O necropoder e as políticas neoliberais
Nestes últimos dias, venho intensificando minhas leituras
em um tema que tenho certeza que está relacionado com os fatos políticos e econômicos
que vem dominando nossa agenda. Esta temática tem como abordagem filosófica a necropolíticas.
Necro é o termo grego para ‘morte’. As políticas neoliberais são
políticas de morte, políticas públicas de extermínios. Não tanto porque os
governos nos matam com sua polícia, mas porque deixam morrer pessoas com suas
políticas de austeridade e exclusão. A fase mais perversa do neoliberalismo vem
acompanhada da filosofia do soberano, nela o estado exerce o controle sobre a
mortalidade e seu papel é definir a vida como a implantação e manifestação de
poder. Logo, neste sentido, a soberania é a capacidade
de definir quem importa e quem não importa, quem é descartável e quem não é.
Só assim, podemos
entender porque as políticas públicas não chegam aos excluídos, e choca
qualquer analista ao constatar, porque o governo deixa morrer os dependentes,
os sem-teto, os doentes crônicos, as pessoas nas listas de espera. Porque os
corpos que não são rentáveis para o capitalismo neoliberal, que não produzem
nem consomem, são deixados para morrer. Não podemos esquecer que este conceito do
soberano, se encontra no biopoder (M. Foucault) que remete para o poder de
gerir a vida e a morte, separando biologicamente os que merecem viver e os que
merecem morrer, neste sentido, numa economia do biopoder a função do racismo do
ódio aos excluídos e as minorias é regular a distribuição da morte e tornar
possível a função assassina do Estado.
O poder neoliberal faz
com que os incluídos não confiem nos Excluídos, que os vejam como estranhos,
diferentes, desagradáveis e não se solidarizem com eles.
Queremos chamar atenção
para a semelhança desta filosofia com algumas propostas de estrema direitas do
início do século passado. A grande dificuldade de enfrentar as propostas necropolíticas
dos governos é devido à exclusão, porque as pessoas que ainda não estão
excluídas não se identificam com os excluídos. Pensam “este não sou eu”, “isso
não vai acontecer comigo. Não se deixam identificar com aquele que sofre, não
tem empatia radical. Na realidade, quando você fecha os olhos para as mortes
que são produzidas por este sistema, se torna a mão do carrasco com a sua
neutralidade e omissão. Não podemos esquecer jamais, que as consequências das
políticas da necropolíticas afetam a todos.
Padre Carlos
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