Da Patrulha das Estradas à Repressão
Por Carlos Roberto
A história da Polícia Rodoviária Federal (PRF) é uma jornada que se estende por quase um século, desde sua criação em 1928, quando foi instituída como a "Polícia das Estradas". Ao longo de décadas, essa instituição ganhou reconhecimento por seu papel na fiscalização e patrulhamento das rodovias federais do Brasil, sempre pautada pelo preparo técnico e de inteligência para garantir a segurança nas estradas.
No entanto, nas últimas décadas testemunhamos uma mudança significativa na atuação da PRF, que passou a se envolver cada vez mais em atividades repressivas, especialmente no combate ao tráfico de drogas. Essa transformação ganhou um impulso adicional durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, quando a PRF direcionou seus esforços nessa direção.
A PRF, que antes era vista como uma instituição de caráter preventivo, voltada para a vigilância das estradas, hoje se encontra envolvida em operações com altos índices de letalidade e casos controversos, como as mortes de Genivaldo, asfixiado em uma viatura em 2022, e de Heloisa Silva, uma criança de apenas 3 anos. Esse cenário está longe da visão original que permeou sua criação.
Quando surgiu a "Polícia das Estradas", sua missão era clara: fiscalizar as estradas e garantir a segurança dos usuários. O intenso tráfego na rodovia Rio-Petrópolis, que na época recebia cerca de três mil veículos por dia, exigia uma fiscalização sistemática. O tempo passou, e a PRF evoluiu, sendo incluída na Constituição Federal de 1988 como parte do sistema de segurança pública.
Nos anos 1960, a PRF ganhou notoriedade nas televisões brasileiras com o seriado "Vigilante Rodoviário", que, embora fosse uma produção estadual, popularizou a atividade de fiscalização nas estradas com a figura icônica do policial interpretada por Carlos Miranda.
Entretanto, o crescimento e a mudança de foco da PRF ocorreram de forma gradual e, em grande parte, organizada em comparação com outras forças policiais do país. Ela era percebida como uma instituição diferenciada, que não adotava uma postura repressiva semelhante às polícias estaduais.
A transformação da PRF em uma força repressiva pode ser atribuída a várias causas. Uma delas é uma decisão estratégica de investimento em tecnologia e inteligência, com foco na apreensão de drogas ilegais, muito antes do governo Bolsonaro. Além disso, a instituição foi uma das pioneiras na adoção de câmeras em fardamento.
No entanto, essa mudança de identidade institucional também foi influenciada por uma especificidade chamada de "mimetismo institucional". Essa influência se estende a outras forças policiais, incluindo os estados militares e civis, bem como as guardas municipais.
O contexto político também desempenhou um papel importante nessa transformação, com decisões que permitiram à PRF atuar conjuntamente com outras forças e cumprir mandatos de busca e apreensão. Isso possibilitou sua participação em operações com alto índice de letalidade, como as corridas na Vila Cruzeiro, em Varginha e em Itaguaí.
O futuro da PRF agora depende de decisões políticas e estratégicas. É fundamental que uma instituição recupere sua identidade preventiva e de inteligência, afastando-se das viés repressivas. Para isso, é necessário escolher comandos nacionais e regionais com cuidado, reformular a formação dos agentes e tomar medidas rigorosas em relação aos desvios de conduta.
A história da PRF é marcada por mudanças significativas, e a transição de uma polícia das estradas para uma força repressiva é uma reflexão de como as instituições podem se adaptar e evoluir ao longo do tempo, para o bem ou para o mal. A sociedade brasileira espera que essa transformação seja guiada por princípios que priorizem a segurança, a justiça e o respeito aos direitos humanos.
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