domingo, 3 de setembro de 2023

ARTIGO - O Legado de Jesus: Do Reino de Deus à Revolução da Compaixão (Padre Carlos)

 


 




O Legado de Jesus




No início do século XX, uma frase ressoou nos círculos teológicos, instigando debates fervorosos: "Jesus anunciou a vinda do Reino de Deus, mas o que veio foi a Igreja." Esta afirmação, ainda hoje, é motivo de reflexão profunda. A figura de Jesus, nascida há mais de dois mil anos, continua a atrair multidões e é uma referência central para a Humanidade. Mas o que há de tão extraordinário neste Homem que transcende o tempo e as fronteiras culturais?

Para compreender a influência da severidade de Jesus, é necessário mergulhar na essência de sua mensagem. Até mesmo aqueles que se declararam agnósticos ou até confirmaram sua singularidade. O filósofo Ernst Bloch relatou que Jesus agiu como um ser "puro e simplesmente bom", algo inédito em sua época. Umberto Eco, também agnóstico, ponderou que se um extraterrestre visitasse a Terra e encontrasse a mensagem de Cristo, com seu amor universal, perdão aos inimigos e sacrifício pela salvação dos outros, consideraria a humanidade redimida por acreditar nessa Verdade.

Eduardo Lourenço, o saudoso filósofo português, afirmou categoricamente: "Não há nada superior a Jesus." Até o mesmo Friedrich Nietzsche, no "O Anticristo", soube que, no fundo, só houve um verdadeiro cristão - aquele que morreu na cruz. Segundo ele, "Só uma vida como aquela que morreu na cruz é cristã."

A morte de Jesus como subversivo e ativista político não obscurece sua mensagem central: a igualdade e dignidade de todos os seres humanos como invioláveis. O cristianismo universalizou esse conceito de cidadania para além das fronteiras, eliminando barreiras de nacionalidade, gênero, raça, idade, status social e religião. Jesus, rebelde e livre, não prestou culto a César nem ao dinheiro. Em vez disso, chamou Deus de Pai, demonstrando ternura, e escandalizou o mundo antigo ao enfatizar que Deus deseja misericórdia, não sacrifícios, e que Ele é adorado em espírito e verdade.

A Boa Nova de Jesus é o Reino de Deus, uma visão de um mundo onde todos são irmãos e companheiros. Esta mensagem é revolucionária em sua simplicidade e profundidade, corações mudando e mentes ao longo dos séculos.

Mas a revolução de Jesus não se limitou ao âmbito espiritual. Ele promoveu uma nova concepção de Deus, afastando-se da ideia de um Deus-Poder que justificasse o domínio das elites. O Deus de Jesus é uma força infinita de criação e promoção, não de dominação. Ele se revelou na humildade, na fragilidade de uma criança que chora e ri. Este Deus está próximo de todos, independentemente da idade, gênero ou condição social. É um Deus amigo, amável e misericordioso para toda a humanidade.

A história das revoluções que têm Jesus como base ainda está por ser escrita completamente. Sua maior revolução foi a transformação da concepção de Deus e a promoção de um Reino de amor, compaixão e igualdade. Jesus continua a desafiar o mundo com sua mensagem de esperança e redenção, inspirando aqueles que buscam um caminho de compaixão e justiça.

Portanto, a frase “Jesus anunciou a vinda do Reino de Deus, mas o que veio foi para a Igreja” não deve ser vista como uma contradição, mas como uma evolução natural da mensagem de Jesus. A Igreja, apesar de seus desafios, também desempenhou um papel significativo na disseminação do amor e da compaixão pregados por Cristo. O legado de Jesus perdura, convidando-nos a refletir sobre o verdadeiro significado de seu ensinamento e a buscar a transformação interior e social que ele preconizou.

Em tempos de incerteza e divisão, a mensagem de Jesus continua a ser uma luz guia, lembrando-nos do poder transformador do amor e da compaixão. É um legado que transcende o tempo e as fronteiras, oferecendo-nos a oportunidade de construir um mundo mais justo e compassivo, onde sejam reconhecidos todos como filhos de um Deus que é amor.

 


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