Quando não há mais amor
Não é de um momento
para outro que percebemos que o amor morreu. Sabemos e
sentimos desde o primeiro instante, mas fechamos os olhos, fechamos o coração,
fechamos a alma e à dor como se quiséssemos deletar, apagando assim, estas
certezas das nossas vidas.
E pouco a pouco o
silêncio vai se instalando na nossa mesa
e na nossa cama. O afastamento de dois seres que um dia foram um só, vai se
apagando como uma vela, como uma vida que foi exaurida. E neste silêncio cabe
tudo! As memórias que foram boas e que vão se transformando em decepções, e as
que foram más terminam se tornam terríveis.
Não há mais espaço para
nada! O amor só sobrevive se houver carinho, trocas de palavras às vezes em tom
elevado, outras ao ouvido. O amor precisa de justiça como de oxigénio. Temos
que dar e receber. Necessitamos do ombro do outro de forma que ele fica sabendo sem que eu precise falar qualquer palavras.
E quando morre, o amor
não deixa migalhas, não deixa doçura, só mesmo uma raiva surda que vai
crescendo diariamente e consumindo todas
as nossas energias. Só o silêncio se mantém. Como se ambos estivessem em um
velório onde o incómodo de não saber o que fazer com este corpo que um dia foi
doce, profundo, desejando com todo o
instinto possuir aquela carne..
Com um sorriso na cara,
nos apresentamos perante os outros, todos os outros. Porque na verdade não há
nada para dizer que alguém possa compreender.
Os dias passam.
Arrastam-se. Cumprem-se as obrigações familiares e sociais.
E, um dos dois, por
vezes ambos, têm cada vez mais os olhos opacos, sem vida, sem esperança.
As pessoas dizem que
com a idade o amor se transforma em amizade.
Que disparate! O amor é
amor! É a urgência do corpo do outro, do sorriso do outro, da história em comum
que só eles sabem. Quantas pessoas neste país não vivem neste inferno,
unicamente porque não têm condições financeiras para se separarem? Ou condições
sociais porque há sempre o peso que vem de fora e julga sem conhecer e entender
a realidade do outro.
Porque somos todos
iguais. Apenas alguns fingem melhor do que os outros.
Padre Carlos
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