sábado, 15 de junho de 2019

ARTIGO | A tolerância como inimiga (Padre Carlos)





A tolerância como inimiga

            Quando estudamos filosofia, nos deparamos com alguns questionamentos: Em uma sociedade democrática pode existir espaço, onde é legítimo dizer ou fazer tudo em nome da liberdade individual?
            No sábado, em Sófia, Bulgária, cerca de duas mil pessoas desfilaram ostentando suásticas e símbolos dos SS nazis. Este não foi um fato isolado: na última década o extremismo ideológico proliferou em todo o Ocidente, transformando situações supostamente isolada e sem grande impacto de pequenos grupos numa rede política, onde encontramos forte apoio financeiro de setores da sociedade. Seu grande objetivo é a criação de uma rede de partidos nacionalistas - uma primavera mundial de extrema direita.
   
         Alguns desses grupos ativos não encontraram penetração no sistema político; outros, disfasado com uma nova roupagem, adquiriram presença parlamentar (Frente Nacional francesa, Alternativa para a Alemanha, Aurora Dourada grega, Jobbik húngaro, Vox espanhol, MBL no Brasil; outros, ainda, integrando governos (Liga Norte italiana, Partido do Povo Dinamarquês, Akel, cipriota).
            Sob o totalitarismo extremista de Direita, os discursos de ódio proliferam atacando os fundamentos do Estado democrático com picos de violência brutal como as "caçadas aos imigrantes" nas ruas da cidade alemã de Chemnitz. Os partidos do eixo democrático retraem-se e os extremismos ganham confiança em cada investida perante a incapacidade ou complacência de quem devia atuar denunciando estes crimes, infelizmente nos deparamos sempre com uma Imprensa leviana.
            A tolerância é um valor central das sociedades democráticas, um pilar dos direitos humanos. Nesse sentido, podemos afirmar que  não há liberdade individual fora de uma "sociedade aberta", pois é através da prática democrática e das leis que a consagram e protegem que a convivência e a liberdade se estruturam. As democracias são sociedades plurais que tem dentro do seu seio os conflito de interesses e ideias, onde, inclusive, tendências antidemocráticas podem encontrar espaço. Como filósofo, podemos afirmar que o aparente paradoxo da intolerância tem suas raízes aqui: uma postura de atentado das liberdades individuais e por isto, devemos combater de forma aberta para serem contidas em nome da tolerância.
       
     Os limites da tolerância residem, em primeiro lugar, na rejeição da intolerância, na não conivência com o intolerável. A democracia não é compatível com o absolutismo autoritário, nem com o relativismo onde tudo vale. O Estado democrático não é neutro, mas é imparcial e justo.

Padre Carlos


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