O
Banco Central está sufocando o Brasil?
O encontro entre o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, e o ganhador do Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, no Japão,
na semana passada, trouxe à tona uma questão que vem sendo debatida há tempos
no Brasil: a política monetária do Banco Central (BC) é adequada para o momento
atual da economia brasileira?
Stiglitz, que é conhecido por suas críticas
ao neoliberalismo e à globalização, não poupou palavras para dizer que o BC
está sufocando a economia brasileira ao manter a taxa básica de juros (Selic)
em 13,75% ao ano, a maior do mundo em termos reais. Segundo ele, essa taxa é
muito alta para um país que precisa crescer e gerar empregos, e que enfrenta
uma crise fiscal e política sem precedentes.
O economista americano defendeu que o
governo Lula está certo em pressionar o BC por uma redução dos juros, e que as
condições econômicas do país já permitem uma queda da Selic sem comprometer o
controle da inflação. Ele também elogiou a atuação de Haddad à frente da
Fazenda, e disse que o Brasil tem potencial para se beneficiar da tecnologia
verde e da transição energética global.
Mas será que Stiglitz tem razão em sua
análise? Ou será que ele ignora os riscos de uma política monetária mais frouxa
em um cenário de incertezas e turbulências?
Para responder a essa pergunta, é preciso
considerar os argumentos do BC e de seus defensores, que sustentam que a
manutenção de uma taxa de juros elevada é necessária para ancorar as
expectativas de inflação e garantir a credibilidade da autoridade monetária.
Eles afirmam que o Brasil ainda enfrenta choques de oferta e demanda que
pressionam os preços, e que uma redução prematura dos juros poderia gerar uma
desancoragem das expectativas e uma fuga de capitais.
Além disso, eles argumentam que a política
monetária não é o único instrumento para estimular o crescimento econômico, e
que o governo deveria se concentrar em fazer as reformas estruturais
necessárias para aumentar a produtividade e a competitividade do país. Eles
também alertam para os efeitos colaterais de uma Selic muito baixa, como o
aumento do endividamento das famílias e das empresas, e a formação de bolhas
especulativas no mercado financeiro.
Diante desses argumentos, fica claro que
não há uma resposta simples ou consensual para a questão dos juros no Brasil. O
que há é um dilema entre dois objetivos legítimos: preservar a estabilidade
macroeconômica ou estimular a recuperação da atividade. Cabe ao BC fazer essa
escolha com base em critérios técnicos e transparentes, levando em conta os
cenários interno e externo.
Mas cabe também à sociedade brasileira
acompanhar e fiscalizar essa escolha, cobrando do BC coerência e
responsabilidade. Afinal, a política monetária afeta a vida de todos os
brasileiros, seja na hora de consumir, poupar ou investir. E é por isso que o debate
sobre os juros deve ser feito com seriedade e respeito, sem ideologias ou
interesses escusos.
O Brasil precisa de um BC independente e
competente, mas também de um BC sensível e atento às demandas sociais. E
precisa de um governo que dialogue com o BC e com a sociedade, buscando
construir consensos e soluções para os problemas do país. Só assim poderemos
superar a crise atual e retomar o caminho do desenvolvimento sustentável. O
Banco Central está sufocando o Brasil?
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