sábado, 25 de maio de 2019

ARTIGO: Quando não há mais amor


Quando não há mais amor



            Não é de um momento para  outro que  percebemos que o amor morreu. Sabemos e sentimos desde o primeiro instante, mas fechamos os olhos, fechamos o coração, fechamos a alma e à dor como se quiséssemos deletar, apagando assim, estas certezas das nossas vidas.
            E pouco a pouco o silêncio vai se  instalando na nossa mesa e na nossa cama. O afastamento de dois seres que um dia foram um só, vai se apagando como uma vela, como uma vida que foi exaurida. E neste silêncio cabe tudo! As memórias que foram boas e que vão se transformando em decepções, e as que foram más terminam se tornam terríveis.
            Não há mais espaço para nada! O amor só sobrevive se houver carinho, trocas de palavras às vezes em tom elevado, outras ao ouvido. O amor precisa de justiça como de oxigénio. Temos que dar e receber. Necessitamos do ombro do outro de forma que ele  fica sabendo  sem que eu precise falar qualquer palavras.
            E quando morre, o amor não deixa migalhas, não deixa doçura, só mesmo uma raiva surda que vai crescendo diariamente  e consumindo todas as nossas energias. Só o silêncio se mantém. Como se ambos estivessem em um velório onde o incómodo de não saber o que fazer com este corpo que um dia foi doce, profundo,  desejando com todo o instinto possuir aquela carne..
            Com um sorriso na cara, nos apresentamos perante os outros, todos os outros. Porque na verdade não há nada para dizer que alguém possa compreender.
            Os dias passam. Arrastam-se. Cumprem-se as obrigações familiares e sociais.
            E, um dos dois, por vezes ambos, têm cada vez mais os olhos opacos, sem vida, sem esperança.
            As pessoas dizem que com a idade o amor se transforma em amizade.
            Que disparate! O amor é amor! É a urgência do corpo do outro, do sorriso do outro, da história em comum que só eles sabem. Quantas pessoas neste país não vivem neste inferno, unicamente porque não têm condições financeiras para se separarem? Ou condições sociais porque há sempre o peso que vem de fora e julga sem conhecer e entender a realidade do outro.
            Porque somos todos iguais. Apenas alguns fingem melhor do que os outros.
Padre Carlos

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