sábado, 27 de julho de 2019

ARTIGO - O outro na minha vida ( Padre Carlos )




O outro na minha vida


            Dedicar à vida a alguém é sentir por essa pessoa um amor muito grande, seja esse amor por um filho, um companheiro, um amigo, ou outra pessoa que, para nós, por qualquer motivo, é especial. O que verdadeiramente poderia ser mais importante nos meus sentimentos, do que me sentir especial para alguém. Infelizmente, algumas pessoas não têm a felicidade de se sentirem assim e passam pela vida sem essa felicidade. Outras passam a vida inteira sentindo-se únicas para muitas pessoas – primeiro, para os pais; depois, para um professor ou para um colega; mais tarde, para um amigo, para uma pessoa amada, para os filhos, para os avós… São pessoas especiais, capazes de reunir outros à sua volta, de atrair pelas qualidades, pelo sorriso, pela generosidade, pela gratidão, pelo dom da alegria que irradiam. Penso que todos conheceram pessoas assim, que identificamos pela simpatia. Sentimo-nos como se ela fosse o sol, ou referencia de felicidade. Um carisma tão grande que passamos a depender da atenção desta pessoa.
 
           As pessoas procuram a felicidade assim como as mariposas procuram a luz. Todo mundo quer ser feliz e tudo o que fazemos é para encontrar a felicidade. Por isso, quando você transborda felicidade e alegria, as pessoas simplesmente querem estar perto de você, de alguma maneira, simplesmente porque querem compartilhar da sua alegria.
            Mas, na realidade, não é preciso ser verdadeiramente singular e especial para ser único. Cada um de nós é, à sua maneira, especial. Sim, todos nós somos especiais de algum modo, mas não é neste sentido que estamos falando. Por incrível que pareça, existem traços que são capazes de fazer de você um ser humano se não único, no mínimo raro. Interessante, não? E apenas depende de cada pessoa, sozinha no seu silêncio, fazer com que os outros vejam as suas qualidades, as reconheçam e as valorizem.
            Fazer algo «exclusivo, dedicado», simplesmente para alguém, é a maior dedicatória que se pode oferecer, é como dizer que se fez ou pensou algo apenas por essa pessoa, individualizando-a de todas as outras.
Uma pessoa pode amar demais e não ser retribuída, como não ter amor nenhum e ser muito amada. Não há essa necessidade de reciprocidade. Amar não garante ser amado. Mesmo assim, amar aumenta a possibilidade de ser amado, sem a menor dúvida. Contudo, não garante, mesmo que se seja amado em retribuição, que esse amor seja devotado exclusivamente à pessoa que ama. É impossível amar a quem se resolva que se quer amar se o amor não surgir espontaneamente, com também é impossível deixar de amar a que se quer deixar de amar.
            Desta forma, valorizar os outros e se sentir valorizado é uma das sensações mais importantes para consolidar a nossa personalidade e garantir a estrutura para que possamos encarar os problemas que diariamente enfrentamos.
            Temos que ter clareza que não adianta querer esquecer a quem se ama porque tal pessoa não ama em retribuição. O amor é como uma droga, e você está vivendo uma crise de abstinência, pois lhe negam a sua dose diária. Quando estamos apaixonados, nosso organismo produz substâncias como a dopamina (o hormônio do prazer) e a oxitocina (o hormônio do apego). A paixão, principalmente na fase inicial, gera comportamentos que lembram muito a conduta que observamos nas pessoas viciadas em alguma substancia toxica. Trata-se de uma dependência poderosa, com reflexos no cérebro.
    
        Alguns homens mudam radicalmente depois que a mulher se separa dele e passa a assumir um comportamento violento diante da rejeição. Assim, o aumento significativo da violência e os crimes bárbaro contra a mulher vêm chamado à atenção dos profissionais de saúde devido à motivação, que na maioria das vezes estão relacionados à separação. Precisamos trabalhar estas perdas, para que elas não se transformem em uma patologia. Desta forma, estas rejeições amorosas precisam ser absolvidas de forma menos dolorosas.
            O melhor é continuar amando mesmo sem retribuição e mesmo que esse amor não se expresse em nenhum relacionamento amoroso. Com o tempo, você vai se reconciliando e vai ficando no lugar desta paixão, lindas lembranças. Amar sem ser amado não é problema nenhum e é inteiramente possível de se conduzir sem sofrimento. Amar é tolerância e concessão. Não é receber, é dar, desejando o bem ao outro. É superar adversidades. É viver com intensidade e saber lidar com a ausência do outro.
            Quanto mais amamos, nos tornamos mais humanos.
           

Padre Carlos.



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