O corona fest de Neymar
Causou-me
uma profunda tristeza ao constatar através das notícias que Neymar estaria
preparando uma confraternização de grandes proporções, com direito a cerimonial
e shows musicais. O megaevento programado por ele no
complexo de sua mansão em Mangaratiba, litoral do Rio de Janeiro, reavivou o
debate sobre as festas de fim de ano no Brasil.
Quando o país se aproxima da marca de 200.000 mortes por covid-19 e a curva de
infectados volta a acelerar perigosamente na maioria dos Estados, nem mesmo
celebridades como o principal jogador brasileiro em atividade se
furtam em promover aglomerações por meio dos tradicionais encontros de Natal e
Réveillon.
Não
podemos negar que a fama transformou este atleta num modelo seguido por milhões
de pessoas. E que, nesta condição, tem a obrigação de inspirar
comportamentos edificantes. Talvez ele até quisesse apenas jogar futebol e não
se tornar um ídolo. Pode ser, mas a verdade é que grandes poderes
trazem grandes responsabilidades. Num país carente como o nosso, castigado
pela fome e o desemprego, é fácil virar ídolo das multidões, principalmente quando
se tem algum talento, especialmente como cantor ou jogador de futebol. A fama,
porém, não é gratuita. Artistas e profissionais de diversa área das artes
precisam entender que não devem ser apenas referências para a sociedade, mas
exemplos positivos. Num momento em que centenas de pessoas morrem diariamente
de Covid-19 e quase 200 mil famílias já enterraram um ente querido, assim, alguém
deveria dizer para este “ídolo”, que qualquer aglomeração é um perigo. O
distanciamento social é comprovadamente a melhor forma de frear a pandemia.
Assim,
fica cada vez mais claro que somos verdadeiramente um país de Macunaímas (o
herói sem caráter, lembram?), pois ao aceitarmos passivamente esse estado de
coisas erradas que aqui acontecem somos, pelo menos, coniventes.
Quando
em 2010 o técnico René Simões chamou Neymar de mostro, ele profetizava o que os
dirigentes e a imprensa vêm fabricando dentro e fora de campo. Não endosso as
palavras do treinador, mas, não posso negar que este comportamento diante de
uma pandemia, é inaceitável para um ídolo que deveria ser referência para toda a
nação. Estamos vivendo uma glamourização do “comportamento desprezível e de
repente”, o bom menino, o herói, o ídolo cantado em versos e prosas, se transforma
num “bad boy” exibindo um comportamento contraditório: ao mesmo tempo em que não
liga para a segurança e a felicidade alheia, fica incomodado quando os outros o
trata da mesma maneira que um pobre mortal. Ele mostrou um lado rebelde, que
vem desgastando sua imagem e fazendo perder patrocínio e respeito das pessoas
que ainda admiram o seu futebol.
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