sexta-feira, 12 de maio de 2023

ARTIGO - O que o encontro entre Haddad e o Nobel de economia revela sobre os juros no Brasil. (Padre Carlos)

 


O Banco Central está sufocando o Brasil?





 

O encontro entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o ganhador do Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, no Japão, na semana passada, trouxe à tona uma questão que vem sendo debatida há tempos no Brasil: a política monetária do Banco Central (BC) é adequada para o momento atual da economia brasileira?

 

Stiglitz, que é conhecido por suas críticas ao neoliberalismo e à globalização, não poupou palavras para dizer que o BC está sufocando a economia brasileira ao manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, a maior do mundo em termos reais. Segundo ele, essa taxa é muito alta para um país que precisa crescer e gerar empregos, e que enfrenta uma crise fiscal e política sem precedentes.

 

O economista americano defendeu que o governo Lula está certo em pressionar o BC por uma redução dos juros, e que as condições econômicas do país já permitem uma queda da Selic sem comprometer o controle da inflação. Ele também elogiou a atuação de Haddad à frente da Fazenda, e disse que o Brasil tem potencial para se beneficiar da tecnologia verde e da transição energética global.

 

Mas será que Stiglitz tem razão em sua análise? Ou será que ele ignora os riscos de uma política monetária mais frouxa em um cenário de incertezas e turbulências?

 

Para responder a essa pergunta, é preciso considerar os argumentos do BC e de seus defensores, que sustentam que a manutenção de uma taxa de juros elevada é necessária para ancorar as expectativas de inflação e garantir a credibilidade da autoridade monetária. Eles afirmam que o Brasil ainda enfrenta choques de oferta e demanda que pressionam os preços, e que uma redução prematura dos juros poderia gerar uma desancoragem das expectativas e uma fuga de capitais.

 

Além disso, eles argumentam que a política monetária não é o único instrumento para estimular o crescimento econômico, e que o governo deveria se concentrar em fazer as reformas estruturais necessárias para aumentar a produtividade e a competitividade do país. Eles também alertam para os efeitos colaterais de uma Selic muito baixa, como o aumento do endividamento das famílias e das empresas, e a formação de bolhas especulativas no mercado financeiro.

 

Diante desses argumentos, fica claro que não há uma resposta simples ou consensual para a questão dos juros no Brasil. O que há é um dilema entre dois objetivos legítimos: preservar a estabilidade macroeconômica ou estimular a recuperação da atividade. Cabe ao BC fazer essa escolha com base em critérios técnicos e transparentes, levando em conta os cenários interno e externo.

 

Mas cabe também à sociedade brasileira acompanhar e fiscalizar essa escolha, cobrando do BC coerência e responsabilidade. Afinal, a política monetária afeta a vida de todos os brasileiros, seja na hora de consumir, poupar ou investir. E é por isso que o debate sobre os juros deve ser feito com seriedade e respeito, sem ideologias ou interesses escusos.

 

O Brasil precisa de um BC independente e competente, mas também de um BC sensível e atento às demandas sociais. E precisa de um governo que dialogue com o BC e com a sociedade, buscando construir consensos e soluções para os problemas do país. Só assim poderemos superar a crise atual e retomar o caminho do desenvolvimento sustentável. O Banco Central está sufocando o Brasil?


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