quarta-feira, 30 de outubro de 2019

ARTIGO - A esquerda latino-americana (Padre Carlos)





A esquerda latino-americana



Estamos presenciando um crescimento da esquerda em toda a América Latina, poderia dizer que esta guinada ou onda rosa como alguns analistas políticos passaram a chamar este fenómeno, tem um componente de revolta e decepção com as políticas neoliberais que foram aplicadas nestes países. Não podemos negar que entre o fim da década de 1990 e o início dos anos 2000, vivemos fenômeno parecido quando foram eleitos muitos chefes de Estado ligados a partidos reformistas, mas, o que chama atenção dos cientistas políticas é a dificuldade deste fenómeno transpor as cordilheiras e chegarem em terras brasileiras.
Assim, constatamos um crescimento destes partidos em toda a costa do pacífico que se estende do México a terra do fogo. A guinada à direita que se deu alguns anos atrás em países como Argentina, Colômbia, Peru e o Chile, não teve o mesmo peso nem trouxe o elemento novo que a eleição brasileira apresentou e se os ventos de mudança que hora atravessa o continente Latino Americano, não consegue atravessar os Andes, pode ser em razão deste fator que relacionamos e que se trata do fortalecimento de uma direita conservadora mais lusitana que espanhola. Embora os ventos de mudança não tenham chegado em terras brasileiras, na proporção que tem varrido o continente, o efeito Bolsonaro, que muitos analistas esperavam que aconteceria em muitos país do Cone Sul, devido a importância e influência do Brasil sobre estes países, não aconteceram.

Os acontecimentos no Chile, revelam um profundo descontentamento com as políticas neoliberais como um todo. As manifestações chilenas me parecem muito mais bem direcionadas e críticas ao modelo neoliberal, que as nossas em 2013. Outro fator importante nestes últimos dias, fora a volta da esquerda na Argentina e no Uruguai, Daniel Martínez disputará a manutenção da centro-esquerda que está no poder desde 2005. 

 Não podemos esquecer, que os conservadores conseguiram derrubar a partir de 2015, os principais redutos de esquerda latino-americana incluindo Brasil, Argentina e Chile. A esquerda foi declarada morta várias vezes pela imprensa burguesa e pelas elites americanas. Mas a vitória do esquerdista Andrés López Obrador no México, em julho de 2018, mostrava que os ventos políticos na América Latina nem sempre sopram na mesma direção. Assim, quando saíram os resultados das eleições mexicanas, entendi naquele momento que o sonho não tinha acabado e fui percebendo através da movimentação destas forças, que a esquerda estava voltando e passamos de derrotados no Brasil a vencedores nas disputas de votos na Argentina e no Uruguai. Tenho certeza que os resultados políticos e eleitorais, não reflete os editorialistas dos grandes jornais brasileiros que até então estavam em estado de êxtase. O tom geral é o de que teria acabado a onda de esquerda que toma conta do continente desde a eleição de Hugo Chávez, em 1998, e que teve suas marcas definidoras com a ascensão de Nestor Kirchner, em 2001, de Lula em 2002, de Tabaré Vasquez, em 2004, e de Evo Morales, em 2005. Essa pretensa onda já mereceu, em páginas impressas e falas radiofônicas e televisivas, os nomes de volta do populismo, nacionalismo superado, estatismo tosco e outros qualificativos de igual tom que agora vemos o povo pedindo a volta. Tenho certeza que a chegada de Lula ao cenário político dará um novo alento as nossas lutas e ao projeto político da esquerda.

Padre Carlos

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