma direita conservadora mais lusitana que espanhola. Embora os ventos de
mudança não tenham chegado em terras brasileiras, na proporção que tem varrido
o continente, o efeito Bolsonaro, que muitos analistas esperavam que
aconteceria em muitos país do Cone Sul, devido a importância e influência do
Brasil sobre estes países, não aconteceram.
Os acontecimentos no Chile, revelam um profundo
descontentamento com as políticas neoliberais como um todo. As manifestações
chilenas me parecem muito mais bem direcionadas e críticas ao modelo neoliberal,
que as nossas em 2013. Outro fator importante nestes últimos dias, fora a volta
da esquerda na Argentina e no Uruguai, Daniel
Martínez disputará a manutenção da centro-esquerda que está no poder desde
2005.
Não
podemos esquecer, que os conservadores conseguiram derrubar a partir de 2015, os
principais redutos de esquerda latino-americana incluindo Brasil, Argentina e
Chile. A esquerda foi declarada morta várias vezes pela imprensa burguesa e pelas
elites americanas. Mas a vitória do esquerdista Andrés López Obrador no México,
em julho de 2018, mostrava que os ventos políticos na América Latina nem sempre
sopram na mesma direção. Assim, quando saíram os resultados das eleições mexicanas, entendi
naquele momento que o sonho não tinha acabado e fui percebendo através da
movimentação destas forças, que a esquerda estava voltando e passamos de
derrotados no Brasil a vencedores nas disputas de votos na Argentina e no Uruguai.
Tenho certeza que os resultados políticos e eleitorais, não reflete os
editorialistas dos grandes jornais brasileiros que até então estavam em estado
de êxtase. O tom geral é o de que teria acabado a onda de esquerda que toma
conta do continente desde a eleição de Hugo Chávez, em 1998, e que teve suas
marcas definidoras com a ascensão de Nestor Kirchner, em 2001, de Lula em 2002,
de Tabaré Vasquez, em 2004, e de Evo Morales, em 2005. Essa pretensa onda já
mereceu, em páginas impressas e falas radiofônicas e televisivas, os nomes de
volta do populismo, nacionalismo superado, estatismo tosco e outros
qualificativos de igual tom que agora vemos o povo pedindo a volta. Tenho
certeza que a chegada de Lula ao cenário político dará um novo alento as nossas
lutas e ao projeto político da esquerda.
Padre Carlos
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