sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

ARTIGO - Análise de conjuntura ou avaliação eleitoral? (Padre Carlos)

 

Análise de conjuntura ou avaliação eleitoral?



 

Escrever uma análise de conjuntura ou avaliar as eleições municipais em Vitória da Conquista é uma tarefa difícil. Esse é um daqueles acontecimentos que desafia a lógica que normalmente empregamos na ciência política: é impossível “explorar tudo” e, avaliar cada variante sem perder a objetividade dos fatos é praticamente impossível. Cinco meses antes das eleições em Vitória da Conquista, Herzem e as elites da nossa cidade pareciam batidas e divididas. Assim precisamos entender para continuar lutando, como e por que eles conseguiram virar o jogo?


As forças conservadoras destas bandas talvez sejam fracas em termos de organização partidária, mas certamente são muito fortes em termos de poder econômico-político e de hegemonia social e cultural, afinal as elites do café sempre foram as mais atrasadas. Há cinco meses, o que víamos era o efeito desta debilidade partidária, que já havia levado à derrota a expressão partidária das elites durante as duas ultimas décadas. O que vimos, de lá para cá, é a prova de que eles têm muito poder econômico, político e hegemonia social e cultural. As obras de cartão postal e os asfaltos onde deixamos de fazer é a expressão deste fato. Seu uso político seria inexplicável sem essa capacidade que têm os grupos dominantes na nossa terra.

         O PT não podia ter colocado tanto poder como o FENIZA nas mãos do prefeito.  Sei que a oposição era voto vencido, mas agora com a crise econômica e fiscal, a oposição teria o discurso para apontar a incapacidade administrativa que essa gestão vai começar apresentar. Isso foi trunfo do outro lado, que jogou com competência. Um senário de terra arrasado passou da noite para o dia em um canteiro de obras e colocaram seus opositores na parede. É como num jogo de xadrez, no qual certas pedras estão de um lado e outras estão do outro. Nosso erro foi que reagimos, sem entender o peso que tem estas obras independentes de eleitoreiras ou não para a massa pobre do povo da periferia da nossa cidade. Deveríamos ter encontrado uma maneira de está presente nas lutas destes bairros, colocando nossa militância nestas áreas e fazendo a comunidade entender que era fruto desta luta, todas aquelas obras. Nós começamos a dizer: "a obra vai começar e não vai terminar. Esta obra é eleitoreira e estão fazendo isto como uma moeda de troca.". Em história, é muito difícil dizer que alguma coisa é rigorosamente inevitável.

Antes destes acontecimentos, a vitória de Herzem Gusmão era extremamente difícil. Porque além de seu governo não correspondendo às expectativas dos seus eleitores das camadas mais baixo da nossa sociedade, seus índices de rejeição eram grandes. O caminho seguido com nossas escolhas e táticas foram os melhores? Nós podemos fazer autocrítica dos erros do varejo, não dos erros do atacado. Este cabe somente a quem teve capacidade de escolher e coordenar todo o processo que levaram a este desfecho.

Depois de duas derrotas, qual é o caminho para o PT na nossa cidade? Este é o grande dilema que devemos tratar sem o peso e a influencia econômica e politica dos mandatos. Ela representa uma relação desigual entre duas partes. De um lado, um indivíduo com autoridade em uma estrutura de poder; do outro, um indivíduo que dependem desta estrutura, sob a crença de que a opção mais segura é obedecer cegamente a sua liderança e suas propostas. Um provérbio comum proferido pelas pessoas mais velhas ao se referirem aos detentores de mandatos e estrutura de poder partidário, ainda é: manda quem pode, obedece quem tem juízo. O leitor já deve tê-lo escutado diversas vezes.

 

         Estas duas derrotas são diferente das que sofremos na década de oitenta e início da década de noventa.  Nós sabíamos que íamos perder as eleições de 1992. Agora, fazíamos o jogo de ajudar a construir a organização popular. De ter uma política de crescimento para a sociedade. Isso eu acho que devemos ter. E nos preparar para concorrer, porque no meio do caminho tem as eleições para presidente e governador e isto é importante.  


Levando em consideração o que tem de organização popular na nossa sociedade, poderemos dizer que se não houver uma mudança de prioridades poderá levar muito mais tempo para voltar ao poder em Vitória da Conquista. Precisamos entender que a trajetória do PT na nossa cidade não é de derrota. Tem sido até aqui, e provavelmente vai continuar sendo, uma trajetória de vitórias. É a segunda derrota eleitoral para Herzem e a direta da nossa cidade depois de governa-la por vinte anos, mas o que me preocupa mesmo, é que partido não continua mais crescendo como víamos há alguns anos atrás. Só o PT pode derrotar o PT. O PT não tem mais base e militantes orgânicos, não tem mais, uma política de massas e perdeu sua relação com as lideranças católicas. Além das vinculações importantes no movimento sindical, que indicam mais a influência de sindicalistas no PT do que o contrário, qual a relação que temos fora da época eleitoral com a nossa cidade? O PT hoje ou é um partido de mandatos - de vereadores, de deputados, de prefeitos. Confesso aos senhores que achava que o grande mal do partido, era as tendências organizadas, hoje acredito que estava errado. Qual é o lugar para o cidadão comum, que tem uma simpatia vaga pelas propostas do PT, que sustenta o partido nas suas grandes campanhas político, qual é o ato em que ele participa do PT que não seja o da eleição? Um partido que muda de cara desta maneira está condenado a perder, apesar de não ser essa a sua trajetória.

 

 

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