segunda-feira, 31 de outubro de 2022

ARTIGO - Lula ganhou. E agora? (Padre Carlos)

 


A polarização e o novo governo.



 

Não basta ganhar é preciso saber governar e para isto, o presidente eleito terá pela frente a tarefa de pacificar e repactuar  os setores da sociedade com um projeto de nação. Esta se não for a maior, com certeza é a mais urgente! Lula tem que encarar este problema de frente como uma das principais e imediatas tarefas e para isto, será necessário desarmar os espíritos radicalizados desta eleição e superar a polarização que se formou no nosso país. Só assim, Lula conseguirá ter condições para governar e construir um caminho que leve a prosperidade nos próximos quatro anos. 

O que definiu a vitória de Lula sobre Bolsonaro foram 2 139 625 votos. Isto representa 1,8% esta é a real diferença entre o vencedor do segundo turno desta eleição presidencial. Trata-se da margem mais curta entre dois candidatos presidenciais da história do Brasil desde a redemocratização em 1985. A eleição foi extremamente disputada voto a voto. Com isto, Lula se tornou o candidato mais bem votado da história do Brasil, superando, pela primeira vez, os 60 milhões de votos. Bolsonaro, apesar da derrota, conseguiu uma votação mais expressiva do que há quatro anos.

Lula venceu, mas isto só não basta! A sua tarefa nos próximos dias será árdua. Para ser bem-sucedido, o presidente eleito do Partido dos Trabalhadores (PT) terá de superar esta polarização e repactua o país. Só assim conseguirá ter condições para governar e construir um projeto de desenvolvimento para o país nos próximos quatro anos. 

Levantamos estas questões porque Lula está recebendo um país extremamente dividido, cujas cisões já vêm desde 2013 e que resultaram numa sucessão dramática de eventos políticos: golpe parlamentar que resultou na destituição de Dilma Rousseff (2016), prisão de Lula (2018) e vitória de Jair Bolsonaro para presidente do Brasil (2018). Quero aqui chamar a atenção para o fato que Bolsonaro acirrou esta polarização para fazer dela uma estratégia política e mobilizar e conseguir com isto o apoio da sua base. Tendo concorrido e vencido as eleições de 2018 enquanto candidato “anti-sistema”, procurou comportar-se retoricamente também como um presidente “anti-sistema”. Desta forma, criou diversas tensões com a imprensa à comunidade acadêmica, universidades, governadores, o STF e outros órgãos de poder. A sua retórica incidiu também sobre o sistema democrático, tendo ameaçado várias vezes de não aceitar os resultados em caso de derrota.

Até à hora que escrevia este artigo, Bolsonaro não tinha dado nenhuma coletiva sobre os resultados eleitorais, deixando no ar a possibilidade de não reconhecimento da derrota. Este rito da democracia é um momento fundamental no processo de transição pacífica de poder. A falta deste gesto só contribui para acirrar ainda mais a polarização já existente. A sua base mais radical começa ver neste comportamento do atual presidente como um sinal para perturbar a normalidade democrática do Brasil. As manifestações de caminheiros em vários estados é uma amostra das atividades que podem acontecer caso a radicalização da frente bolsonaristas se mantenha viva.

Sabemos que Bolsonaro não vai fazer nada para contribuir com o processo de pacificação política no Brasil, esse esforço terá de vir principalmente do presidente Lula. Entre os vários pontos importantes dessa estratégia de conciliação nacional, há dois pontos relevantes. Em primeiro lugar, a formação de governo. Lula já indicou que o futuro governo não será só do PT, tendo repetido essa fala no discurso de vitória. É possível que representantes do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e do União Brasil (UB) possam participar de um futuro governo. Os nomes mais falados são os de Simone Tebet (MDB) para o Ministério da Educação e de Henrique Meirelles (UB) para a Economia.

Estas opções seriam importantes para garantir uma visão plural do governo, mas também para construir uma aliança com os respetivos partidos no Congresso. Como articulador Lula sabe que tem de fazer tudo isto, preservando a liderança do PT de forma a manter a confiança da sua base que esteve consigo desde o início e nos momentos mais difíceis.

O grande problema que teremos que enfrentar é como vamos discutir o destino de Bolsonaro e ao mesmo tempo pacificar o país. O candidato derrotado e atual presidente enfrenta várias ações judiciais e desta forma, como poderemos abrir a caixa de pandora com o levantamento do sigilo de 100 anos aplicado a vários atos durante a sua presidência? Sem imunidade, Bolsonaro poderá ser formalmente processado e julgado. A forma como o governo e o sistema político vão tratar esta questão terá inevitavelmente um impacto na polarização. A questão será como gerir esse impacto. Há várias possibilidades: amnistia, comissão de justiça e verdade, ou investigações judiciais. Todas estas opções estão ainda em aberto. Porém, para tratar esta questão, antes de tudo teremos que admitir que exista um racha profundo na sociedade e neste momento os problemas brasileiros são mais importantes que as loucuras de alguns políticos.

 

 

 


ARTIGO - O que estava em jogo nesta eleição? (Padre Carlos)

 



Bolsonaro e Trump: As táticas semelhantes (e diferentes) na reta final das eleições



O Brasil viveu neste domingo aquela que pode ter sido a eleição presidencial mais importante da sua história. Neste 30 de outubro, os eleitores decidiram quem seria o presidente do país com a maior população da América do Sul e que é a quarta maior democracia do mundo. Os eleitores derrotaram também o novo movimento global da extrema-direita populista que tem no atual presidente, Jair Bolsonaro, o seu líder nacional e no antigo presidente dos EUA, Donald Trump, o seu expoente mais conhecido em todo o mundo.

O fenómeno político que Bolsonaro e Trump encarnam tem uma característica fundamental: utilizar o processo democrático e depois enfraquecê-lo de modo a torná-lo irreconhecível e incapaz de conter os excessos autoritários dos seus presidentes. Tanto Trump como Bolsonaro foram eleitos pelo voto popular. Os dois governaram de forma semelhante: mobilizaram uma base radicalizada, elogiaram o uso de armas de fogo, divulgaram notícias falsas e desinformação política, criaram teorias da conspiração e trataram os seus opositores políticos como inimigos e não como adversários legítimos. Ambos atacaram a imprensa livre e levantaram acusações falsas e infundadas contra os seus sistemas eleitorais e órgãos de controlo judicial como o Supremo Tribunal Eleitoral.

Trump falhou na sua tentativa de golpe, que culminou na invasão do Capitólio dos EUA no dia 6 de janeiro de 2021. Embora Bolsonaro tentasse durante toda a semana tumultuar o processo eleitoral sem sucesso, não foi ousado ou irresponsável  como o seu  mentor político. Apesar de não ter dado certo, tudo começa quando ele determina que às Forças Armadas, como instituição, realize uma "contagem paralela de votos", embora esta função nunca tenha sido delegada aos militares na história das eleições brasileiras.

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

ARTIGO - O retrato de um país dividido pelo ódio (Padre Carlos)

 


Precisamos desarmar os espíritos e repactuar o país.




No próximo domingo (30), os brasileiros vão às urnas de punhos cerrados, esta eleição tem de certa forma, um gosto de acerto de contas, Quando digitarmos nosso voto não poderemos esquecer que somos o maior exportador mundial de carne e por isto, não justifica que 33 milhões de pessoas passem fome. Por isto, esta eleição obriga a população a olhar-se no espelho e reconhecer a face de um país onde um quarto da sua população se encontra em situação de pobreza ou extrema pobreza.

Mesmo entendendo estas diferencias e desigualdade, temos que respeitar as pessoas e suas escolhas. Cada um tem uma opinião e uma ideologia diferente que deve ser respeitada, só assim vamos acabar com a intolerância e este ódio que estamos assistindo em nosso país. Intolerância e ódio que alastraram após as eleições de 2018. Este cenário tem que mudar conscientizando que o ódio à intolerância só leva a discórdia entre as pessoas e regiões em todo o país. Temos que combater o ódio e a intolerância sem que haja uma luta onde rebatemos com a mesma moeda.

A disputa entre Bolsonaro e Lula ficou clara na divisão regional no primeiro turno. Bolsonaro teve mais votos que o petista no Sudeste no Sul e no Centro-Oeste. Já Lula ganhou no Nordeste  e no Norte.

Diante deste fato, temos consciência que os dois Brasis não se sustentam apenas pelo processo eleitoral e repactuar estas regiões será fundamental para poder governar o Brasil.

 

         Não podemos negar que o país está dividido entre dois projetos, após uma campanha marcada por intensos ataques e polarizada, deixou visível o racha entre sul e nordeste, colocando em risco o pacto federativo. Não são apenas ricos contra pobres, brancos contra pretos, esquerda contra direita, evangélicos contra católicos. São brasileiros contra brasileiros. Assim, o presidente eleito terá pela frente a tarefa de repactuar  os setores da sociedade com um projeto de nação como uma das principais e imediatas tarefas desarmando os espíritos radicalizados desta eleição.


quarta-feira, 26 de outubro de 2022

ARTIGO - Os 100 anos de Darcy Ribeiro e a influencia do Sudoeste baiano em sua obra.

 


Darcy Ribeiro: 100 anos de luta!

 

 


Somos influenciados o tempo inteiro e por mais que não queiramos, terminamos levando estas raízes com a gente. São elas que terminam definindo como agimos em determinadas situações da nossa vida e principalmente como interagimos com todas as outras pessoas que encontramos durante a travessia nesta terra. Seja essa influência negativa ou positiva, ela vai moldando e mudando não só o seu comportamento mais de toda uma região, ela é muito mais profunda do que nós acreditamos e para falar deste Mineiro de Montes Claros que completa hoje 100 anos, fui buscar a relação dos intelectuais da Região do sudoeste, Anísio Teixeira e Glauber Rocha com Darcy Ribeiro e o modo de pensar o Brasil.

O Darcy educador teve forte influência de Anísio Teixeira, a quem considerava como seu modelo de filósofo educador. Ele costumava dizer que, sem a educação, os colonizadores acabariam vencendo. E para traçar sua estratégia no campo da educação, as ideias revolucionárias deste baiano foram fundamentais. Só retornando aos textos de Anísio é que podemos entender como ele inspirou Darcy e a sua geração. Como dizia o baiano de  Caetité: “Uma coisa que sempre cogito, que sempre estou me perguntando, como é que o Brasil conseguiu ser tão ruim em educação e continua sendo tão ruim em educação? A única explicação que tenho é que é um defeito da nossa classe dominante. A nossa sociedade é uma sociedade enferma de desigualdades, suponho que a causa básica está em que somos descendentes dos senhores de escravos, fomos o último país do mundo, a acabar com a escravidão, ela cria um tipo de senhorialidade que se autodignifica, que se acha branca, bonita, civilizada, come bem, é requintada, mas que tem ódio do povo, trata o povo como carvão para queimar.”  

Foi com estas certezas que Darcy chega a Brasília para assumir o ministério da Educação no governo de João Goulart e criar um projeto inovador de Universidade, sem segmentação por departamentos. Mesmo cassado e exilado, não se esqueceu do projeto e ao retornar ao Brasil criou uma experiência inovadora que oferecia às crianças e jovens menos favorecidos, uma educação de qualidade – os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs). Este projeto, idealizado por Darcy Ribeiro, baseava-se em uma visão ampla de educação, vista como formadora de cidadania.  .

Darcy também era um admirador do trabalho de Glauber Rocha e acompanhava de perto o baiano na sua saga por cultura e liberdade. Dizia ele: "A classe dominante sempre se deu bem e continua se dando bem. Mas o povão tá aí, com uma fome que é espantosa. Por que há fome nesse país?", disse e escreveu há quase 30 anos.

Só quem conhece o sudoeste baiano e o norte de Minas Gerais, poderá entender porque ele provocou prantos no discurso que fez no enterro do cineasta Glauber Rocha, em 1981, ao afirmar que, certa vez, o artista chorava e dizia "o país que não deu certo".

"Glauber chorava a dor que todos os brasileiros deveriam chorar a dor das crianças com fome no Brasil, a dor do país que não deu certo. Glauber chorava a estupidez, a brutalidade, a mediocridade, a tortura."

Estes homens denunciaram e lutaram contra uma classe dominante que vê o povo com reles. Por isto, não tem interesse em educar nem alimenta-lo.

 


terça-feira, 25 de outubro de 2022

ARTIGO - A granada explodiu no colo de Bolsonaro. (Padre Carlos)

 

Os representantes de uma “elite” acima da lei.


 


Ao escandalizar todo o país disparando contra a polícia federal, o ex-deputado Roberto Jefferson , deixa claro na atitude arrogante ao receber a ordem de prisão o preconceito e toda aversão e o ódio contra a Justiça e o Estado de Direito. O ex-deputado e a elite que ele representa têm como regra não aceitar a ordem jurídica e acredita que esta só deve ser respeitada pelo povo.

Diante disto, ao enfrentar as autoridades com granadas e 50 tiros de fuzil contra policiais federais, este (político ou marginal, etc.) deixa claro para os pobres mortais que têm o seu próprio ordenamento, sem qualquer necessidade de se incomodar em respeitar à Constituição Federal e as leis civis e penais, pois se constituem em “elite” acima da lei.

A certeza que fica é que Sr. Roberto Jefferson  só cometeu estes crimes, porque existe um sentimento dentro da elite brasileira, que ela é superior às outras classes e que a nação é composta só por ela.

Quero deixar claro que não estou questionando a legalidade da ação, mas fica a preocupação para o cidadão, sobre a existência que foi criada por este senhor de um perigo iminente e a gravidade do risco para os agentes de segurança pública e para terceiros e a falta de proporcionalidade da reação e a situação concreta, e a necessidade de analisar todas estas circunstâncias em curto espaço de tempo.

Levanto estas questões, porque estamos falando de um policial que era negociador formado pelo Comando de Operações Táticas (COT) – a tropa de elite da Polícia Federal e por isto não entendemos esta ação ao serem recebidos com granadas e 50 tiros de fuzil. Confesso aos senhores e senhoras, que fiquei chocado com o comportamento destes polícias que conversavam e riam amistosamente depois de tudo o que aconteceu, durante as “negociações” para prender o ex-deputado bolsonarista e dirigente do PTB Roberto Jefferson.

Isto fica claro quando nos conflitos entre funcionários públicos vindo das camadas populares, precisam interpelar alguns membros desta elite quando porventura cometem alguma infração ou se acham no direito de não acatar certas leis. O comportamento das forças de segurança pública ou parte dela revela que ainda não foi possível fazer a transição da estrutura colonial escravista para a sociedade cidadã em que vigora os princípios da democracia.

 

 


 

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

ARTIGO - Qual a expectativas do eleitor nesta reta final de campanha? (Padre Carlos)

 


Lula e Bolsonaro no segundo turno: veja propostas dos candidatos.


 

Entramos na última semana da propaganda política e dos arremates que os candidatos dão às suas campanhas, nessa fase, já está definida qual parte do eleitorado escolheu seu candidato e qual parcela ainda está indecisa. O quadro é o mesmo, ou seja, Bolsonaro representando a Utradireita versus Lula, com uma frente democrática que vai da direita à esquerda. Por isso, o desafio dessa etapa da campanha é “ativar” os votos comprometidos e atrair os indecisos com as investidas de alguns marqueteiros e apoiadores que buscam cuidar apenas dos ataques pessoais e da divulgação de falsas notícias pelas redes sociais. O eleitor brasileiro pode falar tudo menos que estejam sendo ocultadas as reais intenções que definem o futuro do Brasil desejado pelos candidatos. No entanto, é o povo brasileiro quem vai decidi qual o projeto de governo que eles querem.

Esta pergunta não será difícil responder, afinal nenhum dos dois candidatos é debutante. Jair Bolsonaro tem governado o nosso país nestes últimos anos, enquanto Lula governou por oito anos e sendo assim, fica mais fácil responder em quem vai votar. Não há como aprofundar a discussão aqui à falta de espaço, mas há possibilidade pelo menos de fazer vislumbrar luz no fim do túnel, com apreciação destacada de alguns pontos críticos de seus programas.

Uma análise comparativa entre os projetos dos dois candidatos leva o analista a concluir que, embora ambos tenham objetivos semelhantes no tocante ao combate à crise e ao crescimento da economia, eles têm propostas diferentes para o atingimento dessas metas. Jair Bolsonaro apresenta projeto com proposta que contempla a diminuição do setor público e o aumento da iniciativa privada neste setor. Para ele, é necessário privatizar todas as empresas públicas, pois a eficiência na gestão da atividade econômica, principalmente sob o aspecto da produtividade fica a quem da iniciativa privada. E a experiência tem demonstrado que, para esse efeito, os empresários são mais competentes que o Poder Público. Já Luiz Inácio Lula da Silva apresenta projeto de maior participação estatal na economia. Para ele, o Poder Público deve promover e assegurar ao povo brasileiro suas riquezas, bens e serviços indispensáveis para que possa viver com qualidade de vida e dignidade da pessoa humana.

No tocante ao comércio exterior, os candidatos entendem da necessidade de ampliação da abertura com o exterior, porém Bolsonaro vê a Europa e os Estados Unidos como parceiros naturais, enquanto Lula prega a volta da política de integração da América Latina devido a sua importância na “Política Externa Ativa e Altiva” dos governos do PT. Defende a recriação das condições políticas para uma articulação sul-sul e da aproximação com os continentes africanos,  asiático e o Oriente Médio e o resgate da importância e liderança que o Brasil exerceu em relação aos países em desenvolvimento. Para ele, é necessário voltar a ter a real noção da importância da formação de blocos como o Brics e o Ibas, vistos como estratégicos na construção de articulações contra hegemônicas e para a reforma da ordem internacional vigente e de suas instituições é fundamental.

Em termos de segurança pública Bolsonaro defende a flexibilização da posse de armas e a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. Lula: pretende criar o Ministério da Segurança Pública com foco no combate ao tráfico de armas e drogas na região de fronteira e aumentar o controle sobre a venda de armas.

Em relação à imprensa O presidente Jair Bolsonaro trava uma guerra, para  cada pergunta incômoda, um insulto: "mentirosa", "canalha", "você é uma vergonha”. Só manteve os princípios constitucionais no papel e no seu programa.  Nos últimos tempos, vem optando por falar nas redes sociais e veículos pequenos alinhados a seu governo. Lula defende a regulação dos meios de comunicação no Brasil. Sua preocupação esta no fato que temos nove famílias que são donas de quase todos os meios de comunicação neste País. Por isto, ele quer abrir um pouco mais a participação. Na verdade este proposta está mais focada nos meios de comunicação com concessão concedida pelo Estado, como TV e rádio.

Apesar de ambos falarem que defendem a democracia, cada um deles o vê diferentemente. Há, pois, que se examinar detidamente a visão democrática de cada um, posto que se trate de uma questão ideológica.

 

As eleições presidenciais que se aproximam podem significar o primeiro capítulo de uma nova página que os brasileiros começarão a escrever. O tamanho do nosso compromisso e a responsabilidade com a qual exerceremos nosso direito inalienável ao voto será proporcional às chances de transformarmos as cidades e o país.

 

 

 

 

 

 

 


sábado, 22 de outubro de 2022

ARTIGO - Devo desculpa por querer impor uma estética que era só minha. (Padre Carlos)

 

A tatuagem era sinônima de rebeldia

 


Outro dia estava lendo um poema que dizia: “Sou um livro do século passado. Esquecido em um armário escuro e mofado. Tenho páginas gastas e amareladas. Há tempos minha história não é contada.” Quando terminei de lê aquele texto passei a entender que o mundo em que estou vivendo não é mais da forma como eu penso e acredito. Como disse Cora Coralina: “venho do século passado e trago comigo todas as idades.”.

Há alguns anos, minha esposa vinha falando em fazer uma tatuagem, mesmo defendendo que a mulher é dona do seu corpo e pode decidir sobre ele tentei impedir através de argumentos falaciosos que ela fizesse. Este problema tem muito haver como penso e encaro a arte de tatuar o corpo. Durante minha juventude esta pratica era popular entre desocupados, delinquentes, punks entre outras pessoas “discriminadas”. Era sinônimo de rebeldia e protesto e por razões sociais, já que a maior parte da sociedade não aprova as "tattoos,” terminei criando este Pré-conceito. Mesmo convivendo com toda esta carga moral, ainda tinha outro problema, ela é algo permanente. Um cabelo pintado de rosa, um piercing, um estilo de roupas podem simplesmente ser mudados, tatuagens não. Diante destes argumentos ela falou: "mas não existe laser?" Sim, mas é mais caro, demorado e dolorido do que fazê-las e não há garantia que a remoção será completa, principalmente de desenhos com pigmentos amarelos.

Vejo uma juventude tatuando o corpo como se este fosse uma caderneta de lembretes. Memorizam seus sucessos, seus amores e suas dores. Minha geração se relacionou com o corpo de forma diferente e tinha como respeito alguns cuidados para que envelhecesse saudavelmente. As únicas marcas que eram aceitáveis eram as rugas, símbolo dos anos que trilhamos nesta vida. Como entender o envelhecimento dessas pessoas, obrigadas a encarar para sempre o que viveram, pensou ou sentiram no passado. Não podemos negar que um número muito grande de pessoas termina fazendo tatuagens por influência dos amigos, da mídia, por estar na moda, como símbolo de status ou uma expressão artística. Mas o corpo não é uma tela em branco, aguardando para tornar perene o que era efêmero.

Vou ser sincero, acho simplesmente feio o excesso de tatuagens, naquele tipo que "você olha pra pessoa, a primeira coisa que vê é as tatuagens". Só acho feio, não como preconceito. Se for algo em menor número e quantidade, não vejo problemas, apesar de não querer para mim.

Hoje tenho consciência que sentir-se bem com a própria aparência vai muito além  do que a sociedade determina. Desta forma, os cuidados com a autoestima são essenciais para manter não só a nossa beleza externa, como também a nossa saúde mental. Por isto, entendo que devo desculpa a minha companheira por querer impor a ela uma estética que era minha os meus medos e as minhas preocupações em relação a esta decisão. O seu corpo transcende meus direitos. Tenho que admitir que os padrões de beleza hoje sejam outros e que a tatuagem para sociedade é vista de outra forma e aceita dentro dos novos padrões de beleza.

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

ARTIGO - Minha vida é uma colcha de retalhos.” (Padre Carlos)

 

A beleza e harmonia de costurar retalhos

 



Estes dia, recebi de um amigo da época do seminário, uma citação da cineasta Jocelyn Moorhouse, que tinha muito haver com a forma como vejo a vida e tento conta-la em meus textos.   "Os velhos amantes conhecem a arte de costurar os retalhos e percebem a beleza e harmonia dos vários pedaços." Assim, ao receber esta citação, busquei através da experiência imaginativa pensar a formação estética no campo das imagens que uma cocha de retalho tem na cultura popular e o lugar da metáfora como fruição do imaginário.

Uma das coisas mais prazerosas que existe para mim é escrever, quando arranho minha pena no papel é como se estivesse com uma agulha bordando sonhos, história e o mais importante, o poder de desatar os nós de nossas vidas. Esta forma de transformar a pena em agulha cria na linguagem literária uma necessidade de buscar a metáfora correta, na forma certa para compreensão do leitor. 

Como dizia Mario Quintana: Minha vida é uma colcha de retalhos. Todos da mesma cor. Mesmo entendendo o que o poeta queria dizer, peço perdão para discordar, mas as coxas que formaram esta cocha, através das histórias tecidas em retalhos na minha vida tiveram várias cores e me fizeram crer que em cada costura elas se encontram e se tornam presente na minha vida.  

Minha história é composta por retalhos de vidas nestes sessenta e dois anos. E quando falo vidas me refiro as suas fases, temos que entender que as lembranças e saudades de pessoas e épocas se entrelaçam em nossas mentes formando um retalho de tempo. Todas elas deixaram em nós um pedacinho da nossa história que vamos ao longo do tempo costurando e assim fazemos a cocha de retalhos da nossa vida e enquanto vivermos sempre terá um pedacinho a mais para costurar.

 


quinta-feira, 20 de outubro de 2022

ARTIGO – O que separa a justiça da misericórdia? (Padre Carlos)

 



Miserere (ter compaixão), e Cordis (coração).








 

Outro dia conversando com uma amiga falei que se nosso Deus fosse justo em vez de misericórdia, estávamos dentro d’água. Naquela hora, me lembrei do Pe. Bruno e das aulas de latim, ele possuía uma relevância muito rica e importante, pois tinha a capacidade de transformar as vidas dos seus alunos, através da educação. Desta forma dizia: miserere (ter compaixão), e cordis (coração). "Ter compaixão do coração". Hoje entendo o que ele queria dizer. O que muita gente não percebe é que a militância política e a luta por um mundo melhor terminou nos tornando em uma pessoa cartesiana. A inflexibilidade de a nossa geração pensar e agir sempre da mesma forma nos remete para as lutas por justiça, direitos humanos, da justa distribuição dos bens, de legalidade em nível local e nas relações entre os povos, e considera o discurso sobre a misericórdia como diferente do discurso da justiça e de qualquer modo menos importante.

         A diferença do militante para o cristão termina sendo a mesma que separa a justiça da misericórdia. A justiça exige que se dê a cada um aquilo que lhe é devido, isto é, se você tem direito é seu; já a misericórdia, porém, pede que se dê ao outro também aquilo que não lhe é devido. Esta vai além do direito, ela olha se você esta precisando, não se tem direito. A misericórdia pede o perdão pelo dano recebido e pela injustiça sofrida.   A justiça sozinha não basta para entendermos as necessidades dos mais pobres; precisa-se também da misericórdia. É claro que precisamos de códigos e leis de um sistema de justiça para que a misericórdia possa se basear na justiça, que é o primeiro degrau do amor.

Na nossa história, a revelação de um Deus que é Pai e misericordioso vai se dando de forma lenta e progressiva e se desenvolve junto com o crescimento cultural dos povos e da sua humanidade.

As imagens de Deus misericordioso, no Novo Testamento, levam vantagem sobre a imagem de um Deus de justiça, aquele que julga e puni ligado à primazia da lei apresentado no Velho Testamento. Deus é um Pai que nos ama gratuita e indistintamente. Desta forma, podemos afirmar que a misericórdia não é contrária à justiça, mas exprime o comportamento de Deus para os pobres oprimidos e pecadores. A observância da lei é necessária, mas é preciso superar uma visão meramente legalista. A misericórdia não é uma espécie de ‘bondade’, alternativa à justiça. Exprime, ao contrário, a necessidade do encontro entre réu e vítima, que vai além do legalismo e oferece a ocasião para o réu admitir e superar o mal feito e para a vítima superar o mal recebido, perdoando. A Igreja não pode nem deve substituir o Estado, mas ela não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça. Todos são chamados a nos preocupar com a construção de um mundo melhor.

O amor verdadeiro a Deus passa pelo compromisso com a justiça social e com a promoção do pobre, que sofre injustiça e é marginalizado. O pobre preciso da nossa misericórdia para com ele. A opção preferencial pelos pobres faz com que nos assemelhemos ao Pai misericordioso e sejamos sinal e fermento para encontrar a justiça e o amor nas relações entre as pessoas. Precisamos ter coragem de dar pequenos passos para a construção da civilização do amor, como dizia o Papa Paulo VI. É o próprio Jesus quem nos ensinou que tudo o que fizermos ao pobre, estamos fazendo a Ele mesmo.

 


quarta-feira, 19 de outubro de 2022

ARTIGO - Lula e as alianças no 2º turno. (Padre Carlos)

 

Nosso barco não é a arca de Noé.

 



Nestes dias, lembrai a um amigo como a política impactou nas nossas vidas e tiveram uma influencia decisiva na nossa geração. Acredito que foi nesta hora que me vieram às palavras de Clarice Lispector: “O bonito me encanta. Mas o sincero, ah! Esse me fascina.” Falo isto porque na política não basta se encantar, ela é muito mais que encantamento, mais que interessante ela precisa dá sentido a nossa existência. Podemos defini-la como a ciência do governo dos povos, a arte de fazer o bem comum ou a arte de dialogar para construir consensos. Em princípio parece que sim, porém, na prática aparece diferente.

Foi pensando nisto que fui buscar as interpretações, como as que se seguem: do filósofo florentino Nicolau Maquiavel, “a política é a arte de enganar”; do escritor italiano Luciano Bianciardi, “a política… há muito tempo deixou de ser ciência do bom governo e, em vez disso, tornou-se arte da conquista e da conservação do poder”; do ensaísta lusitano Agostinho da Silva, “a política tem sido a arte de obter a paz por meio da injustiça”; do literato ateniense Arturo Graf, “a política é demais amiúde a arte de trair os interesses reais e legítimos, e de criar outros imaginários e injustos”; do poeta brasileiro Menotti del Picchia, “política é a arte de conciliar os interesses próprios, fingindo conciliar os dos outros”; do dramaturgo francês Louis Dumur, “política é a arte de nos servirmos dos homens, dando a entender que os servimos”.

Admito que a política seja o meio de se conquistar o poder e nele fazer as reformas necessárias que a sociedade tanto precisa. Uma frente democrática tem que ser mais que uma incompreensível aliança partidária e os acordos políticos, em que se unem direita e esquerda, socialistas e liberais, democratas e totalitários, e tantos grêmios antagônicos que abrem mão das suas doutrinas, para única e exclusivamente derrotar Bolsonaro e seu projeto fascista. Não podemos deixar os interesses do povo em segundo plano, prevalecendo os interesses pessoais de grupos e partidos.

As regras têm que valer tanto para o alto, como para o baixo clero, por isto, o mandato tem que ser temporário, constituindo o veículo de trabalho pelo bem comum da sociedade. Este não pode de modo algum torna-se o meio de vida permanente do político. Infelizmente em nosso país a Política passou a ser também profissão. Mais que isto, os mandatos viraram verdadeiras empresas com força superior as instancias partidárias, já que a montagem do novo governo é dividida pelo mapa de votação, por isto estes mandatos terminam administrando a maquina do governo naquela região, criando certo baronato. Esta forma de fazer política termina criando um circulo de dependência que vai de prefeitos, vereadores as lideranças comunitárias. É claro que os mandatos jamais poderia se esquecer dos familiares e amigos.

Como formar um arco de aliança com partidos que não têm ideologia, servindo seu programa apenas como uma fotografia numa moldura pendurada na parede. Pior, os partidos têm donos e a grande maioria deles é formada para dar sustentação aos desejos dos seus fundadores. São questões a serem revistas para a correção da deturpação de suas próprias finalidades. É por tal descompromisso com suas próprias bandeiras e pelo comportamento de desonestidade com a coisa pública que os políticos são desacreditados pelos cidadãos. Daí as acepções nesse sentido, como a do escritor português Eça de Queiroz, que disse: “políticas e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo”; do político inglês Philip Chesterfield, “os políticos não conhecem nem o ódio, nem o amor. São conduzidos pelo interesse e não pelo sentimento”; do humorista brasileiro Millor Fernandes: “isto sim é que é Congresso eficiente! Ele mesmo rouba, ele mesmo investiga, ele mesmo absolve”.

Minha preocupação esta no fato que não podemos esquecer que os partidos políticos são grupos organizados de pessoas que comungam de ideais políticos semelhantes para promoverem o interesse nacional. Apesar de não existir em nosso país uma cultura republicana, capaz de defender e criar uma ética no trato da res pública, um dever de lealdade, de probidade, de boa-fé, nosso objetivo ao criar uma frente democrática precisa ser com o povo e as coisas púbica.

 


domingo, 16 de outubro de 2022

ARTIGO - Está instalada a impunidade em Brasília. (Padre Carlos)

 


Sensação de impunidade



Quando tomei conhecimento de um levantamento feito pelo UOL, que quase metade do patrimônio em imóveis do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e de seus familiares mais próximos foi construída nas últimas três décadas com uso de dinheiro em espécie, entendi que está cultura é mais antiga que as fachadinhas que conhecemos. Assim, desde os primórdios deste país, ocupar um cargo de poder no Estado era visto como um caminho para o enriquecimento, pessoal e daqueles que se encontravam mais próximos. Era assim na Monarquia, fazia parte da natureza do regime. No Estado Novo, por sistema e sobrevivência, também não era diferente – “Aos amigos, tudo, aos inimigos, a lei“, Como dizia Getúlio, para perceber como estava implantada a cultura da troca de favores.

Mesmo nas quase quatro décadas de democracia multiplicaram-se as histórias de homens públicos que se rodeavam de familiares ou conterrâneos nos serviços que dirigiam. Ou dos políticos que após passagens pelo governo enriqueceram de uma hora para outra.

A nova Constituição busca criar uma nova mentalidade sobre as coisas públicas e isto obrigou ao cumprimento de regras e códigos de conduta que, pouco a pouco, eliminaram (não completamente) as tradicionais trocas de favores e censuraram comportamentos que as gerações mais antigas como a minha infelizmente presenciou – como é um desvio cultural, talvez seja este o motivo que as novas gerações ainda vejam – como aceitáveis.

A lei passou a definir como crimes a contratação de funcionários fantasmas para desvio de salários,  que não existiam. Surgiram as chamadas incompatibilidades, como forma de garantir que o Estado e os seus recursos, que devem ser de todos, não sejam usados em benefício de poucos. O aumento da transparência permite o escrutínio da ação do governo e da administração pública. É cada vez mais difícil esconder comportamentos de favor, ao mesmo tempo em que não se aceita mais favorecer ou a ser favorecido. Mesmo com todos estes escândalos de Rachadinhas, a tendência hoje é reduzir cada vez mais os chamados buracos na lei. É por isso incompreensível a sucessão de casos neste governo e os escândalos que têm assolado o país. Bolsonaro foi eleito com o discurso anticorrupção, no entanto, não passa um dia sequer sem se envolver em escândalos criminosos. De superfaturamento de ônibus escolares a interferência na Polícia Federal com o intuito de frear investigações contra os filhos.  .

A sensação que fica para os eleitores é que está instalada a impunidade em Brasília. E Bolsonaro e seus aliados, para sobreviver politicamente basta resistir de forma discreta até à explosão do próximo escândalo que abafará o anterior.

 


ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...