Não podemos deixar o povo morrer
A
expressão: “agua mole em pedra dura, tanto bate até que fura,” poderia definir
bem a pertinência e a dificuldade que as forças democráticas vêm enfrentando
para que os crimes deste governo sejam investigados e seus responsáveis possam
ser assim, punidos pelos seus atos. Este foi o sentimento que os brasileiros
tiveram quando a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu no sábado ao
Supremo Tribunal Federal (STF) para abrir uma investigação à conduta do
ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, devido ao colapso da rede de saúde pública
em Manaus, na Amazónia, onde faltou oxigénio para os doentes de covid-19. A PGR
pede que o ministro seja ouvido pela Polícia Federal.
O
pedido foi feito pelo procurador-geral, Augusto Aras, na sequência de uma
queixa apresentada pelo partido Cidadania, que acusa o ministro Pazuello de
omissão perante a tragédia
em Manaus, onde os hospitais estão no limite e o número de mortos continua
disparando – levando as autoridades investigar mais de 50 mortes que teriam
sido causadas pela falta de oxigénio.
A
procura deste item tão básico para o tratamento dos pacientes da rede de saúde pública no estado do Amazonas foi, no
início de Janeiro, 11 vezes superior à média. Este aumento pela procura agravou
a carência nos hospitais onde estão internados os doentes da covid-19.
No
pedido de investigação enviado ao STF, a Procuradoria cita um relatório oficial
do dia 17 de Janeiro, sobre o que se passou entre 6 e 16 de Janeiro, que
conclui que Eduardo Pazuello foi informado no dia 8 de Janeiro da falta
de oxigénio pela fornecedora White Martins. Contudo, o Ministério de
Saúde só reforçou a entrega de oxigénio na região a 12 de Janeiro, ou seja, o
Governo ficou quatro dias sem tomar qualquer medida para evitar o colapso do
sistema de saúde em Manaus.
Além
disso, a PGR questiona as prioridades do Governo perante a crise em Manaus,
particularmente a distribuição de 120 mil unidades de hidroxicloroquina no dia
14 de Janeiro, em plena escassez de oxigénio dos hospitais.
O texto
enviado ao Supremo sugere que, em vez de
dar prioridade ao reforço de oxigénio, Pazuello privilegiou a distribuição de
um remédio sem eficácia comprovada cientificamente no tratamento da covid-19.
Após
a abertura de um procedimento preliminar na semana passada, em que a PGR pediu
esclarecimentos a Pazuello, o ministro da Saúde enviou, no dia 19 de Janeiro,
mais de 200 documentos explicando as medidas tomadas pelo Governo federal em
Manaus, admitindo que foi alertado para a falta de oxigénio a 8 de Janeiro, mas
que a empresa que distribui o produto não tinha capacidade para dar resposta.
Augusto
Aras considerou as respostas do ministro insuficientes e, tendo em conta o
estado de calamidade de Manaus, o procurador-geral considerou necessária a
abertura de um processo para investigar os fatos.
Horas
depois do pedido da PGR, ser aceito pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo
Tribunal Federal, determinando nesta segunda-feira (25) que a Polícia Federal
abra um inquérito para investigar, em até 60 dias, as acusações de negligência
ao ministro da Saúde, durante o combate ao coronavírus em
Manaus, Eduardo Pazuello viaja para Manaus para uma visita que o Governo de
Bolsonaro espera que ajude a diminuir o desgaste do ministro, numa altura em
que no seio do próprio executivo, sobretudo entre a ala militar, aumenta a
pressão para que Pazuello deixe o cargo. Bolsonaro, no entanto, não parece entender
a gravidade da situação e tenta de todas as formas salvar o seu ministro.
Assim
como na tragédia portuguesa, poderíamos dizer para o nosso ministro que: “agora
Inês é morta,”, mas não foi só Inês, foram Marias e Joãos que neste Brasil de
meu Deus já somam mais de 215 mil pessoas.
Desta
forma, não basta o Ministério da Saúde informar que Pazuello “não tem voo de
volta para Brasília” e que vai ficar no estado do Amazonas “o tempo que for
necessário”.