O Legado de Jesus
No
início do século XX, uma frase ressoou nos círculos teológicos, instigando
debates fervorosos: "Jesus anunciou a vinda do Reino de Deus, mas o que
veio foi a Igreja." Esta afirmação, ainda hoje, é motivo de reflexão
profunda. A figura de Jesus, nascida há mais de dois mil anos, continua a
atrair multidões e é uma referência central para a Humanidade. Mas o que há de
tão extraordinário neste Homem que transcende o tempo e as fronteiras
culturais?
Para
compreender a influência da severidade de Jesus, é necessário mergulhar na
essência de sua mensagem. Até mesmo aqueles que se declararam agnósticos ou até
confirmaram sua singularidade. O filósofo Ernst Bloch relatou que Jesus agiu
como um ser "puro e simplesmente bom", algo inédito em sua época.
Umberto Eco, também agnóstico, ponderou que se um extraterrestre visitasse a
Terra e encontrasse a mensagem de Cristo, com seu amor universal, perdão aos
inimigos e sacrifício pela salvação dos outros, consideraria a humanidade
redimida por acreditar nessa Verdade.
Eduardo
Lourenço, o saudoso filósofo português, afirmou categoricamente: "Não há
nada superior a Jesus." Até o mesmo Friedrich Nietzsche, no "O
Anticristo", soube que, no fundo, só houve um verdadeiro cristão - aquele
que morreu na cruz. Segundo ele, "Só uma vida como aquela que morreu na
cruz é cristã."
A
morte de Jesus como subversivo e ativista político não obscurece sua mensagem
central: a igualdade e dignidade de todos os seres humanos como invioláveis. O
cristianismo universalizou esse conceito de cidadania para além das fronteiras,
eliminando barreiras de nacionalidade, gênero, raça, idade, status social e
religião. Jesus, rebelde e livre, não prestou culto a César nem ao dinheiro. Em
vez disso, chamou Deus de Pai, demonstrando ternura, e escandalizou o mundo
antigo ao enfatizar que Deus deseja misericórdia, não sacrifícios, e que Ele é
adorado em espírito e verdade.
A
Boa Nova de Jesus é o Reino de Deus, uma visão de um mundo onde todos são
irmãos e companheiros. Esta mensagem é revolucionária em sua simplicidade e
profundidade, corações mudando e mentes ao longo dos séculos.
Mas
a revolução de Jesus não se limitou ao âmbito espiritual. Ele promoveu uma nova
concepção de Deus, afastando-se da ideia de um Deus-Poder que justificasse o
domínio das elites. O Deus de Jesus é uma força infinita de criação e promoção,
não de dominação. Ele se revelou na humildade, na fragilidade de uma criança
que chora e ri. Este Deus está próximo de todos, independentemente da idade,
gênero ou condição social. É um Deus amigo, amável e misericordioso para toda a
humanidade.
A
história das revoluções que têm Jesus como base ainda está por ser escrita
completamente. Sua maior revolução foi a transformação da concepção de Deus e a
promoção de um Reino de amor, compaixão e igualdade. Jesus continua a desafiar
o mundo com sua mensagem de esperança e redenção, inspirando aqueles que buscam
um caminho de compaixão e justiça.
Portanto,
a frase “Jesus anunciou a vinda do Reino de Deus, mas o que veio foi para a
Igreja” não deve ser vista como uma contradição, mas como uma evolução natural
da mensagem de Jesus. A Igreja, apesar de seus desafios, também desempenhou um
papel significativo na disseminação do amor e da compaixão pregados por Cristo.
O legado de Jesus perdura, convidando-nos a refletir sobre o verdadeiro
significado de seu ensinamento e a buscar a transformação interior e social que
ele preconizou.
Em
tempos de incerteza e divisão, a mensagem de Jesus continua a ser uma luz guia,
lembrando-nos do poder transformador do amor e da compaixão. É um legado que
transcende o tempo e as fronteiras, oferecendo-nos a oportunidade de construir
um mundo mais justo e compassivo, onde sejam reconhecidos todos como filhos de
um Deus que é amor.
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