segunda-feira, 17 de julho de 2023

ARTIGO - Bolsonaro para os pobres, Paulo Freire para os ricos. (Padre Carlos)

 


 Educação para manter a desigualdade

Hoje, recebi de um amigo uma matéria do Le Monde Diplomatique que desmistifica a ideia de que as Escolas Cívico-Militar são a solução para o sistema educacional brasileiro.

A elite brasileira, paradoxalmente, critica e menospreza Paulo Freire, enquanto investe fortunas para garantir que seus filhos tenham acesso a escolas influenciadas por suas ideias. Enquanto isso, aos filhos dos menos privilegiados resta um sistema educacional baseado em métodos ultrapassados e disciplina rígida, remanescentes do século XIX.

A realidade educacional brasileira apresenta duas tendências opostas, cada vez mais evidentes. Nas escolas particulares de alto padrão, há um investimento em abordagens pedagógicas inovadoras, que consideram os interesses e individualidades dos alunos, reconhecendo-os como protagonistas de seu próprio aprendizado. Por outro lado, escolas públicas em diversos estados do país optam por terceirizar sua gestão para as polícias militares, apostando em disciplina rigorosa e métodos de ensino tradicionais.

Enquanto grandes empresários e grupos de investimento estrangeiros constroem escolas modernas e tecnologicamente avançadas, oferecendo uma formação de ponta, os discursos propagandeados pelo deputado Jair Bolsonaro nas redes sociais enaltecem as virtudes das escolas militares, cujo foco principal é a imposição da lei e da ordem.

Essa situação revela uma ironia agridoce: as escolas de elite omitem o fato de que suas metodologias inovadoras são, em grande parte, inspiradas nas teorias educacionais progressistas desenvolvidas por Paulo Freire. Enquanto isso, a mesma elite que critica fervorosamente Freire investe consideravelmente em escolas que incorporam essas abordagens pedagógicas.

Essa contradição evidencia uma realidade cruel e desigual no sistema educacional brasileiro. Enquanto os filhos da elite têm acesso a uma educação voltada para a construção do conhecimento, com participação ativa dos alunos, estímulo à criatividade e ao pensamento crítico, os filhos das camadas menos privilegiadas são relegados a escolas públicas precárias, que adotam métodos ultrapassados e uma disciplina rígida, assemelhando-se a uma formação militar.

Essa disparidade educacional contribui para perpetuar as desigualdades sociais no país. Enquanto os jovens da elite são preparados para se tornarem cidadãos críticos e engajados, capazes de enfrentar os desafios do mundo contemporâneo, os jovens das classes populares recebem uma educação que os molda para serem disciplinados e obedientes, com pouca ênfase no desenvolvimento de suas habilidades individuais.

A retórica de "lei e ordem" promovida por Jair Bolsonaro, ao enaltecer as escolas administradas pela Polícia Militar, esconde uma realidade preocupante. Essas escolas, muitas vezes, se transformam em espaços de controle e repressão, onde a liberdade de expressão e a diversidade de ideias são sufocadas em favor de uma disciplina rígida e de uma visão conservadora de mundo.

Enquanto isso, as escolas de elite, que abraçam metodologias inspiradas em Paulo Freire, proporcionam aos seus alunos uma educação crítica e transformadora, preparando-os para se destacarem em uma sociedade cada vez mais complexa e diversa. No entanto, essas escolas permanecem inacessíveis para a maioria da população, restritas àqueles que têm recursos financeiros para pagar altas mensalidades.

Essa dicotomia entre a educação voltada para os ricos e a educação destinada aos pobres apenas perpetua a desigualdade social e limita as oportunidades de desenvolvimento para milhões de jovens brasileiros. É essencial que a sociedade e o poder público reconheçam a importância de uma educação de qualidade para todos, que valorize a formação integral dos estudantes, a diversidade de ideias e a construção coletiva do conhecimento.

Investir na educação é investir no futuro do país. É necessário garantir que todas as escolas, independentemente de sua gestão, ofereçam condições adequadas de aprendizagem, professores qualificados e uma abordagem pedagógica que promova a participação ativa dos alunos, o pensamento crítico e o respeito à diversidade. Somente assim poderemos romper com a lógica perversa que mantém a educação como um privilégio de poucos e transformá-la em uma poderosa ferramenta de inclusão e desenvolvimento social.


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