domingo, 28 de fevereiro de 2021

ARTIGO - DE REPENTE, SESSENTA… (Padre Carlos)

 


DE REPENTE, SESSENTA…

  


Quando cheguei aos 60 no ano passado descobrir que ao contrario dos sexagenários da época em que era pequeno não me considerava o único dono da verdade, assim com esta idade passei a aceitar tudo sem fazer muitas exigências.

Portanto aceito que os nossos políticos nos mintam sempre, afinal a mentira é um recurso reconhecido como exclusivamente humano. Passei também aceitar que os corruptos sejam sempre inocentados dos seus crimes, que a justiça seja demasiadamente lenta, que as vacinas não sejam levadas a sério por um grupo e que a saúde do país seja entregue aos cuidados dos militares.

Aceito que alguém ao fim de mais de meio século de vida perceba que andou escondido em algum armário e saia finalmente de lá, sem saber que sua vida está findando, como aceito que mintam quando me dizem: que estou cada vez mais novo e eu finjo que não existem aquelas rugas e a pele que não deixa dúvidas da fase em que me encontro.

Aceito tudo... menos ser tratado como incapaz e apesar de todo este otimismo, sinto o mercado de trabalho fechando as portas para as pessoas da minha idade. Quando não se respeita um indivíduo em sua integridade emocional, intelectual e material, ele é excluído da sociedade pelos governos, pelas instituições, pelas famílias, pelas pessoas em geral. Os grupos mais excluídos por essas práticas são os idosos.

Engana-se quem pensa que cabelos brancos significam que é hora de parar. Eles já nem são mais um sinônimo de velhice. O pensamento de que aos 60 anos já se aproveitou o melhor da existência está bem longe de ser verdade. Diante disto, busco abrir com as mãos este espaço que sociedade tem me negado.


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