Educação para manter a desigualdade
Hoje, recebi de um amigo uma matéria do Le
Monde Diplomatique que desmistifica a ideia de que as Escolas Cívico-Militar
são a solução para o sistema educacional brasileiro.
A elite brasileira, paradoxalmente, critica
e menospreza Paulo Freire, enquanto investe fortunas para garantir que seus
filhos tenham acesso a escolas influenciadas por suas ideias. Enquanto isso,
aos filhos dos menos privilegiados resta um sistema educacional baseado em
métodos ultrapassados e disciplina rígida, remanescentes do século XIX.
A realidade educacional brasileira
apresenta duas tendências opostas, cada vez mais evidentes. Nas escolas
particulares de alto padrão, há um investimento em abordagens pedagógicas
inovadoras, que consideram os interesses e individualidades dos alunos,
reconhecendo-os como protagonistas de seu próprio aprendizado. Por outro lado,
escolas públicas em diversos estados do país optam por terceirizar sua gestão
para as polícias militares, apostando em disciplina rigorosa e métodos de
ensino tradicionais.
Enquanto grandes empresários e grupos de
investimento estrangeiros constroem escolas modernas e tecnologicamente
avançadas, oferecendo uma formação de ponta, os discursos propagandeados pelo
deputado Jair Bolsonaro nas redes sociais enaltecem as virtudes das escolas
militares, cujo foco principal é a imposição da lei e da ordem.
Essa situação revela uma ironia agridoce:
as escolas de elite omitem o fato de que suas metodologias inovadoras são, em
grande parte, inspiradas nas teorias educacionais progressistas desenvolvidas
por Paulo Freire. Enquanto isso, a mesma elite que critica fervorosamente
Freire investe consideravelmente em escolas que incorporam essas abordagens
pedagógicas.
Essa contradição evidencia uma realidade
cruel e desigual no sistema educacional brasileiro. Enquanto os filhos da elite
têm acesso a uma educação voltada para a construção do conhecimento, com
participação ativa dos alunos, estímulo à criatividade e ao pensamento crítico,
os filhos das camadas menos privilegiadas são relegados a escolas públicas
precárias, que adotam métodos ultrapassados e uma disciplina rígida,
assemelhando-se a uma formação militar.
Essa disparidade educacional contribui para
perpetuar as desigualdades sociais no país. Enquanto os jovens da elite são
preparados para se tornarem cidadãos críticos e engajados, capazes de enfrentar
os desafios do mundo contemporâneo, os jovens das classes populares recebem uma
educação que os molda para serem disciplinados e obedientes, com pouca ênfase
no desenvolvimento de suas habilidades individuais.
A retórica de "lei e ordem"
promovida por Jair Bolsonaro, ao enaltecer as escolas administradas pela
Polícia Militar, esconde uma realidade preocupante. Essas escolas, muitas
vezes, se transformam em espaços de controle e repressão, onde a liberdade de
expressão e a diversidade de ideias são sufocadas em favor de uma disciplina
rígida e de uma visão conservadora de mundo.
Enquanto isso, as escolas de elite, que
abraçam metodologias inspiradas em Paulo Freire, proporcionam aos seus alunos
uma educação crítica e transformadora, preparando-os para se destacarem em uma
sociedade cada vez mais complexa e diversa. No entanto, essas escolas
permanecem inacessíveis para a maioria da população, restritas àqueles que têm
recursos financeiros para pagar altas mensalidades.
Essa dicotomia entre a educação voltada
para os ricos e a educação destinada aos pobres apenas perpetua a desigualdade
social e limita as oportunidades de desenvolvimento para milhões de jovens
brasileiros. É essencial que a sociedade e o poder público reconheçam a
importância de uma educação de qualidade para todos, que valorize a formação
integral dos estudantes, a diversidade de ideias e a construção coletiva do
conhecimento.
Investir na educação é investir no futuro
do país. É necessário garantir que todas as escolas, independentemente de sua
gestão, ofereçam condições adequadas de aprendizagem, professores qualificados
e uma abordagem pedagógica que promova a participação ativa dos alunos, o
pensamento crítico e o respeito à diversidade. Somente assim poderemos romper
com a lógica perversa que mantém a educação como um privilégio de poucos e
transformá-la em uma poderosa ferramenta de inclusão e desenvolvimento social.
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