segunda-feira, 10 de julho de 2023

ARTIGO - Reimaginando a oração do Pai Nosso: Rumo a uma espiritualidade que transcende limites e promove a igualdade. (Padre Carlos)



Repensando a Oração do Pai Nosso

 

 


 

Neste artigo, vou compartilhar com vocês a minha visão sobre o Pai Nosso, uma oração que aprendi desde criança e que faz parte da minha fé cristã. Mas também vou questionar alguns aspectos dessa oração que me parecem problemáticos em um mundo tão diverso e complexo como o nosso. Será que o Pai Nosso ainda é uma forma adequada de expressar a nossa espiritualidade? Será que ele não exclui ou oprime outras formas de se relacionar com o sagrado? Será que ele não nos torna passivos e dependentes de uma vontade superior? Vamos refletir juntos sobre essas questões e buscar caminhos para uma espiritualidade mais inclusiva e libertadora.

        O Pai Nosso é uma oração que resume os principais ensinamentos de Jesus sobre o Reino de Deus e a vontade divina. Ele nos ensina a reconhecer Deus como Pai, a pedir pelo pão de cada dia, a perdoar e a ser perdoado, a resistir ao mal e a buscar o bem. É uma oração simples, mas profunda, que expressa a nossa confiança e o nosso compromisso com Deus e com o próximo.

       Mas o Pai Nosso também pode ser visto como uma forma de exclusão para aqueles que não se identificam com a ideia de Deus como Pai. Em um mundo em que há tantas crenças religiosas, filosofias de vida e visões de mundo diferentes, é preciso respeitar e valorizar a pluralidade espiritual. Há pessoas que se relacionam com Deus como Mãe, como Amigo, como Força, como Luz, como Amor. Há pessoas que não usam o nome Deus, mas sim Alá, Buda, Brahman, Tao, Grande Espírito. Há pessoas que não creem em nenhuma divindade, mas sim na natureza, na razão, na ética, na humanidade. Todas essas formas de espiritualidade são legítimas e merecem ser reconhecidas.

         O Pai Nosso também pode ser visto como uma forma de submissão e hierarquia, com a expressão "seja feita a tua vontade". Em um mundo em que as relações de poder são cada vez mais questionadas e transformadas, é fundamental repensar essa linguagem e buscar alternativas que promovam a igualdade e o respeito mútuo. Uma espiritualidade libertadora deve estimular a autonomia e a capacidade de tomar decisões conscientes, ao invés de reforçar estruturas de dominação. Não se trata de negar ou desobedecer a vontade de Deus, mas sim de entender que essa vontade é amorosa, justa e solidária, e que ela nos convida a ser co-criadores do Reino de Deus na terra.

         Diante desses desafios, é possível propor alternativas ao Pai Nosso que sejam mais inclusivas e libertadoras. Uma delas é usar termos mais neutros ou amplos para se referir a Deus, como Fonte, Criador, Presença, Mistério. Outra é usar verbos no modo imperativo ou optativo para expressar os nossos pedidos e desejos, como "dá-nos", "perdoa-nos", "livra-nos", "venha", "seja". Essas mudanças podem parecer pequenas, mas elas têm um grande impacto na forma como nos sentimos e nos posicionamos diante da realidade.

        O importante é não perder de vista o sentido profundo do Pai Nosso, que é nos conectar com Deus e com o próximo, e nos inspirar a viver de acordo com os valores do Evangelho. O Pai Nosso não é uma fórmula mágica ou imutável, mas sim uma expressão viva da nossa fé e da nossa esperança. Que possamos rezá-lo com sinceridade e criatividade, buscando sempre uma espiritualidade mais inclusiva e libertadora.

 

 

 

  

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