quinta-feira, 8 de agosto de 2019

ARTIGO - A riqueza que não procuramos ( Padre Carlos )




A riqueza que não procuramos

            Na nossa vida há situações que nos marcam para sempre são estes casos que recordamos de vez em quando, devido a sua importância e seus gestos que fogem da rotina normal do nosso dia-a-dia. 
            De um modo geral, é curioso constatar que, apesar de nos marcarem muito, esses casos passam muitas vezes despercebidos e pouco falamos deles. Isto se deve a correria e as coisas que priorizamos em nossas vidas; são estas atitudes que nos desvia a atenção daquilo que é essencial. 

           Um dos grandes problemas é que não percebemos que estamos cegos para enxergar a beleza da vida à ação do humano e do sagrado no nosso cotidiano, somos levados pela corrente do ter a procura de um reconhecimento, num mundo que ‘vai girando ao sabor da fantasia’. Citando Antoine de Saint-Exupéry: « O essencial é invisível aos olhos.  Só se pode ver com o coração ».
            Este caso que vou apresentar a vocês hoje é um exemplo clássico que toda regra tem suas exceções.  Mostra precisamente os valores defendidos por um pobre homem, pobre aos olhos dos homens, mas rico no seu íntimo, que visitei em uma comunidade rural quando exercia o ministério sacerdotal. 
O dito senhor, através de outra pessoa, perguntou-me se  podia levar a Comunhão e se confessar na sua casa, visto já não podia deslocar-se até a igreja para receber os sacramentos. É importante aqui esclarecer que o sacramento da comunhão é assistido pelos ministros, mas, se tratando do sacramento da reconciliação, fiz algumas mudanças na minha agenda e fui atender aquele homem.
            Quando cheguei ao destino, o Sr. Joaquim – que participou de tantos encontros da CEB,s, tantas vezes participou das celebrações e que agora já não pode sair de casa devido a problemas de locomoção – recebeu-me de lágrimas nos olhos. E, em dada altura, disse-me isto: «Padre Carlos, sou um pobre, como vê, mas sou dono da maior riqueza que Deus me podia dar». «Como, sim?», perguntei-lhe, com curiosidade. «Fui eu que durante dez anos cuidei da minha irmã que não podia sair de casa e também tratei sozinho da minha mulher, nos últimos três anos de vida, aqui nesta casa. Esta dupla riqueza ninguém poderá me tirar ». Sem conseguir articular bem as palavras, disse-lhe apenas: «Que orgulho! Aprecio o seu exemplo! Fantástico!».
            Quando voltei para casa paroquial, aquelas palavras não me saíam da cabeça. Só pensava na lição que este grande homem me tinha dado e na quais todos devemos refletir. Por isso, aqui deixo mais este caso da vida real, especialmente à consideração dos que procuram ver «o essencial invisível aos olhos».
    
        Nos nossos dias, testemunhos como este é raro se encontrar. Ser rico à custa de bens materiais é fácil e termina sendo o nosso conceito. Mas quando se é rico na pobreza, os valores são outros, e pouco falamos sobre estas coisas. É um privilégio só para alguns.
             E nós? De que lados nos colocaram? 

Padre Carlos



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