Nossa geração fez a
diferença!
Sempre
é um prazer conversar com amigos e um deles é o Dr. Afrânio Garcez, afinal amigo
é aquela pessoa com quem conversamos sem reservas, independente da hora ele
sabe oferecer o aconchego do seu coração sem pedir nada em troca, e quando ele
precisa sabe que pode fazer o mesmo sem objeção. Assim, eu e meu amigo, quando conversamos
fazemos uma vagem no tempo e na história. Outro dia lembrávamos que decorridos
tantos anos do fim da ditadura, observávamos que a geração da utopia está
partindo e a nova moçada não está sendo capaz de produzir novas narrativas
utópicas. Somos todos prisioneiros do presente e das suas dinâmicas.
A música do compositor cearense poderia servir, perfeitamente, como pano de fundo daquela conversa o percurso da geração que lutou contra o regime militar e numa viagem no tempo, fazer esta travessia do passado para o presente.
Eu
com aquele meu jeito professoral perguntava a ele, como resgatar a nossas lembranças
como seria uma abordagem junguiana da nossa memória coletiva e
histórica, através do retrato de uma geração da qual fizeram parte muitos dos
líderes estudantil e operário, de uma juventude forjada no movimento político
Falei da minha militância no movimento estudantil e no PC do B, falei também da
minha amizade com Valdélio o DCE e a (Viração), do racha do partido da fundação
do PT e de minha aproximação com o 113 através de Wagner e Zezeu, ele por outro
lado falava dos contemporâneos e da luta e citava com orgulho, os amigos, Bira
Mota, Edmilson Gonçalves, Mara Porto, José Carlos Latinha, Pedro
Massinha,
É
verdade amigo, a geração da utopia era constituída por estudantes de uma elite
e da classe média que se encontravam nas metrópoles, muitos dos quais vivendo
em residências estudantil e apesar da militância não traduzir na verdade um
rompimento de classe lutava por democracia e todas as bandeiras que levaram ao
fim do regime. Eram jovens promissores que pretendia através da profissão como
você que fez do direito um sacerdócio, fizer a diferença, mesmo fazendo parte
da elite local, abraçou a causa dos mais pobres dessa terra. O bom disso tudo é
que parte desta geração tinha ambições de natureza sociopolíticas completamente
diferentes da sua classe e foi este universo coletivo, que incorporado aos
novos movimentos operário, passaram a fazer parte de uma nova narrativa para o
país. Assim, fizeram dos seus sonhos uma utopia política. Estes jovens, já
tinham mergulhado em lutas que não eram a via democráticas e aprenderam da
forma mais cruel e dolorosa que a democracia era a via transformadora.
A
construção de uma esquerda, o movimento sindical e popular, a luta pelas
diretas e o fim da ditadura, tiveram o papel de carregar, este lastro utópico,
no sentido de um país mais justo e livre para todos os brasileiros.
Neste
momento a ficha caiu e assim olhei para meu amigo e falei: sabe companheiro,
depois de tantos anos do fim do regime militar, observo que essa nossa geração
está deixando a arena depois de combater o bom combate e os novos quadros da
esquerda, não estão sendo capaz de produzir novas narrativas utópicas. Dando,
sim, lugar a uma geração sem compromisso com seu passado, perdendo, deste modo,
um referencial de luta e protesto, sem motivação para o enfrentamento com os
regimes.
Eu
confesso meu amigo que também temos um pouco de culpa em está passando uma
realidade presente para esta geração sem espaço para utopias, porque as
necessidades materiais imediatas passaram a determinar as nossas ações
presentes.
Assim
Afrânio, o nosso discurso que foi marcado durante todos estes ano, por uma
visão sustentada por um tom utópico, é descrito como sendo irrealista e fora da
realidade concreta. Ou seja, deixou de se alimentar uma possibilidade de futuro
utópico porque somos todos prisioneiros do presente e das suas dinâmicas.
Desta
forma chegamos depois daquela conversa à conclusão que as utopias que nortearam
nossas ações são lembranças destes jovens que se despedem do picadeiro da vida
e esperam que tenhamos força para dar continuidade as suas lutas.
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