domingo, 3 de janeiro de 2021

ARTIGO - O corona fest de Neymar (Padre Carlos)

 

O corona fest de Neymar

 


 

            Causou-me uma profunda tristeza ao constatar através das notícias que Neymar estaria preparando uma confraternização de grandes proporções, com direito a cerimonial e shows musicais. O megaevento programado por ele no complexo de sua mansão em Mangaratiba, litoral do Rio de Janeiro, reavivou o debate sobre as festas de fim de ano no Brasil. Quando o país se aproxima da marca de 200.000 mortes por covid-19 e a curva de infectados volta a acelerar perigosamente na maioria dos Estados, nem mesmo celebridades como principal jogador brasileiro em atividade se furtam em promover aglomerações por meio dos tradicionais encontros de Natal e Réveillon.


Não podemos negar que a fama transformou este atleta num modelo seguido por milhões de pessoas. E que, nesta condição, tem a obrigação de inspirar comportamentos edificantes. Talvez ele até quisesse apenas jogar futebol e não se tornar um ídolo. Pode ser, mas a verdade é que grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Num país carente como o nosso, castigado pela fome e o desemprego, é fácil virar ídolo das multidões, principalmente quando se tem algum talento, especialmente como cantor ou jogador de futebol. A fama, porém, não é gratuita. Artistas e profissionais de diversa área das artes precisam entender que não devem ser apenas referências para a sociedade, mas exemplos positivos. Num momento em que centenas de pessoas morrem diariamente de Covid-19 e quase 200 mil famílias já enterraram um ente querido, assim, alguém deveria dizer para este “ídolo”, que qualquer aglomeração é um perigo. O distanciamento social é comprovadamente a melhor forma de frear a pandemia.

Assim, fica cada vez mais claro que somos verdadeiramente um país de Macunaímas (o herói sem caráter, lembram?), pois ao aceitarmos passivamente esse estado de coisas erradas que aqui acontecem somos, pelo menos, coniventes.


Quando em 2010 o técnico René Simões chamou Neymar de mostro, ele profetizava o que os dirigentes e a imprensa vêm fabricando dentro e fora de campo. Não endosso as palavras do treinador, mas, não posso negar que este comportamento diante de uma pandemia, é inaceitável para um ídolo que deveria ser referência para toda a nação. Estamos vivendo uma glamourização do “comportamento desprezível e de repente”, o bom menino, o herói, o ídolo cantado em versos e prosas, se transforma num “bad boy” exibindo um comportamento contraditório: ao mesmo tempo em que não liga para a segurança e a felicidade alheia, fica incomodado quando os outros o trata da mesma maneira que um pobre mortal. Ele mostrou um lado rebelde, que vem desgastando sua imagem e fazendo perder patrocínio e respeito das pessoas que ainda admiram o seu futebol.

 

 

 

 

 

 


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