Roubaram minha alma
Socorro, pega ladrão pega.. Alguém viu por aí alguém correndo com uma alma nas mãos,
quem encontrar, agarrem esse ladrão!
Gritem! Chamem a polícia! Por favor! Alguém
roubou minha alma e eu não sei quem foi. Não dei por falta. Só agora estou dando falta . Ficou um buraco tão
grande dentro de mim, como se me tivessem levado também as minhas entranhas,
como se me tivessem levado a minha vontade de viver!
Não sei mais o que
faço, já tentei gritar, mas a voz não sai da minha boca. Já tentei pedir ajuda,
mas não consigo articular as palavras. Há outra aqui em casa que é igual a
minha e sai todos os dias para trabalhar. Mas também ela não diz nada e não
me ouve quando lhe grito e pergunto: -Quem é você? Se eu estou aqui preso? Quem é você que
anda fingindo que eu estou vivo?
Mas ela não me ouve e
senta no sofá olhando para a televisão desligada e ali fica como se
tivesse no automático até o dia
amanhecer . Quem levou a minha alma? Era
nela que eu guardava todos os meus tesouros! Os risos dos meus filhos, os
joelhos esfolados, as mulheres que não amei, aquelas que amei, as lágrimas que
chorei e os risos e gargalhadas que fingi sempre, mas sempre. Como diz o poeta:
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Agora sou órfão de
tudo. De memórias, de saudades, de ventos que me acariciaram o rosto, estou
certo que isto aconteceu, nos momentos meigos e ternos e doces, que devo ter
tido. Assim acredito.
Agarrem essa malandra
que me roubou! Digam-lhe que eu perdoo tudo, mas que me devolva a mim mesma, o
que eu era. Coitado dele ou dela, acreditam que roubaram algo de valor, algo de
raro e fantástico e afinal de contas, levaram uma alma tão velha, tão usada!
Que antes desta vida tive outras e nenhuma delas conseguiram me fazer feliz.
Padre Carlos
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