O outro na minha vida
Dedicar à vida
a alguém é sentir por essa pessoa um amor muito grande, seja esse amor por um
filho, um companheiro, um amigo, ou outra pessoa que, para nós, por qualquer
motivo, é especial. O que verdadeiramente poderia ser mais importante nos meus
sentimentos, do que me sentir especial para alguém. Infelizmente, algumas
pessoas não têm a felicidade de se sentirem assim e passam pela vida sem essa
felicidade. Outras passam a vida inteira sentindo-se únicas para muitas pessoas
– primeiro, para os pais; depois, para um professor ou para um colega; mais
tarde, para um amigo, para uma pessoa amada, para os filhos, para os avós… São
pessoas especiais, capazes de reunir outros à sua volta, de atrair pelas
qualidades, pelo sorriso, pela generosidade, pela gratidão, pelo dom da alegria
que irradiam. Penso que todos conheceram pessoas assim, que identificamos pela
simpatia. Sentimo-nos como se ela fosse o sol, ou referencia de felicidade. Um
carisma tão grande que passamos a depender da atenção desta pessoa.
As pessoas procuram a
felicidade assim como as mariposas procuram a luz. Todo mundo quer ser feliz e
tudo o que fazemos é para encontrar a felicidade. Por isso, quando você
transborda felicidade e alegria, as pessoas simplesmente querem estar perto de
você, de alguma maneira, simplesmente porque querem compartilhar da sua
alegria.
Mas, na realidade, não é
preciso ser verdadeiramente singular e especial para ser único. Cada um de nós
é, à sua maneira, especial. Sim, todos nós somos especiais de algum modo, mas
não é neste sentido que estamos falando. Por incrível que pareça, existem
traços que são capazes de fazer de você um ser humano se não único, no mínimo
raro. Interessante, não? E apenas depende de cada pessoa, sozinha no seu
silêncio, fazer com que os outros vejam as suas qualidades, as reconheçam e as
valorizem.
Fazer algo «exclusivo,
dedicado», simplesmente para alguém, é a maior dedicatória que se pode
oferecer, é como dizer que se fez ou pensou algo apenas por essa pessoa,
individualizando-a de todas as outras.
Uma pessoa pode amar demais e não ser retribuída, como não ter amor nenhum e
ser muito amada. Não há essa necessidade de reciprocidade. Amar não garante ser
amado. Mesmo assim, amar aumenta a possibilidade de ser amado, sem a menor
dúvida. Contudo, não garante, mesmo que se seja amado em retribuição, que esse
amor seja devotado exclusivamente à pessoa que ama. É impossível amar a quem se
resolva que se quer amar se o amor não surgir espontaneamente, com também é
impossível deixar de amar a que se quer deixar de amar.
Desta forma, valorizar os
outros e se sentir valorizado é uma das sensações mais importantes para
consolidar a nossa personalidade e garantir a estrutura para que possamos
encarar os problemas que diariamente enfrentamos.
Temos que ter clareza que não
adianta querer esquecer a quem se ama porque tal pessoa não ama em retribuição.
O amor é como uma droga, e você está vivendo uma crise de abstinência, pois lhe
negam a sua dose diária. Quando estamos apaixonados, nosso organismo produz
substâncias como a dopamina (o hormônio do prazer) e a oxitocina (o hormônio do
apego). A paixão, principalmente na fase inicial, gera comportamentos que
lembram muito a conduta que observamos nas pessoas viciadas em alguma
substancia toxica. Trata-se de uma dependência poderosa, com reflexos no
cérebro.
Alguns homens mudam
radicalmente depois que a mulher se separa dele e passa a assumir um
comportamento violento diante da rejeição. Assim, o aumento significativo da
violência e os crimes bárbaro contra a mulher vêm chamado à atenção dos
profissionais de saúde devido à motivação, que na maioria das vezes estão
relacionados à separação. Precisamos trabalhar estas perdas, para que elas não
se transformem em uma patologia. Desta forma, estas rejeições amorosas precisam
ser absolvidas de forma menos dolorosas.
O melhor é continuar amando
mesmo sem retribuição e mesmo que esse amor não se expresse em nenhum
relacionamento amoroso. Com o tempo, você vai se reconciliando e vai ficando no
lugar desta paixão, lindas lembranças. Amar sem ser amado não é problema nenhum
e é inteiramente possível de se conduzir sem sofrimento. Amar é tolerância e
concessão. Não é receber, é dar, desejando o bem ao outro. É superar
adversidades. É viver com intensidade e saber lidar com a ausência do
outro.
Quanto mais amamos, nos
tornamos mais humanos.