segunda-feira, 17 de junho de 2019

ARTIGO | Meu legado, meus amigos! (Padre Carlos)





Meu legado, meus amigos!

            Os dias se entrelaçam uns nos outros. Como teias de arranha. Como o fio que se dobra e se perde a ponta do carretel de linha e ninguém consegue descobrir.  As noites são tão longas que parecem não ter fim. O tique-taque do relógio acompanha as batidas do meu coração num silêncio terrível. Escuro e profundo.  É assim a vida sem sonhos é assim a vida sem utopia.
       
     É assim que nos sentimos quando baixamos os braços e temos a certeza de que não há força alguma capaz de nos mover, que a inercia do corpo acompanha a dança da alma. A solidão pesa no corpo como um casaco molhado. Com todo o peso dos amores que perdemos e dos sonhos que abandonamos, a sensação é de jogar a toalha como se quiséssemos dizer para o juiz que a luta acabou e seu oponente ganhou.   Mesmo quando estamos acompanhados, nos sentimos sós.
            Quando estamos profundamente tristes, a única salvação para minha alma é a amizade. Pensava que seria o amor, mas este pede para comparar, para medir, pede explicações e exige saber se o que demos é igual ao que recebemos. E depois de todas as contas, no amor saímos sempre perdendo. Mas a amizade, quando é pura, quando é verdadeira, é o melhor remédio para encontrar motivos de continuar existindo. Basta saber que contamos com alguém. Que existe um ser humano a quem podemos procurar qualquer hora às vezes de madrugada só para dizer da dor do vaio que queima a nossa alma.
             Um gesto enorme um ombro amigo alguém que me escuta e entende a minha dor. As ilusões perdidas. A saudade do que fomos um dia e a lembrança dos amores que se perderam no tempo. A amizade é outra forma de amor. Talvez a mais perfeita de todas as formas e de todos os amores. É gostar de alguém a tal ponto que nos esquecemos de nós. É aceitar o outro  reconhecendo todos os defeitos e mesmo assim estar lá ao seu lado. Estar sempre disponível.
        
    Os dias passam por mim como um filme e em breve completarei sessenta anos e quanto mais vivo neste mundo, tenho consciência da necessitam da amizade tanto como do ar que respiramos.

Padre Carlos

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