Appio, que pede a suspensão imediata.
O juiz Eduardo Appio, que assumiu a 13ª Vara Federal de Curitiba
em fevereiro deste ano, foi afastado do cargo na semana passada pelo Conselho
do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), sob a alegação de que ele
teria feito uma ligação intimidatória ao filho do desembargador Marcelo
Malucelli, que se declarou suspeito de julgar processos da Lava Jato por ter
vínculos com o senador Sergio Moro (União Brasil-PR). Appio nega ser o autor do
telefonema e recorreu ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para tentar
reverter a decisão.
A medida
cautelar do TRF-4, que afastou Appio sem sequer instaurar um processo
disciplinar contra ele, é controversa e questionável por vários motivos. Em
primeiro lugar, porque se baseia em indícios frágeis e inconclusivos, como o
acesso do juiz a um processo que continha o contato do filho do desembargador e
a suposta semelhança entre a voz de Appio e a do interlocutor da ligação, que
não foi identificada com certeza pela perícia. Em segundo lugar, porque viola o
princípio da presunção de inocência e o direito ao contraditório e à ampla
defesa, garantidos pela Constituição Federal. Em terceiro lugar, porque revela
uma falta de imparcialidade e isonomia do órgão administrativo, que no passado
absolveu Moro de acusações mais graves, como a divulgação ilegal de
interceptações telefônicas e a importação irregular de provas da Suíça.
O afastamento
de Appio também tem implicações políticas e jurídicas relevantes, pois
interfere na condução dos processos da Lava Jato, que estão sob sua
responsabilidade desde que ele substituiu o juiz Luiz Antonio Bonat, eleito
desembargador federal. Appio é conhecido por ser um magistrado crítico aos
métodos e abusos da operação, tendo anulado decisões de Moro contra o
ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral por falta de imparcialidade. Com
sua saída temporária da 13ª Vara, os processos ficam paralisados ou podem ser
redistribuídos para outro juiz, o que pode gerar novas nulidades e
questionamentos.
Diante desse
cenário, cabe ao CNJ analisar com rigor e celeridade o recurso de Appio, que
pede a suspensão imediata da decisão do TRF-4, a avocação dos expedientes
disciplinares em curso no tribunal e a realização de uma correição
extraordinária na 13ª Vara Federal de Curitiba. Somente assim será possível
garantir a legalidade, a transparência e a independência do Poder Judiciário,
que não pode se submeter a pressões ou interesses políticos ou corporativos.
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