quarta-feira, 21 de junho de 2023

ARTIGO - A Importância do Acolhimento e da Compaixão na Jornada dos Técnicos e Enfermeiros. (Padre Carlos)

 

 


Os Técnicos e Enfermeiros recebem o reconhecimento do Papa.

 


            No Hospital Gemelli, em Roma, o Papa Francisco enfrentou nestes dias em que ficou enternado os desafios naturais da idade avançada e de sua condição de saúde. No entanto, durante sua estadia no hospital, ele recebeu uma carta comovente dos técnicos e dos enfermeiros da ala de neurologia pediátrica, que compartilharam as experiências dolorosas vivenciadas no cotidiano de seu trabalho. É um testemunho angustiante presenciar crianças às quais dedicam cuidados partindo para os braços do Pai, deixando um vazio indescritível tanto nas vidas dos profissionais de saúde como naquelas dos pais. Eles carregam consigo cicatrizes indeléveis que os levam a profunda reflexão sobre o sentido da vida.

          Em resposta, o Papa Francisco buscou palavras de consolo e conforto para esses valorosos profissionais. "Vocês são chamados a acompanhar esses pequenos 'anjos' até o limiar de seu encontro com o Senhor", escreveu Francisco. "Vocês são a imagem da Igreja como um 'hospital de campanha', continuando a desempenhar a missão de Jesus Cristo de estar próximo dos que sofrem", enfatizou o Papa. Ele encorajou os enfermeiros a cultivarem a cultura da proximidade e da ternura, transmitindo-lhes coragem para perseverarem em seu nobre trabalho.

          É comum, nesses contextos, apelar para a resignação à vontade de Deus. No entanto, é importante compreender que Deus não é a fonte nem a origem do sofrimento. Pelo contrário, Ele enviou Seu Filho à Terra para que todos tenham vida e a tenham em abundância, como nos ensina a passagem do livro de João: "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (Jo 10, 10).

          Não devemos afirmar a ninguém, principalmente às crianças, que Deus deseja que sofram. A origem do sofrimento é outra, e, portanto, devemos suplicar a Deus que nos ajude a combatê-lo. A responsabilidade está em nossas mãos, como seres humanos, de agir com empatia, solidariedade e compaixão diante do sofrimento alheio.

         Os enfermeiros da ala de neurologia pediátrica do Hospital Gemelli são exemplo disso. Eles são verdadeiros heróis, dedicando-se incansavelmente ao cuidado dessas crianças vulneráveis, enfrentando a dor e a perda diariamente. Eles merecem todo o nosso reconhecimento e apoio.

         A carta enviada pelos profissionais da área da saúde ao Papa Francisco revela a complexidade emocional que enfrentam em seu trabalho. Os sentimentos de impotência e tristeza diante do sofrimento são profundamente marcantes. No entanto, também há beleza e significado em seu trabalho, pois têm o privilégio de serem os últimos a acompanhar esses pequenos seres até o limiar de sua jornada terrena.

          Nesse sentido, é fundamental que sejam apoiados e amparados em sua trajetória profissional. A atenção à saúde mental desses enfermeiros é crucial para que possam enfrentar os desafios diários e encontrar resiliência diante das adversidades. Os hospitais e instituições de saúde devem fornecer recursos e suporte adequados para garantir o bem-estar desses profissionais, oferecendo programas de aconselhamento, grupos de apoio e treinamentos sobre cuidados emocionais.

      Aqui no Brasil estes profissionais vem enfrentando todo tipo de discriminação para receberem um salário justo. Não basta o Supremo admitir o salário base destes profissionais, é preciso  que a sociedade como um todo  reconheça a importância do trabalho dos enfermeiros e valorize suas contribuições. Muitas vezes, esses profissionais são subestimados e não recebem o reconhecimento merecido por sua dedicação e sacrifício. É essencial que sejam celebrados como verdadeiros heróis da linha de frente, pois estão na linha de frente do cuidado e consolo para aqueles que sofrem.

          O exemplo dado pelo Papa Francisco ao responder à carta dos enfermeiros é inspirador. Suas palavras de encorajamento e reconhecimento elevam a importância desses profissionais e ressaltam a missão de estar daqueles que enfrentam o sofrimento. Ao destacar a necessidade de cultivar a cultura da proximidade e da ternura, o Papa recorda a todos nós a importância do acolhimento e da compaixão em momentos de dor.

          Enfrentar o sofrimento humano é um desafio que devemos abraçar como sociedade. Cada um de nós tem o poder de fazer a diferença na vida daqueles que passam por momentos difíceis. Seja através de um gesto de solidariedade, uma palavra de conforto ou um apoio prático, podemos ajudar a aliviar o fardo dos que sofrem.

          É preciso lembrar que a jornada desses profissionais é árdua e emocionalmente exigente. Eles estão diante de situações que desafiam a própria compreensão da vida e da morte. Portanto, é necessário que recebam o apoio não apenas da comunidade, mas também das autoridades de saúde e das instituições religiosas, para que possam continuar desempenhando sua missão com dedicação e resiliência.

          Em tempos de dor e perda, a presença de enfermeiros compassivos pode trazer conforto e esperança para aqueles que mais precisam. A carta enviada pelos enfermeiros da ala de neurologia pediátrica ao Papa Francisco é um lembrete poderoso de que o cuidado e a compaixão são fundamentais em nossa jornada como seres humanos. Que possamos aprender com eles e cultivar a cultura da proximidade e da ternura em nossa própria vida, trazendo alívio e consolo para aqueles que enfrentam momentos difíceis.

          Diante do sofrimento, não podemos resignar-nos à vontade de Deus, mas sim buscar ativamente formas de combater o sofrimento e oferecer apoio àqueles que o enfrentam. Somente assim poderemos criar um mundo onde a vida seja valorizada e onde a compaixão seja a força que nos une em tempos de dificuldade.

 

 


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