quinta-feira, 20 de junho de 2019

ARTIGO | A UNE e Valdélio (Padre Carlos)




A UNE e Valdélio


            No final da década de 70, militava no PCdoB e confesso a vocês, eram anos difíceis vivíamos sobre forte vigilância dos órgãos de informação e o movimento estudantil passava a representar uma forte oposição ao regime militar.  O presidente João Batista de Figueiredo anunciava naquele ano a chamada “abertura democrática”. E, mais uma vez, o movimento estudantil estava à frente nesse processo, tínhamos a maior liderança ao nosso lado: Valdélio Santos Silva, estudante de Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia.
      
       Aproveitando essa conjuntura de abertura política, buscamos iniciam um processo de rearticulação do movimento estudantil e dos movimentos populares. Além de recriarmos vários grêmios e diretórios acadêmicos pelo Brasil afora, os estudantis tiveram um papel fundamental no surgimento de movimentos sociais de caráter econômico, como o Movimento Contra Carestia, que aqui na Bahia tinha sido protagonizado por uma companheira de partido Marta Vasconcelos. Lutávamos por creches, jornais  independentes, entidades de caráter racial, associação de profissionais liberais, todos com caráter amplo, reivindicatório e democrático. Apesar dessa movimentação nos diversos setores oprimidos da sociedade é o movimento estudantil o primeiro a ir para as ruas lutar pelas liberdades democráticas e exigir anistia aos presos políticos.
            No entanto ainda persistia um esquema de perseguição política. Congresso da UNE de Ibiúna, ainda estava presente no inconsciente daquela juventude e todas as vezes que tomávamos a rua para protestar éramos violentamente reprimidos com cassetetes, gás lacrimogêneo e cães.
            O ano 1979 teve dois grandes eventos para o nosso grupo, as divergências com o Comitê Central, sobre a guerrilha do Araguaia e a consolidação do movimento estudantil. Durante três dias, conseguimos reunir aqui na Bahia mais de 10 mil estudantes, de todas as partes do Brasil e realizamos aquilo que todos os grupos diziam que era impossível: a reconstrução da UNE.
             Não podemos negar a importância do governador Antônio Carlos Magalhães. Apesar de o carlismo representar até hoje o que existe de mais atrasado na política e ser representante de uma oligarquia, neste acontecimento histórico, representou a modernização da sociedade baiana. Sabemos como as elites tem capacidade de identificar quando o vento esta mudando.
     
       O apoio de Antônio Carlos Magalhães e chamando para si a responsabilidade do estado da Bahia foi o que proporcionou a organização do Congresso.
            Apesar do Presidente da Une ter sido escolhido entre o grupo da Bahia, não foi possível colocar Valdélio. Um negro na UNE representava um escândalo e ainda representa nos dias de hoje.

Padre Carlos

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