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terça-feira, 28 de julho de 2020
ARTIGO - Dom Zanoni enaltece o Diálogo Inter-religioso (Padre Carlos)
Um dos grandes avanços na Igreja do Brasil nos últimos tempos, foi a
presença do arcebispo de Feira de Santana (BA),
e membro da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e Diálogo
Inter-religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Zanoni
Demettino Castro. Este Pastor, sempre teve na sua caminhada a dimensão
religiosa como um componente fundamental
da identidade e da cultura dos povos. Assim, ele vem chamando a atenção das
Igrejas como as culturas marcam
profundamente muitas das comunidades que atualmente se cruzam entre nós. Esta
diversidade de crenças, valores e de afirmações que trazem identidade baseadas
na pertença religiosa constitui-se como um espaço privilegiado para o
aprofundamento de uma cultura plural e aberta ao diálogo.
As diferenças religiosas continuam demasiadas vezes a ser fonte de
tensão, conflito e discriminação. Sem uma prática de diálogo intercultural,
corremos o risco de nos fecharmos no receio do desconhecido, numa visão
estática das culturas, não aprendendo nada uns com os outros. Vivemos um tempo
de mudança, mas também de esperança.
Sempre
que se fala em religião/religiões me vem à mente as palavras do teólogo Hans
Küng: "Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões. Não
haverá paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões. Não haverá
sobrevivência do nosso planeta sem um ethos (atitude ética)
global, sem um ethos mundial."Condição essencial para a paz
entre as religiões e para que haja liberdade religiosa é a laicidade do Estado,
não podemos confundir com laicismo. O Estado e os governos não pode ser confessionais,
não pode ter nenhuma religião, precisamente para garantir a liberdade religiosa
de todos. Os governos populistas, quando começam a perder poder, passam a
apoiar setores mais conservadores. Este fato pode ser visto de forma clara no
Brasil e na Turquia.
De fato, como disse o turco
Ohran Pamuk, Nobel da Literatura, "esta reconversão é dizer ao resto do
mundo que, infelizmente, não somos um Estado laico". Deste modo, acabou
por dar um duro golpe no diálogo inter-religioso, que tem a sua prova de
verdade no combate comum pela paz, pela justiça, por aquele ethos que Hans Küng
refere e que está presente no documento histórico, "A Fraternidade
Humana", assinado em Abu Dhabi pelo Papa Francisco e pelo Grande Imã da
Universidade Al-Azhar, no Cairo. Não há dúvida de que, transformando Santa
Sofia em mesquita e aliando religião e nacionalismo, Erdogan "pode criar
um terreno fértil para a intolerância religiosa e a violência", alertou a
Conferência de Igrejas Europeias. Da mesma forma no Brasil as Igrejas Neopentecostais,
tem sido uma ferramenta para manter tencionado a política de ódio e intolerância
em relação as correntes de pensamentos que divergem da utra-direita.
Essencial é não considerar as nossas
convicções, religiosas ou outras, como únicas verdadeiras. A compreensão mútua,
a tolerância e a capacidade de interagir e cooperar constroem-se a partir do
conhecimento dos outros, incluindo a sua identidade
religiosa. Como disse Dom Zanoni: “O mundo em que
vivemos é eminentemente plural, diverso, rico de experiências e povos, plural
nos âmbitos sociocultural, eclesial e religioso. Esse pluralismo é uma
característica forte no mundo globalizado e une os povos, como se fosse uma
aldeia planetária, onde todos se encontram, mas, muitas vezes, também se
desencontram. As diferenças das culturas, dos credos enriquecem a história da
nossa humanidade, mas também apresentam o desafio da convivência humana. ”
Vivemos um tempo de mudança, mas também de esperança. Aceitar o
pluralismo não significa diluição ou negação dos nossos valores, é um dado da
vida em sociedade e um recurso que abre novos horizontes de sentido.
segunda-feira, 27 de julho de 2020
ARTIGO - O silêncio da Câmara de Vereadores é ensurdecedor (Padre Carlos)
O silêncio da Câmara de Vereadores é ensurdecedor
Quando lemos o
poema A Verdade Dividida, de Carlos Drummond de Andrade, percebemos
como o poeta discorre sobre a impossibilidade de se chegar à verdade, já que
esta possui muitos lados que não são coincidentes. Assim como na poesia, na Filosofia,
o Direito também questiona a busca da verdade. Por isto, decidi escrever este
breve artigo impulsionado pelo sentimento da urgência de entendermos os motivos
que levaram um vereador da nossa cidade declarar em viva voz no plenário
daquela casa que entre eles existe três
vereadores corruptos, em vez de apontar na sua fala quem na verdade daquele parlamento
seriam os corruptos, o parlamentar passou a fazer outras acusações, dirigidas
ao Executivo Municipal e ao Ministério Público.
O que se esperava
desta casa é que obrigasse o vereador a fazer uma denúncia de forma clara e
apontasse os parlamentares que ele tem insistido em mais de uma seção, que estariam
envolvidos com corrupções. Com isto, este
político procura atassalhar a honra de homens e mulheres de bem, de
parlamentares pai e mãe de família honrado (a), como os membros deste
legislativo. A atitude do vereador é fruto de consciência perversa e omitindo
quem seria entre seus pares os verdadeiros corruptos, coloca em suspeita toda
aquela casa.
E em parte é isto que está acontecendo com a Câmara
de Vereadores de Vitória da Conquista. Gostaria
de chamar a atenção da Mesa Diretora e das lideranças das bancadas para a
gravidade destes fatos. Uma das
principais armas dos covardes é a calúnia. A calúnia toma proporções
incomensuráveis. Destrói carreira política, amizades, uma família. Dói mais do
que um tapa no rosto. Porque a calúnia machuca por dentro, é mais humilhante do
que uma cuspida na cara, porque a calúnia é falsa, é leviana. O cuspe a gente
limpa, o tapa, as feridas e marcas saem com o tempo, mas as feridas da calúnia,
ahh, essa faz tanto mal como uma ferida na alma.
O que chama nossa
atenção é o silêncio do parlamento para estas agressões. Acreditamos que os
representantes do povo não tenham tomado consciência dos perigos que a omissão
ou corporativismo pode causar a toda classe política, principalmente em um ano
de eleição. Como os eleitores poderão votar livremente sabendo que pode existir
ou não, alguns corruptos naquela casa?
domingo, 26 de julho de 2020
ARTIGO - A sentença de Noronha e a justiça seletiva (Padre Carlos)
A sentença de Noronha e a
justiça seletiva
Já faz algum tempo que venho me questionando
sobre o discurso de membros do Ministério Público e do Judiciário brasileiro
quando afirmam que "não há ninguém acima da lei". As decisões do
presidente do Superior Tribunal de Justiça, mostram que há, sim, pessoas
acima da lei. Há juízes, procuradores, promotores, senadores, deputados e
alguns mais que estão acima da lei, que não vale para eles. A regra e a régua
para medir o comportamento de um amigo do presidente não são as mesmas
usadas para medir os presos comuns. Poderia escrever um trabalho acadêmico
sobre isto, mas ficarei apenas no caso de Fabrício Queiroz e sua esposa.
O habeas corpus para Maria Aguiar espantou até
os colegas do ministro, devido a forma como ele premiou a fuga da esposa de
Queiroz. Assim, ficamos surpresos com a
decisão do presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro João Otávio de
Noronha, quando liberou Fabrício Queiroz para cumprimento de prisão domiciliar,
o que chamou a nossa atenção não foram os motivos humanitários que baseou sua sentença,
mas, sua mudança de entendimento das leis quando se tratou deste cliente. Neste
período de pandemia, nosso Magistrado já teria negado 96,5% dos pedidos
similares para outras pessoas. O levantamento do próprio STJ, feito a pedido do
portal G1, mostra que Noronha rejeitou 700 de 725 pedidos que chegaram à Corte
alegando a necessidade de prisão domiciliar devido à pandemia do coronavírus. O
presidente do STJ é o responsável pelas decisões no tribunal durante o recesso
de meio de ano do Judiciário. Na última semana, Noronha negou um pedido de
habeas corpus coletivo, que contemplaria pessoas detidas por crimes sem
violência, apresentado pelo Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos (CADHu).
O grupo de advogados moveu a ação após o próprio Noronha dar o benefício ao
ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), quando o filho
do presidente Jair Bolsonaro era deputado estadual.
Este contraste entre duas decisões, escancara
de vez a que ponto chegou a justiça e como estas sentenças expões a
seletividade da justiça no Brasil. Diante de tais fatos, aumenta o coro de
juristas e de associações de Direitos Humanos em afirmar, que a aplicação da lei no Brasil depende de vários fatores, como,
por exemplo, a cor da pele, a posição social e ideológica partidária, as
origens familiares, ou seja, ser de “boa família”, região em que mora da
cidade, gênero, etc.
Chamamos a atenção dos seus pares e do Supremo, que negar o habeas
corpus a presos em idênticas situações, significa violar o direito a igualdade.
Uma justiça que beneficia apenas alguns e condena a grande maioria do sistema
carcerário, pode ser considerada uma justiça seletiva e perante o Estado de
Direito, isto é inaceitável.
Precisamos
com urgência rever os casos dos presos em idênticas situações. Só desta forma a
justiça poderá resgatar o sentido de imparcialidade: “Equidade; qualidade da pessoa que julga com
neutralidade e justiça; característica de quem não toma partido numa situação.
”
sexta-feira, 24 de julho de 2020
ARTIGO - Vale tudo contra o PT (Padre Carlos)
Vale tudo contra o PT
Acabo de completar quarenta anos que me filiei ao Partido dos
Trabalhadores, durante todo este tempo, pude constatar que o PT não é um
partido perfeito, longe disso. O PT cometeu erros como muitos partidos neste
pais. Mas, uma coisa eu tenho certeza, sua derrota nas últimas eleições se deu
muito mais pelos seus acertos e não pelos seus erros. A elite brasileira e a
imprensa que a representa odeiam o PT não porque o partido esteve envolvido em
denúncias de corrupção, mas, porque este proporcionou a ascensão da classe C e
D e por ter priorizado pela primeira vez neste país as camadas mais pobres da
população. Diante disto, estas forças buscam a mais de uma década destruir este
projeto e as suas lideranças.
Assim, os meios de comunicações vem buscando nos últimos tempos, isolar o ex-presidente
da mídia corporativa bem como tudo que diz respeito às suas realizações. Outro
fato importante e que tem deixado estas” forças ocultas” muito preocupadas, é que
com a péssima administração de Bolsonaro e a crise econômica que assola o Brasil,
possa trazer de volta no imaginário coletivo a lembrança do barbudo e da
estrela vermelha. Para completar, no mês de agosto o ministro Gilmar Mendes vai
colocar na pauta da segunda turma, o pedido para o Juiz Mouro ser considerado
suspeito, nos processos de Lula, isto faz com que estes voltam à fase de
denúncia e ele possa assim, disputar as eleições de 2022.
Desesperada com esta conjuntura, estas
forças buscam sua última cartada e para isto passam a criar através de seus
agentes um clima de disputa no campo da esquerda. Dividir o campo popular e
enfraquecer politicamente para que não chegue ao segundo turno. Vem da
Antiguidade Clássica a linha de pensamento “dividir para reinar”. Quando um
ataque frontal como estes que vem sendo aplicado ao partido não surte efeito,
promover a fragmentação das concentrações de poder para enfraquecer o
adversário é uma solução. Assim, dividir internamente o adversário e afastar
seus aliados, são as únicas formas de abalar a sua solidez, enfraquecendo-o. Ao
longo dos séculos, esta estratégia foi usada abundantemente – quer em gloriosas
e importantes conquistas militares, quer em intrigas palacianas.
E, apesar de ser de todos amplamente conhecida e mesmo facilmente
identificável, continua sendo usada pelos estrategistas. Um dos mais recentes
exemplos parece ser a atuação da esquerda do partido no caso do mensalão e o
PED de 2005. A nível interno, a polarização foi clara: dividiu o campo hegemônico
dentro do partido e a esquerda dele, numa lógica de “nós contra eles”. Mas,
também na relação dando mostras de querer dividir para chegar ao poder.
Como isto, eles trabalharão em duas
frentes, dividir internamente o partido, colocando alguns grupos contra Lula e
sua liderança e fortalecendo os antigos aliados para que possam buscar uma independência
política longe da hegemonia petista. Nossos aliados precisam se fortalecer
politicamente principalmente depois que o Congresso instituiu uma cláusula de
barreira ao funcionamento partidário e sabendo disto as elites podem tentar
tirar proveito.
ARTIGO - Direito de defesa do Estado de Direito (Padre Carlos)
Direito de defesa do Estado de Direito
A luta
pela preservação da democracia é para alguns, uma luta que implica ser
tolerante com os inimigos do Estado de direito. Mesmo tendo esta compreensão,
poderemos dizer que em uma sociedade democrática pode
existir espaço, onde é legítimo dizer ou fazer tudo em nome das garantias
individual? Não podemos deixar em nome da liberdade de expressão, que
movimentos e Partidos de extrema-direita com uma clara ideologia fascista sejam
legalizados.
Estes grupos durante décadas não
encontraram penetração no sistema político brasileiro; infelizmente diante da
crise política que estamos vivendo, se aproveitaram da fragilidade das nossas instituições, para que em forma desfasada com uma nova roupagem, adquirissem presença parlamentar e chegassem ao poder. Ao
fechar os olhos para estas iniciativas, estamos sendo omissos a todas as
expressões de racismo presentes na sociedade. Deixamos acampar na praça dos Três
Poderes, associações armadas de tipo militar ou paramilitares, racistas e que propagam
a uma ideologia fascista.
Nos últimos anos, a justiça brasileira definiu que chamar os militantes
da utra-direita de fascista é crime. Não faz muito tempo, que um comentarista
de uma afiliada do SBT ganhou uma ação contra uma revista de circulação
nacional porque em uma reportagem lhe era imputado o “título” de
fascista. O magistrado que julgou a causa considerou ofensa contra a honra, no
caso, injúria. Condenou tanto a revista quanto o repórter que escreveu a
matéria.
Estamos presenciando a todo instante à discriminação, ao ódio ou à violência contra pessoa ou grupo
de pessoas por causa da sua raça, cor, origem étnica ou nacional, ascendência,
religião, sexo, orientação sexual, identidade de gênero ou deficiência física
ou psíquica, mas, não podemos chamar estas pessoas que praticam tal ofensa fascista.
O mais surpreendente
nisto tudo é que se em uma discussão entre grupos, um chamar o outro de “fascista” pelo que
recebe a resposta “comunista”, o que chamou seu oponente de comunista não está
cometendo crime. Chamar uma pessoa de “comunista” nesta situação retratada não
configura crime, pois o comunismo é uma corrente política vigente, autorizada
internacionalmente, presente em vários países e com partidos estabelecidos
oficialmente, como no Brasil, em que há, por exemplo, o PC do B (Partido
Comunista do Brasil) e o PCB (Partido Comunista Brasileiro). Já chamar
uma pessoa de fascista é crime contra honra. É considerado Injúria. Quem
declarou isso foi a Justiça do Brasil em dois casos recentes.
Sob o totalitarismo
extremista de Direita, os discursos de ódio proliferam atacando os fundamentos
do Estado democrático com manifestações nas grades cidades e muitas vezes com a
presença do próprio presidente. Os grupos de extrema-direita, ganham confiança
em cada investida perante a incapacidade ou complacência de quem devia atuar
denunciando e punindo estes crimes.
quinta-feira, 23 de julho de 2020
ARTIGO - Crise pode nacionalizar as eleições em Vitória da Conquista (Padre Carlos)
Crise pode nacionalizar as eleições em
Vitória da Conquista
Tradicionalmente, as eleições em Vitória da
Conquista, costuma ser pautada por questões locais relacionada a área da saúde
da educação das obras nos bairros periféricos e etc. Este ano, entretanto, o
cenário no nosso município deve ser um pouco diferente. De acordo com nossas
avaliações, o clima de polarização tem subido de tal forma com o presidente
Jair Bolsonaro; suas falas e comportamento tem deslocado os grandes temas das
questões nacionais para o pleito municipal, sendo estes assuntos tendo maior
peso em relação as antigas pautas.
Esta não será uma eleição com discussão sobre
buraco de rua. Quando os eleitores do lado Oeste da cidade perceberem que foram
enganados e que esta administração tem uma única preocupação: a Olívia Flores,
passarão a defender outras pautas. Assim, quando as obas do FENISA chegarem a
estes bairros, terão uma conotação eleitoreira e será um termômetro para
oposição medir o enfrentamento ao bolsonarismo e ao projeto que tem feito
oposição.
Estamos
no meio de uma pandemia, o que faz com que a eleição municipal seja marcada
pelas crises sanitária, social e econômica. O medo e a insatisfação com o
governo municipal são grandes, o que torna as ações político-eleitoral mais
complexa e difícil. O momento atual é desafiador para quem está no governo
diante do cenário de "recessão brutal" na economia e uma crise sanitária.
A pandemia que atravessa o país pode levar o
eleitor conquistense a associar a nacionalização do debate nas eleições
municipais. As pessoas não são desconectadas da realidade que elas vivem em Vitória
da Conquista, por isto, esta possibilidade é grande de vi acontecer.
Sempre
existiu a cultura que pessoas não moram na União ou nos estados, mas nos
municípios. Porém, com tudo que tem acontecido em nosso país, esta máxima foi
superada por este vírus e jogou por terra parte dos antigos consensos. Bolsonaro
usou de uma estratégia de manter constantemente os atores e a sociedade
tensionados, e isso fez com que mantivéssemos um ‘presidencialismo de
confrontação. Pela primeira vez, a eleição pode se nacionalizar.
Nem toda a classe
média pensa igual a Herzem ou tem a cabeça na casa-grande ou no Caminho do
Parque. Sempre existiu este setor atrasado que representa em torno de trinta
por cento do nosso eleitorado. Mas existe outra parte preocupado com o avanço
do fascismo e decepcionada com o projeto econômico da extrema-direita, é com
esta que Zé Raimundo precisa dialogar, para enfrentarmos o abismo social. Desta
forma, é hora de o candidato sair da quarentena e buscar as alianças com
setores da sociedade.
quarta-feira, 22 de julho de 2020
ARTIGO - O sonho de Francisco (Padre Carlos)
O sonho de Francisco
Neste final de semana ao assistir pela televisão um
padre da nossa comunidade celebrando para uma Igreja de portas fechadas, fiquei
comovido e me lembrei da homilia do Papa Francisco, do dia 27 de Março, na praça vazia de S. Pedro, cheia do mundo inteiro. Dou graças a Deus pela presença ativa
desta voz que congrega as energias de todas as pessoas que tecem redes de
esperança, neste tempo ferido de guerras, fomes, exclusões e agora pelo devastador covid-19. Estas palavras me lembraram um professor de
teologia: Alberto Antoniazzi, que falava da necessidade de a Igreja se tornar
redes de comunidades.
Como faz falta a
Igreja os concelhos daquele teólogo. Nesta pandemia estamos precisando de
muitas redes de cirineus que ajudem a levar a cruz das suas inumeráveis
vítimas, agora e no futuro. A Igreja como rede de comunidade, rede de Cirineus e redes
de esperança, podem levantar pistas de semeadura e lançar estes grãos como milagre
do pão de uma nova forma de eclesiologia
A Igreja mundial são as redes de comunidades
cristãs espalhadas pelo mundo e congregadas por essa mensagem, na fé, na
esperança e praticando o amor, a justiça, a paz. Evidentemente, é necessário um
mínimo de organização, mas a pergunta é: essa organização tem de ser piramidal,
hierárquica, machista, gerontocrática, centralizadora?
Francisco sabe que este é um combate decisivo para
o futuro da Igreja. Ele é cristão, franciscano, mas é também jesuíta, não é anarquista,
e sabe que alguma organização se impõe. Daí o seu combate permanente, sem
tréguas, contra o clericalismo, o carreirismo, a corte, que são "a peste
da Igreja", e o esforço para que se perceba que o poder só vale enquanto
serviço, e a sua abertura a uma Igreja verdadeiramente sinodal, isto é, uma
Igreja na qual todos caminham juntos, uns com os outros e todos com Jesus, ao
serviço da humanidade. O sonho de Francisco, é que se acabem com os
bispos-príncipes, só assim, conseguiremos renovar a Cúria e o banco do
Vaticano! Sem desânimo, apesar de saber que, como disse num dos discursos à
Cúria, "é mais difícil reformar a Cúria do que limpar a esfinge do Egito
com uma escova de dentes". Para que haja verdadeiramente um aggirornamento,
a Igreja necessita, em primeiro lugar, de que todos os seus membros renovem o
essencial: a fé. Neste sentido, significativamente, apareceu agora uma nova
versão do "Catecismo da Igreja Católica", e a mensagem essencial é
que o centro não está nas doutrinas, mas na pessoa de Jesus, e, por isso, o importante
é que "cada pessoa descubra que vale a pena acreditar" e conheça o
amor cristão. Isso impõe, certamente, estar atento também à utilização das
novas tecnologias e ser uma presença evangelizadora no continente Americano.
Nossa linguagem tem que ser adaptada a esta nova
realidade. Por exemplo, não podemos continuar falando do pecado original, como
temos pregado, e é preciso perguntar o que significa hoje "ressurreição da
carne", "desceu aos infernos", "gerado, não criado,
consubstancial ao Pai". Não se pode ficar parados no tempo com rituais,
com gestos e sinais que não significam mais nada para o imaginário dos fiéis, o
que implica que urge a adaptação da liturgia e de toda a linguagem da fé às
diferentes culturas, com o que chamamos de “inculturação do Evangelho."
Como tenho muitos irmãos do antigo presbitério de
Conquista, hoje bispos, vou começar o
exemplo por eles. Nesta nova eclesiologia, a simplicidade tem de ser lei:
pense-se, por exemplo, naquele ritual da tira e põe do solidéu, o mesmo
acontecendo com a mitra. Sobre esta, falou Santo António, num sermão do Advento,
"Cairão os unicórnios, os imperadores e reis deste mundo e os touros, os
bispos mitrados, que têm na cabeça dois cornos como se fossem touros."
A Igreja tem de continuar fomentando o ecumenismo
- felizmente, o Vaticano põe a questão de revogar a excomunhão a Lutero - e o
diálogo inter-religioso.
Com que fundamentos justificamos a imposição do
celibato obrigatório ou a discriminação das mulheres? Sobre a Igreja sinodal, que é o tema do
próximo Sínodo em outubro de 2022, o sociólogo Javier Elzo lembra muita a
proposta de Antoniazzi quando expõe seu projeto: "Uma Igreja em rede, à
maneira de um gigantesco arquipélago que cubra a face da Terra, com diferentes
nós em diferentes partes do mundo, inter-relacionados e todos religados a um nó
central, que não é centralizador, que, na atualidade, está no Vaticano. Aí ou
noutras partes do planeta, todos os anos reunir-se-ia uma representação
universal de bispos, padres, religiosas e religiosos, leigos (homens e
mulheres), sob a presidência do Papa, para debater a situação da Igreja no
mundo e adaptar as decisões pertinentes", também no que se refere aos
problemas da humanidade.
segunda-feira, 20 de julho de 2020
ARTIGO - MDB de esquerda de Flávio Dino (Padre Carlos)
MDB de esquerda de Flávio Dino
O jornal O Globo publicou nesta segunda-feira,
20 de julho, uma matéria que chama a atenção dos analistas para uma mudança no
tabuleiro da política. Segundo a notícia, algumas lideranças do campo da
esquerda, entre elas o governador Flavio Dino, estaria articulando a criação de
um novo partido de esquerda que teria como objetivo um protagonismo maior, bem como
participação das decisões no campo progressista. Não podemos negar que os obstáculos que o
PCdoB e o PSB têm enfrentado neste quesito e as dificuldades encontrada em
emplacar um nome para a corrida presidencial são visíveis. Assim, diante do
atual cenário político, estão sendo feitas segundo a grande imprensa, uma série
de conversas com algumas lideranças para colocar em curso este projeto.
O desempenho dos partidos de
esquerda com exceção do PT, tem se confirmado um fracasso político no campo eleitoral.
Temos uma participação destes de forma pontual em alguns estados, mas nada que
possa construir um projeto de cunho nacional. Isto termina levando estes
partidos a comporem que o PT na busca de formar um projeto maior. Desde então os partidos de esquerda, tem tomando
uma postura de marcar posição em determinas cidades e estados, devido à falta
de uma base a nível nacional que possa lhe dar sustentação para formular um
projeto estratégico alternativo para o Brasil, ficando reduzido a uma força
setorial e pontual.
Desta forma, a grande
imprensa tem colocado o governador do Maranhão como o grande operador desta empreitada
e além da articulação que tem como pano de fundo a fusão do PCdoB e do PSB, que
passaria a receber do fundo partidário a quantia de 145 milhões de reais, valor
superior aos do PSDB, DEM e PP, poderiam também receber algumas lideranças do
centro e da esquerda como o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL RJ), que a
muito tempo vem se desentendendo com o Diretório Estadual do seu partido.
Diante de tais fatos, podemos constatar uma
articulação dentro das forças progressistas para que novas lideranças
possam brotar. O PT, maior partido do campo das esquerdas, tem nestes últimos
trinta anos conseguido se manter como a força hegemônica e sempre buscou
desempenhar este papel de liderança apesar dos aliados quererem também ocupar
tal função no projeto de governo, o que é normal, já que todo partido busca o seu crescimento para colocar em pratica seu programa. Mesmo com todo este capital político, o PT vem enfrentando críticas dos aliados, o que é normal quando se
exerce tal liderança, apesar de saber que estas críticas fazem parte do jogo
político, o PT não deve entender estas movimentações como uma tentativa de isolá-lo, mas de um fortalecimento do campo democrático.
Todos os partidos têm o
direito de lançar candidatos e não seria a primeira vez que as esquerdas teriam
mais de um candidato à presidência. Acredito que o PT levará todas estas
informações em conta e passará a compor suas chapas nas capitais e nas granes
cidades dentro de um projeto estratégico para 2022.
A esquerdas brasileira
necessita de experiências novas, de novos desafios, de novos objetivos, de
novas metas, de novas lideranças, de novos partidos e até mesmo de novos
amores.
Quem não tenta algo novo, quem não vive nada novo, morre.
Morre aos poucos, vai morrendo lentamente, vai matando aos poucos a alma.
Quem não tenta algo novo, quem não vive nada novo, morre.
Morre aos poucos, vai morrendo lentamente, vai matando aos poucos a alma.
domingo, 19 de julho de 2020
ARTIGO - Orem pelos infectados que estão morrendo sozinhos! (Padre Carlos)
Orem pelos infectados que estão morrendo sozinhos!
Conversando com um amigo que acaba de perder
um ente querido, vítima do
covid-19, pude entender a dor e o sentimento de uma família não poder se
despedi de quem ama. Lembrei
naquele momento das curas aos leprosos e o que ela significava para Jesus e sua
cultura. Naquele tempo, o “leproso” era excluído da sociedade e do meio
familiar.
Pestes e doenças sempre causam medo à
humanidade. Desde o início dos tempos, nossos antepassados tiveram que lidar
com elas. A hanseníase, também conhecida como lepra é a primeira doença a qual
se tem registro. Algumas culturas a descreviam como uma maldição, o que fez com
que durante séculos os leprosos fossem isolados das outras pessoas. Já a peste
que dizimou um terço da população da Europa no século XIV também foi vista por
alguns como uma maldição ou castigo divino. Para combatê-la, médicos com roupas
pretas, hoje são brancas, cetros e máscaras arriscavam suas vidas enquanto
buscavam formas de tratar aquela doença. Ela se repete, não como farsa, mas
como mais uma quadra da nossa história para resgatar os seus heróis e as suas
vítimas.
Presenciamos a todo momento,
profissionais da área da saúde trabalhando para salvar vidas e cientistas
correndo contra o tempo, realizando pesquisas para criar uma vacina e a cura
para esta doença. Diante de todos estes fatos, não podemos tolerar ou ser
omisso aos atos de racismo. Assim, presenciamos asiáticos sendo vítimas de atos
de intolerância em vários países. Lamentavelmente, o surto do Coronavírus
também veio acompanhado de atos de xenofobia contra chineses, asiáticos e seus
descendentes. Quando responsabilizamos, a origem da doença aos infectados, seja
asiático ou brasileiro, ao mesmo tempo estamos acusando e responsabilizando
esta pessoa pela transmissão do vírus e do mal que se abate sobre a nossa casa.
Assim, a dor do infectado ao estar longe da sua família, do medo das pessoas de chegarem perto dele e o grau de rejeição que estes experimentam, termina criando feridas profundas. E quando esta rejeição e medo vem junto com um abandono, a dor é sentida na alma. Os doentes com este vírus, não estão exagerando quando falam que este sofrimento chega a ser físico.
Orem pelos que se sentem só, mesmo que esteja cercado por médicos e enfermeiras em uma UTI, pelas lágrimas perdidas, pelos desencontros da vida, pela incerteza do amanhecer depois de intubado, por muitos que procuram palavras para encostarem ombros e não encontram.
Orem pelos profissionais de saúde que atendem
estas pobres almas pela responsabilidade de servir, sem cobrar tributos de
gratidão, pela mão que entrega e se esconde na invisibilidade, pelos que se
tornam coberta aos que tremem no frio da solidão ou no calor da maldade.
sexta-feira, 17 de julho de 2020
ARTIGO - Uma Igreja de portas abertas (Padre Carlos)
Uma Igreja de portas abertas
Estes
dias, semanas e meses de confinamento, trouxeram um vazio na nossa alma, a
ponto de chamar a atenção dos próprios místicos. Este vem acompanhado de um
medo que não conhecíamos e que parece agora um inquilino da nossa alma. O vazio
dos espaços confinados. O vazio da vida, como disse bem Dom Tolentino.
Foi penando neste vazio
e do medo que está povoando nosso coração, que me coloco a serviço da Igreja. Neste
momento de pandemia, o Papa Francisco nos convoca para sermos missionário de
uma Igreja de portas abertas. A nossa pertença ao Corpo de Cristo na história
dos homens e mulheres deste tempo passa, necessariamente, pelas escolhas efetivas
vindouras do nosso Batismo. Abrir as portas da Igreja significa abrir nossa
existência a Deus e aos nossos irmãos, significa ainda propor a misericórdia de
Deus nas nossas relações fraternas.
O Evangelho da Misericórdia de Jesus a todo
tempo coloca-nos diante dos dramas e alegrias da humanidade. Não podemos ser
indiferentes aos sofrimentos das pessoas, principalmente com os infectados com
o vírus e com os milhares de famílias que perderam seus entes queridos. Cabe à
Igreja colocar-se a serviço, pôr-se como a via do coração de Deus que alcança o
coração da humanidade. O serviço da Igreja passa por ações misericordiosas que
devem impactar a sociedade. Não podemos contentar-nos ao lugar da religião como
realidade privada. Não! A missão da Boa Nova de Jesus deve chegar a todos os
confins da terra; e somos convictos disso porque não apresentamos ideias ou pensamentos
interessantes, mas oferecemos a Pessoa de Jesus Cristo. Somente e a partir
dEle a Igreja tem credibilidade de ir ao encontro de todos os homens e mulheres,
e não podemos justificar nossa indiferença porque o mundo passa por uma crise
sanitária. Deus, que não é uma experiência privada, sacia a sede de todos os
homens.
Como superar os desafios que, constantemente,
buscam colocar Deus para fora das nossas vidas? O que a Igreja quer oferecer as
suas gerações futuras? Esse questionamento tem permanecidos ao longo desta quarentena,
e são questiona mentos importantes e que devem ser respondidos a partir do chão
histórico da Comunidade de Fé. O testemunho dos discípulos e missionários,
quando vivido com compromisso, vai colocando Deus novamente para o centro das
decisões. Tal testemunho fala da Pessoa de Jesus e nos convoca a alargar o
coração para o acolhimento de todos, principalmente dos mais sofredores.
Queremos, como Igreja de Jesus Cristo presente neste mundo, dar de graça o que
de graça recebemos, e recebemos Jesus Cristo. Queremos oferecer às gerações
futuras uma Igreja Missionária e Misericordiosa, uma Igreja que não negocia com
a cultura de morte. Eis o que efetivamente desejamos ser: uma Igreja de portas
abertas porque muito foi amada por Deus!
quarta-feira, 15 de julho de 2020
ARTIGO - As Igrejas e a pós-pandemia (Padre Carlos)
As Igrejas e a pós-pandemia
Muita
gente tem buscado artigos e analise sobre a pós pandemia e como o mundo vai
absorver todas estas perdas. Estas pessoas esquecem que são os nossos
comportamentos nesta quadra da história, que determinará o nosso futuro. Realmente
este vírus tem obrigado o homem a parar e pensar sobre a sua vida e o futuro do
planeta. Fez com que todas as pessoas refletissem sobre seus atos e da
necessidade de uma mudança de valores e hábitos; não porque quisessem fazer estas
mudanças mas, foram obrigados em razão do medo e por imposição das
autoridades sanitária. Desta forma, comportamentos culturais, formas de ser e
de viver, que as pessoas e a comunidade levariam décadas para alcançar estão
sendo superados em meses. O certo e que muita gente não quer admitir é que o
mundo jamais será o mesmo, as instituições, o estado, o modo de ver as coisas,
vão com certeza mudar.
Pouco
se estudou como a Gripe Espanhola impactou nas mudanças no Brasil,
mas depois dela podemos constatar diversos acontecimentos na década pós gripe,
que resultaram na revolução de trinta.
Mas,
o que eu gostaria mesmo era de falar da necessidade que as Igrejas tiveram no
pós guerra e nos pós pandemias que sucederam ao longo da história. A semelhança
que podemos constatar das duas, remete a comunidade de fé para a
responsabilidade de pastorear uma comunidade partida e cheia de dúvidas e
conflitos espirituais. Existem entre os dois fenômenos muitas semelhanças,
assim como no pós guerra as Igrejas tiveram este papel, os horrores que o mundo
tem passado com esta crise sanitária, principalmente o povo brasileiro, diante
do descaso com os mais pobres e a inercia dos poderes públicos leva a crer que
o sofrimento e o fim de todo este pesadelo está longe de acabar.
O
pós-pandemia dependerá do nosso comportamento e como estamos sendo tocados com
todo este sofrimento. Se você ficar indiferente com tudo isto que tem
acontecido, então nada vai mudar. Não existe maior tristeza que morrer sozinho
e uma UTI, longe das pessoas que amamos. Visitem infectados pelo coronavírus, para que sintam a presença
de Deus neste momento de calvário. Só um verdadeiro Pastor tem esta
sensibilidade.
Precisamos buscar forças para seguir com
as nossas vidas, o povo brasileiro mesmo sofrendo com estas perdas,
precisa acreditar no Deus misericordioso e que é Pai e ama seus filhos.
Temos
que ser solidário com os profissionais da saúde, rezar desta forma a Deus como
fez o Santo Padre: "Sustentai aqueles que se gastam pelos
necessitados: os voluntários, enfermeiros e médicos, os que estão na vanguarda
do tratamento dos doentes, à custa da sua própria segurança",
A
Igreja terá um papel fundamental de pacificar a alma dos seus fiéis e repactuar
sua fé para que possamos tocar as nossas vidas. Não com fundamentalismo mas,
com amor, e levando um Deus com a face misericordiosa.
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