Jorge Portugal, poeta e profeta da minha geração.
No curral do mundo, onde a vida segue seu curso impiedoso, existem crianças cujas dores parecem inexprimíveis. O professor, sábio em suas palavras, afirmava que a dor da gente é dor de menino acanhado, menino bezerro pisado. Era assim que descrevia aqueles jovens que, na vastidão do universo, se sentiam impotente e esmagados pelo regime militar.
Esses meninos e meninas, como pássaros enjaulados, tinham suas asas cortadas pelas amarguras cotidianas. As agruras da ditadura, da violência e das torturas lhes roubavam a inocência, deixando marcas profundas em seus corações frágeis. Cada passo dado era uma batalha, cada sorriso uma vitória sobre a dor que os acompanhava.
No entanto, mesmo diante de tanta adversidade, esses pequenos protagonistas jamais se rendiam. Tinham uma resiliência que desafiava o destino cruel imposto a eles. Ainda que acanhados, encontravam forças para seguir adiante, como raios de sol que penetram por entre nuvens escuras.
Eram nas artes e nas manifestações que encontravam um refúgio, uma forma de fugir do peso do mundo que os oprimia. Os sorrisos se espalhavam pelos rostos pintados, revelando uma alegria genuína e contagiante. Por breves instantes, eram crianças livres, livres para sonhar, imaginar e serem donos de um universo próprio.
Na sala de aula, o professor buscava ensiná-los mais do que as lições escritas nos livros. Ensinava-lhes sobre a empatia, sobre o poder de transformação que há no conhecimento. Queria que compreendessem que, apesar das injustiças, podiam trilhar caminhos diferentes, reescrever suas histórias.
E assim, aos poucos, aqueles meninos e meninas acanhados foram se descobrindo como seres únicos e valiosos. A dor que os marcava não definia quem eram, mas sim a força que carregavam dentro de si. Como flores que brotam em terrenos áridos, encontraram sua beleza na adversidade.
Hoje, ao olhar para trás, o professor sorri com orgulho. Cada conquista, cada obstáculo superado, é uma prova de que aqueles meninos e meninas bezerros, outrora pisados, encontraram a coragem de se erguer e transformar o mundo à sua volta. A dor que antes os definia, hoje serve para lembrar uma parte triste da nossa história que os fez fortes.
E assim, o professor continua a repetir, incansavelmente, que a dor da gente é dor de menino acanhado, menino bizerro pisado. Mas também é a dor que se transforma em força, em determinação e em esperança. É a dor que ensina lições preciosas e nos mostra que, mesmo nos lugares mais sombrios, é possível encontrar a luz.
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