segunda-feira, 14 de outubro de 2019

ARTIGO - Soneto do amor total (Padre Carlos)





SONETO DO AMOR TOTAL



Faz algum tempo que minha esposa vem cobrando para que eu faça uma arrumação na minha biblioteca e foi justamente quando passei a folear antigas anotações que tive acesso a estes apontamentos antigos sobre o amor.
 Hoje, faremos uma abordagem filosófica sobre o amor e como podemos neste contexto pós-moderno, definir este sentimento na nossa contemporaneidade. Ao longo da história das civilizações, foram constatados três tipos de amor, definidos pelos gregos: «eros», «philia», e «ágape» ou «caritas». «Eros» é o amor romântico, mas também o que está ligado à falta, ou seja, ao sofrimento; «philia» é o desejo de partilhar a companhia do outro, de querer o seu bem (para Spinoza, não há necessidade de se unir ao ser amado, o amor está associado à alegria da existência do outro); e «ágape» ou «caritas» é o amor que está relacionado com o bem do outro, muito próximo do humanismo cristão.
Na verdade, o que gostaríamos de dizer aqui é que não importa o tipo de amor, o importante, na vida, é que este sentimento esteja presente e seja qual for a sua forma, o fundamental é que haja amor para sermos felizes. Sem amor perdemos a experiência de nos vermos na projeção do outro, na vivência com o outro. Diz «O soneto do amor», um poema de Vinício de Morais, que cito na sua totalidade: «Amo-te tanto, meu amor... não cante / O humano coração com mais verdade... 
Amo-te como amigo e como amante / Numa sempre diversa realidade 
Amo-te afim, de um calmo amor prestante, / E te amo além, presente na saudade. 
Amo-te, enfim, com grande liberdade / Dentro da eternidade e a cada instante.  

Amo-te como um bicho, simplesmente, / De um amor sem mistério e sem virtude 
Com um desejo maciço e permanente. / E de te amar assim muito e amiúde, 
É que um dia em teu corpo de repente / Hei de morrer de amar mais
do que pude. ».
Mas, o que venha ser realmente o amor? O amor é, um sentimento, uma emoção que nos acelera, tal como nos abranda, que nos traz alegria e, também, naturalmente, sofrimento, e que se move ao longo do tempo, «Um mês ou um século mais tarde». Que o diga quem tem a felicidade de viver o amor toda a vida, os que celebram bodas de prata, de ouro ou de diamante, e os que encontram diferentes tipos de amor ao longo da vida.
 O amor é um dos temas centrais de diversas áreas do conhecimento, como a psicologia e a filosofia. E os filósofos têm dado uma contribuição importante para definir a palavra «amor».
Segundo Sófocles: «Uma palavra liberta-nos de todo o peso e da dor da vida. Essa palavra é o amor», Quando passei a atender confissões foi que compreendi que somente aquele que conhece o verdadeiro ódio pode conhecer o verdadeiro amor,
quando você liberta o ódio através do perdão em seu coração, o outro sempre estará lá,
e ai começa a desfazer os nós na nossa alma...
só o amor tem a capacidade de libertar. Já para Aristóteles, «O amor é formado por uma única alma habitando dois corpos», porque, quando amamos, passamos a ser como um só. Nas palavras de Platão, «Ao toque do amor todas as pessoas se tornam poetas». É o amor que suscita o que há de melhor em nós. Quem ama, vê o mundo mais belo. Por seu lado, disse Voltaire que «O amor é uma lona fornecida pela natureza e bordada pela imaginação», o que significa que o amor é uma dádiva, cuja manutenção depende de nós. Para Erich Fromm, «O amor é a única resposta sã e satisfatória ao problema da existência humana». Nascemos com o desejo de amar e de sermos amados. O amor dá sentido e propósito às nossas vidas.
O filosofo e o poeta se entrelaçam nas formas de amor. “Quando a gente ama é claro que a gente cuida” e ao ter este cuidado, cria uma responsabilidade “De tudo ao meu amor serei atento. Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto que mesmo em face do maior encanto dele se encante mais meu pensamento”.

Padre Carlos

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